Mantida em segredo de Justiça até a última sexta-feira (14), a esperada delação premiada do ex-servidor municipal de Sidrolândia, Tiago Basso da Silva, contra a prefeita Vanda Camilo (PP), sobre o suposto esquema criminoso que seria comandado pelo vereador licenciado Claudinho Serra (PSDB) na prefeitura municipal, trouxe que o “esquema” teria comprado um smartphone da marca Apple para a chefe do Executivo.

Em um dos seus depoimentos prestados aos promotores de Justiça Adriano Lobo Viana de Resende e Bianka Machado Arruda Mendes, do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), Tiago Basso citou apenas que a prefeita de Sidrolândia “teria adquirido de forma fraudulenta um telefone móvel, marca Apple, modelo iPhone 14, determinado a construção de moderno ponto de mototáxi naquela urbe, bem como ordenado a manutenção de aparelhos de ar-condicionado existentes na residência dela, todos estes atos efetivados, em tese, com o desvio de recursos públicos”.

No entanto, conforme a defesa da prefeita Vanda Camilo disse ao Correio do Estado, não foram apresentadas provas para corroborar a acusação feita pelo ex-servidor municipal, tornando praticamente inócua a declaração dele para os promotores de Justiça.

Os advogados dela ainda acrescentaram que a tão aguardada delação premiada acabou por frustrar a oposição à prefeita, que, de acordo com eles, esperava desconstruir a popularidade de Vanda Camilo junto à população de Sidrolândia.

Já a prefeita Vanda Camilo disse ao Correio do Estado que é inocente e não tem qualquer envolvimento com o suposto esquema de corrupção. “É com tranquilidade e firmeza que venho reafirmar minha inocência em relação às acusações apresentadas na delação premiada recentemente divulgada. As declarações contidas na delação apontam para atos praticados por servidores, que estão sendo investigados pela Justiça”, afirmou.

Ela ainda completou que não tolera e nunca toleraria qualquer ato de corrupção em sua gestão. “Assim que tomei conhecimento dos fatos, agi de forma imediata e enérgica. Todos os servidores envolvidos foram exonerados ou afastados, seguindo rigorosamente os trâmites legais”, assegurou.

Vanda Camilo também acrescentou que confia plenamente na Justiça e espera que os fatos sejam esclarecidos e os envolvidos respondam nos rigores da lei. “É evidente que as declarações têm motivações políticas, pois parte de quem é de família com interesses políticos na cidade a anos. Esta é uma clara tentativa de tentar denegrir a imagem do governo, especialmente devido à proximidade das eleições municipais”, argumentou.

A prefeita reiterou seu compromisso com a transparência, a legalidade e o bem-estar da população. “Continuarei trabalhando incansavelmente em prol do desenvolvimento de nossa cidade”, assegurou.

Sem conexão

Diante dos fatos, o próprio MPMS lembrou ao desembargador Paschoal Carmello Leandro, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), que não há conexão com os episódios investigados pela terceira fase da “Operação Tromper”, deflagrada no dia 3 de abril deste ano pelo Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gecoc) e pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco).

“Se porventura houvesse conexão entre todos os episódios declinados dos depoimentos pelo colaborador nos Anexos I, II, III e IV, a competência originária para o processamento e julgamento seria desta Corte, nos termos do art. 129-A, inciso I, alínea ‘a’, do Regimento Interno do TJMS, haja vista a Prefeita do Município de Sidrolândia ser autoridade detentora de foro por prerrogativa de função”, trouxe trecho do despacho.

Correio do Estado também procurou o experiente advogado criminalista Benedicto Arthur de Figueiredo Neto para analisar o depoimento dado pelo ex-servidor municipal ao MPMS e ele relatou ao jornal que, sem provas físicas, a delação premiada de Tiago Basso contra a prefeita Vanda Camilo não tem peso para um provável indiciamento da chefe do Executivo.

“De fato, ao analisar o trecho da delação que cita o provável envolvimento da prefeita de Sidrolândia, Vanda Camilo, no suposto esquema de corrupção que seria comandado pelo seu genro, o vereador Claudinho Serra, quando comandou a Secretaria Municipal de Finanças, Tributação e Gestão Estratégica de Sidrolândia (Sefate), não tem nenhuma prova apresentada. O que existe, unicamente, é a palavra do delator”, pontuou Benedicto Neto

Entenda

Na última sexta-feira, o juiz Fernando Moreira Freitas da Silva, da Vara Criminal de Sidrolândia, levantou o sigilo da delação premiada do ex-servidor municipal Tiago Basso da Silva ao MPMS com detalhes do suposto ato criminoso comandado pelo vereador Claudinho Serra (PSDB), que está licenciado por 120 dias da Câmara Municipal de Campo Grande.

O acordo de colaboração premiada do ex-servidor foi homologado pelo TJMS em abril e foi mantido em segredo de Justiça, sendo que a promotora de Justiça Bianka Machado Arruda Mendes se manifestou pelo levantamento do sigilo, mas o juiz saiu de férias no início da segunda quinzena de maio.

Porém, ao retornar das férias, o magistrado voltou a receber novos apelos dos réus em ter acesso à delação e, em despacho publicado no dia 14 de junho, acatou o pedido, extinguindo o segredo de Justiça.

“Considerando a ausência de diligências pendentes de cumprimento no presente feito, e ainda, diante do interesse público que paira sobre este expediente, levante-se o sigilo processual anteriormente imposto nos autos. Acoste-se cópia do presente despacho ao feito principal, para fins de conhecimento pelas defesas dos acusados”, determinou Fernando Moreira Freitas da Silva.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO