Na última sexta-feira (2), a Polícia Civil concluiu as investigações acerca do caso de agressão e injúria racial ocorrido em Dourados (MS), no início de agosto. As autoridades confirmaram que o investigado cometeu os crimes de injúria racial e lesão corporal leve contra o nigeriano Sikiru Balogun.
“A conclusão deste inquérito policial ocorreu no sentido da responsabilização criminal do investigado pelo crime de injúria racial e pela contravenção de vias de fato”, aponta Lucas Albé Veppo, delegado responsável pelo caso.
Agora, os autos serão encaminhados ao Poder Judiciário e ao Ministério Público, que deve avaliar. Caso o Ministério Público concorde com a decisão, o investigado poderá ser denunciado pelos delitos e processado criminalmente.
Entenda o caso
O crime aconteceu no dia 3 de agosto, em um supermercado de Dourados (MS). Na ocasião, o nigeriano Sikiru Balogun, de 48 anos, professor doutor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), sofreu agressões verbais e físicas ao defender seu filho de 6 anos de uma acusação de roubo, feita pelo acusado e sua esposa.
De acordo com o boletim de ocorrência, Sikiru fazia compras com a família e, em determinado momento, pediu para que o filho cuidasse de um carrinho de compras na fila do caixa, que acreditava ser o seu.
Quando retornou, o menino de 6 anos estava com lágrimas nos olhos. Um dos clientes do supermercado informou que uma mulher teria pego o carrinho e dado um tapa na criança. Quando questionado, o menino afirmou que a mulher também o acusou de roubo.
O professor conseguiu identificar a mulher, que estava acompanhada do marido, e decidiu se explicar, já que quem pegou o carrinho errado acidentalmente foi ele.
Um idoso de 61 anos, marido da mulher, entrou na discussão. O casal chamou Sikiru e seu filho de “pretos”, em tom ofensivo, e o idoso chegou a dar um soco no rosto do professor. As agressões foram gravadas por câmeras de segurança e por testemunhas que estavam no local e encaminhadas à polícia.
Os envolvidos foram encaminhados à Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac).
Em sua defesa, a mulher afirmou não ter agredido a criança, mencionando que apenas retirou as mãos dele do carrinho. Segundo ela, ela já teria sido roubada “por esse tipo de gente”, se referindo a pessoas estrangeiras.
O autor pagou fiança no valor de R$1.212 e foi liberado até a conclusão das investigações.
Discriminação racial
Conforme apurado pelo Correio do Estado anteriormente, os crimes de discriminação racial cresceram 30% em Mato Grosso do Sul nos primeiros sete meses deste ano, em comparação ao mesmo período de 2021.
Conforme o índice de casos registrados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), o número de casos classificados como injúria racial, que está amparado pelo artigo 140, inciso 3º, do Código Penal Brasileiro, saltou de 169 nos sete primeiros meses de 2021 para 221 em igual período deste ano.
O número de ocorrências classificadas como injúria qualificada por elementos de discriminação permaneceu na casa dos 300 registros durante os três anos analisados.
O ano de 2019 aparece em primeiro lugar no ranking de registros, com 366 casos catalogados. Em 2020, o número baixou suavemente, para 305, e voltou a subir em 2021, para 325 casos.
FONTE: CORREIO DO ESTADO