A segunda quadrilha especializada em tráfico de cocaína investigada pela Polícia Federal, no bojo da Operação Sordidum, deflagrada na semana passada, tinha como líder um homem aparentemente comum, mas que chegou a fazer uma sessão de tortura após receber um cheque sem fundos.

Apesar de se portar como empresário, o chefe de uma organização criminosa voltada para o tráfico de drogas para os grandes centros do País, que morava em Dourados, chegou a torturar um homem que lhe devia dinheiro.

Segundo a investigação da Polícia Federal, o traficante mantinha armazenado um arquivo de vídeo onde mostra com detalhes a sessão a que impôs a vítima.

 “Aparentemente ele emprestou dinheiro a júros a uma pessoa que demorou a fazer o pagamento e chegou a emitir um cheque sem fundos”, contou o delegado da PF Lucas Vilela, que coordenou a ação da semana passada.

Em razão disso, ele teria levado essa pessoa para uma de suas propriedades e a torturou.

“Ele fez o que a gente chama de roleta russa. Ele girava o tambor do revólver e fazia disparos, ou simulava disparos. E, depois de um tempo, ao final da sessão, ele cortou o dedo menor do torturado”, completou o delegado.

INVESTIGAÇÃO

Na semana passada, a PF deflagrou duas operações conjuntas com o objetivo de desmantelar três organizações criminosas que atuam no tráfico de cocaína na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Para isso foram feitas as operações Sordidum e Prime.

O primeiro grupo, segundo matéria publicada pelo Correio do Estado nesta segunda-feira (20), era comandado por um ex-piloto do tráfico, que morava no interior de Goiás, mas que lavava o dinheiro ilícito em empresas de fachada em Ponta Porã e também com doleiros paraguaios.

Foi a partir deste grupo, que as investigações chegaram  no personagem da matéria de hoje. De acordo com a PF, na análise do primeiro grupo identificou-se relações de amizade e comerciais com o líder desta segunda organização.

Conforme o delegado, o chefe do grupo era especializado no modal rodoviário para distribuir a cocaína. A droga saía da “região de Ponta Porã, Pedro Juan Caballero, e aí ele distribuía para os grandes centros urbanos do país”, contou o delegado.

DOWNFALL

O megatraficante morou muito tempo em Maringá (PR), onde já havia sido alvo de outra investigação, que culminou na Operação Downfall. A ação foi comandada pela PF do Paraná e investigou quadrilha que enviava drogas para a Europa.

O grupo escondia o entorpecente com a ajuda de mergulhadores nos cascos dos navios e quando a cocaína chefe nos portos europeus ela era retirada por outro grupo.

Quando morava no interior paranaense, o traficante era responsável pela logística para o grupo investigado na Downfall.

“Ele garantia o transporte da droga ali da região da fronteira para os grandes centros urbanos”, contou o delegado.

Alvo da operação  do Paraná, que foi deflagrada em maio do ano passado, o traficante fugiu para o Paraguai, mas teria se mudado para Dourados após “a poeira baixar”.

Em Mato Grosso do Sul, o “empresário” fazia o tráfico por meios rodoviários e a PF chegou a identificar que em dois meses o seu grupo chegou a movimentar 300 quilos de cocaína em seis carregamentos que foram enviados para grandes centros.

Diferente do primeiro grupo investigado na Operação Sordidum, que comprava a droga de carteis colombianos e enviava a cocaína para países da América Central, de onde possivelmente a droga seguia para os Estados Unidos, o chefe deste grupo comprava o entorpedente no Paraguai, provavelmente proveniente da Bolívia.

LAVAGEM

Ainda de acordo com a Polícia Federal, o chefe deste segundo grupo investigado na operação tinha muito cuidado com as mensagens de texto ou outro tipo de comunicação sobre os delitos, por isso a investigação teve mais dificuldades em encontrar todos em esquemas que ele participava.

“O chefe do segundo grupo não registrava praticamente nada no nome dele. Na verdade, quando registrou uma fazenda no nome dele, criou um documento falso para isso. E ele registrava muitos veículos e imóveis em nome de terceiros, ou de familiares, ou de pessoas e empresas da confiança direta dele”, explicou Vilela.

Outro modo encontrado pela quadrilha para tornar os valores vindos do tráfico de drogas como “lícitos”, era a compra de imóveis.

“Uma das formas de investimento que ele tinha era na aquisição e construção de pequenos imóveis ali na cidade de Ponta Porã”, completou o delegado.

Uma das pessoas que foi alvo da ação, inclusive, atuava na construção civil e era o responsável por erguer os imóveis, reformar esses bens e pela gestão dos alugueis dos mesmos.

Conforme a PF, o principal objetivo das operações foi justamente desmantelar o esquema de lavagem de capitais dessas quadrilhas.

SAIBA

Segundo balanço da Polícia Federal, durante as Operações Sordidum e Prime foram cumpridos 26 mandados de prisão, dos 36 expedidos. Foram apreendidos 20 veículos, duas submetralhadoras, uma espingarda calibre 12, um revolver, cinco pistolas, dinheiro em espécie, joias e relógios, além de documentos.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO