Crianças e adolescentes compõem a maioria dos casos de estupro registrados neste ano em Campo Grande.
De janeiro até o dia 6 de setembro, 185 crianças de até 12 anos e 78 adolescentes entre 13 e 17 anos sofreram violência sexual na Capital. Nesse período, um estupro de criança ou de adolescente foi registrado por dia na cidade (foram 263 casos em 249 dias).
Os dados são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), e o número de crianças de até 12 anos violentadas sexualmente representa 52,25% dos 354 casos de estupro registrados na Capital de 1º de janeiro até o dia 6 deste mês.
Em seguida, os adolescentes aparecem em 22,03% dos casos registrados.
Um dos casos mais recentes em Campo Grande foi registrado na noite do dia 6. Conforme consta no boletim de ocorrência, uma adolescente foi estuprada enquanto ia ao mercado.
A vítima saiu de casa por volta das 20h30min e, enquanto se dirigia ao estabelecimento, foi abordada por um motociclista.
O homem ofereceu carona à jovem, os dois conversaram e ela aceitou. Para ir ao mercado, o motociclista precisava apenas descer a rua, o que não aconteceu. Ele entrou em um terreno baldio, imobilizou a jovem e a violentou. Na fuga, ele também roubou o celular da vítima.
Muito abalada, a jovem gritou por socorro e foi amparada por moradores de uma casa ao lado do terreno, que acionaram a Polícia Militar. Os militares fizeram rondas em busca do suspeito no local, mas ele não foi encontrado.
A vítima foi levada para a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). O caso agora será enviado para a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), responsável por continuar as investigações.
Nesta semana, o caso de maior repercussão ocorreu no interior do Estado. O psicólogo Jorge Zacarias, 63 anos, foi preso na terça-feira, em Dourados, por estuprar uma adolescente de 15 anos, que era sua paciente.
A denúncia foi registrada na Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM) de Fátima do Sul, cidade em que a vítima reside. Segundo ela, os abusos começaram há mais de dois meses, mas ficaram mais intensos no dia 26 de agosto, data em que ela denunciou o crime à família e decidiu levar o caso à polícia.
O psicólogo, especializado em hipnoterapia educativa, tentava aplicar as técnicas nas vítimas e se aproveitava das situações de fragilidade para cometer os abusos.
Ele chegava a afirmar que ninguém acreditaria nas vítimas, já que era a palavra dele contra a delas.
No início das investigações, foi identificada uma outra ocorrência contra Zacarias, registrada em 2013, acusando-o de estupro. Foi a partir daí que a delegada Gabriela Vanoni, que investiga o caso, solicitou a prisão do suspeito.
O psicólogo deve ficar preso temporariamente por 30 dias.
Depois que o caso se tornou público, mais duas mulheres foram à delegacia para fazer denúncias contra o psicólogo. A polícia também procura por outras vítimas, que relataram ter sido abusadas por Jorge Zacarias em suas redes sociais.
BRASIL
De acordo com o balanço do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em âmbito nacional, a cada 10 minutos uma menina ou uma mulher foi estuprada no Brasil em 2021, considerando apenas os casos que chegaram às autoridades policiais.
No ano passado foram registrados 56.098 boletins de ocorrência de estupros, incluindo de vulneráveis, apenas do gênero feminino.
Se entre 2019 e 2020 houve uma queda de 12,1% nos registros de estupro de mulheres no País, entre 2020 e 2021 houve crescimento de 3,7% no número de casos.
TAXA
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados em junho deste ano, apontam que Campo Grande é a capital com a maior taxa de estupro no País, com 80,2 casos a cada 100 mil habitantes.
Em todo o ano passado, 735 ocorrências foram registradas no município. Para se ter uma ideia, capitais com densidade populacional semelhante à da Cidade Morena, como Natal (RN) e Teresina (PI), têm uma taxa de 17,7 e 40,3 casos a cada 100 mil habitantes, respectivamente.
Em números absolutos, Campo Grande aparece como a terceira capital do Brasil que mais registrou estupros no ano passado. O número é inferior apenas a São Paulo e Rio de Janeiro, com 2.339 e 1.600 casos, respectivamente, em 2021.
De 2020 para 2021, houve um crescimento de 5,6% nos casos de estupro na Capital, de 696 para 735 ocorrências. Em 2019, foram computados 673 casos.
SINAIS DE VIOLÊNCIA
Conforme a psicóloga Izabelli Coleone, os pais precisam ficar atentos a qualquer sinal de mudança no comportamento dos filhos. Atitudes retraídas, dificuldade na comunicação e isolamento podem ser alguns dos sinais de abuso sexual.
“Quando uma criança entra em sofrimento, independentemente da razão, vemos mudanças no comportamento. Às vezes ela pode ficar mais retraída, recusar o toque ou ter receio de ficar sozinha se o abusador, por exemplo, faz parte do convívio familiar”, disse a especialista.
Para a psicóloga, o fato de crianças e adolescentes serem as principais vítimas estaria relacionado a distúrbios dos agressores.
“Não parte só da vulnerabilidade [por serem menores], também estaríamos falando de pessoas que já possuem um certo distúrbio, o qual se direciona à violência contra crianças e adolescentes”, afirmou Izabelli.
“A vulnerabilidade vem, talvez, pela dinâmica de crianças serem mais inocentes e irem pelo desejo material, da comida, e alguns pela necessidade do afeto. Mas também tem os que são vulneráveis psicologicamente”, completou.
ESTADO
Conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, Mato Grosso do Sul é o 10º estado no ranking de estupros registrados em 2021, com 2.455 ocorrências registradas. Apenas neste ano, segundo dados da Sejusp, 1.225 crimes deste tipo aconteceram em MS, uma média de cinco casos por dia.
A cada 24 horas, duas crianças são estupradas em Mato Grosso do Sul. De janeiro a maio deste ano, 575 casos de abuso sexual foram registrados contra menores de 12 anos.
ATENDIMENTO
Na Capital, a Casa da Mulher Brasileira oferece um atendimento humanizado às mulheres vítimas de violência doméstica. A instituição, gerida pela Prefeitura de Campo Grande, em parceria com governo federal e governo do Estado, foi a primeira do País a ser implementada e é referência nacional.
O local conta ainda com acolhimento e triagem, apoio psicossocial, Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Juizado da 3ª Vara, Promotoria, Defensoria Pública e Serviço de Promoção de Autonomia Econômica.
A infraestrutura também tem espaço de cuidado para as crianças, brinquedoteca, alojamento de passagem, central de transportes, patrulha Maria da Penha e o Programa Mulher Segura MS (Promuse).
SAIBA
A denúncia de violência doméstica pode ser feita em qualquer delegacia, com o registro de um boletim de ocorrência, pela Central de Atendimento à Mulher, no telefone 180, ou pelo 190 da Polícia Militar. A denúncia é anônima e gratuita, disponível 24 horas em todo o País.
FONTE: CORREIO DO ESTADO