Um dos principais estados da atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios, em Mato Grosso do Sul, o grupo comandava de advogados a policiais e outros atores envolvidos com a segurança pública.
Isso é o que mostra o fio de operações que foram realizadas no Estado desde o início deste ano.
Ontem (5), a quinta ação, que teve como alvos membros do grupo, foi atrás de um policial penal lotado no Presídio Gameleira I, em Campo Grande, o qual estaria repassando informações internas do sistema penitenciário estadual para a facção criminosa.
A operação, chamada de Bilhete, foi deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), que faz parte do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS).
A ação cumpriu dois mandados de prisão preventiva, cinco mandados de busca e apreensão e três mandados de medidas cautelares diversas à prisão. Ela envolveu integrantes do PCC e alvos da Operação Omertà.
Sobre o policial penal, o MPMS afirma que, além de repassar informações, ele fazia o fornecimento de aparelhos celulares, inclusive para operacionalização de homicídios de outros policiais penais.
As mensagens transmitidas pelo agente público, constitucionalmente responsável pela segurança dos estabelecimentos penais, eram enviadas por integrantes da organização criminosa alvo da Operação Omertà, bem como por integrantes da facção.
O nome da operação faz alusão ao meio utilizado pelos presos para transmissão de ordens para o mundo externo, com o apoio do policial penal.
O Ministério Público não deu mais detalhes sobre a atuação realizada na Capital.
COURRIER
Esta não foi a primeira ação que combateu as ações da organização criminosa em Mato Grosso do Sul. A primeira grande operação do ano ocorreu em março, e os alvos foram advogados que atuavam para membros da organização e que, de acordo com o Ministério Público, desenvolviam ações além do dever da profissão.
A investigação, denominada Courrier, apontou que houve a formação de um núcleo chamado de Sintonia dos Gravatas, como uma célula da organização criminosa, da qual os alvos da operação participavam.
Dentro desse núcleo, os advogados utilizam de suas prerrogativas para transmitir recados de presos a outros integrantes da facção, assim como recados de fora para os faccionados presos.
Entre os recados, os investigados levavam informações referentes a planejamento de atentados contra a vida de agentes públicos, entre os quais um promotor do Gaeco e um juiz da Capital.
Um ex-funcionário do Poder Judiciário também foi alvo, segundo as investigações. Ele teria passado senhas de sistemas internos para esses advogados, que, com essas informações, conseguiam saber sobre transferências de presos antes de elas ocorrerem.
Em abril, uma segunda operação sobre os Sintonias dos Gravatas foi feita, com maior foco nos advogados envolvidos com o PCC. Ao todo, 67 mandados de prisão e 35 de busca e apreensão foram cumpridos em Campo Grande, Dourados, Amambai, Bela Vista, Corguinho, Maracaju, Naviraí, Nova Andradina e Rochedo.
Outras duas operações sobre integrantes do grupo, além da realizada ontem, foram deflagradas em Mato Grosso do Sul por corporações policiais diferentes, ambas em agosto.
No começo do mês, a Polícia Federal fez a Operação Anjos da Guarda, com o objeto de frustrar um plano de fuga das principais lideranças do PCC.
A ação foi realizada em Campo Grande, Três Lagoas, São Paulo, Presidente Prudente, Santos e Brasília.
Já no fim do mês, o Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) agiu contra a facção para barrar plano de atentado contra agentes de segurança.
SAIBA
Sobre o envolvimento de agentes da segurança pública de Mato Grosso do Sul com uma das principais organizações criminosas do País, a reportagem tentou contato com o secretário de Justiça e Segurança Pública do Estado, Antônio Carlos Videira, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
FONTE: CORREIO DO ESTADO