Entre todas as pessoas que iniciaram o uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV em Campo Grande, 51,3% descontinuaram esse tipo de prevenção contra o vírus.

Conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), desde o início da distribuição do medicamento no município, em 2019, de 1.013 pessoas que começaram a PrEP na Capital, apenas 491 mantêm o uso contínuo.

O uso da PrEP consiste em tomar diariamente a combinação de dois antirretrovirais – tenofovir e a entricitabina –, capazes de evitar a infecção por HIV em até 95%. O método foi aprovado para incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS) em maio de 2017.

Ao Correio do Estado, o clínico geral do CTA, Roberto Braz, explicou que a descontinuidade da profilaxia é relativamente alta em Campo Grande e supera a média nacional.

Os números do Ministério da Saúde apontam que, entre os anos de 2018 e 2022, 39% do público-chave deixou de usar o medicamento como método de prevenção ao HIV.

Desde janeiro de 2018, 64 mil pessoas iniciaram a profilaxia pré-exposição em todo o País. Desse total, cerca de 24,8 mil pessoas abandonaram o uso. Braz reiterou que a PrEP previne apenas contra o HIV, e que, por essa razão, o melhor método de combater as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é o uso do preservativo.

“Sempre reforçamos que a PrEP só protege contra o HIV, então em nenhum momento queremos que a pessoa pare de usar preservativo, o ideal é que haja a combinação de prevenções, atrelando a camisinha ao uso da profilaxia pré-exposição, porque nos momentos em que o preservativo falhar, ou que houver o rompimento dele, do HIV a pessoa estará protegida”, afirmou Braz.

Atualmente, somente o Centro de Testagem e Aconselhamento, no centro da Capital, distribui a PrEP. Porém, conforme a Sesau, há previsão de expansão da distribuição do medicamento para o Centro Especializado de Doenças Infectoparasitárias (Cedip) e para as sete unidades da Atenção Primária à Saúde (APS).

Segundo o médico do CTA, os fatores para a descontinuação da PrEP em Campo Grande ainda são desconhecidos.

“Não sabemos se é pela questão da distribuição central do medicamento, pois Campo Grande é uma cidade onde tudo é muito longe e as pessoas podem ter dificuldade de acesso ao CTA. O perfil de quem usa também nos mostra que não estamos atingindo a população de maior vulnerabilidade ao vírus”, disse.

De acordo com a Sesau, no perfil majoritário dos usuários da profilaxia pré-exposição ao HIV na Capital, 88,6% são gays e homens que fazem sexo com homens (HSH) e 53,36% são brancos.

Em relação à escolaridade, 76% dos pacientes possuem 12 anos ou mais de estudo. Em Campo Grande, 66% das pessoas que fazem o uso da PrEP estão na faixa etária de 25 a 39 anos.

POPULAÇÃO-CHAVE

De acordo com o infectologista Hilton Luís Alves Filho, a PrEP não é para todas as pessoas, mas pode ser administrada além da população-chave.

Conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pré-Exposição, adotado pelo Ministério da Saúde, a profilaxia é indicada para aquelas que têm maior risco de entrar em contato com o HIV.

Dentro desse grupo estão os gays, homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, trabalhadores(as) do sexo, aqueles que não fazem o uso da camisinha durante as relações sexuais e as pessoas que estejam com alguém que seja HIV positivo e que não está em tratamento.

Disponível no SUS desde 2018, o protocolo do Ministério da Saúde passa agora por atualizações para ampliação do público-alvo. Em adolescentes, a PrEP para maiores de 15 anos foi indicada em uma recomendação de dezembro de 2021 da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec).

No entanto, a disponibilidade do medicamento para esse público ainda está em implementação, conforme o Ministério da Saúde

Segundo Hilton, hoje, com a atualização do protocolo de PrEP, cada estado ou município pode determinar, dentro da sua epidemiologia, setores da sociedade que podem ser elegíveis para a PrEP.

“Não é só para a população-chave. Hoje temos essa possibilidade, já prevista no protocolo, de adequar a epidemiologia além da população-chave”, disse o infectologista.

ACESSO

O acesso para a profilaxia pré-exposição ao HIV é por livre demanda no CTA, onde é realizado agendamento para primeira consulta médica e retirada do medicamento. O acompanhamento segue o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da PrEP, do Ministério da Saúde.

Conforme o médico Roberto Braz, é importante frisar que a PrEP não é só a entrega de um medicamento. “Engloba todo um acompanhamento. A pessoa vem até aqui na primeira consulta, na qual vamos solicitar alguns exames para checar como está a saúde do paciente de modo geral”, pontuou.

Depois da primeira consulta e entrega da profilaxia, Braz explicou que o paciente deve retornar após 30 dias.

“Estando tudo bem com o uso do medicamento, passamos para um acompanhamento trimestral”, frisou. Roberto destacou ainda que não há prazo para o uso da profilaxia pré-exposição ao HIV.

“Costumamos falar que a PrEP é para algumas fases da vida, em que normalmente as pessoas estão solteiras, se expondo mais. Há casos em que a pessoa inicia um relacionamento estável, em que os parceiros fazem todas as testagens para ISTs, combinam de usar preservativos e há toda a confiança entre o casal, e ele opta por parar a PrEP. Está tudo bem, inclusive se a pessoa tiver o interesse de voltar a usar depois”, destacou.

HIV E AIDS

Ao Correio do Estado, o infectologista Hilton Luís Alves Filho explicou que viver com HIV é diferente de estar com Aids. O vírus da imunodeficiência humana (HIV) afeta o sistema imunológico do corpo humano. Ele pode levar à síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) e dificultar a defesa do corpo contra outras infecções.

“Ter o vírus e estar em tratamento com o HIV indetectável é uma situação. Temos que entender que a Aids é a manifestação da doença pelo vírus, seja por um diagnóstico tardio ou pela não adesão ao tratamento”, reiterou Hilton.

PVHIV

Segundo a Sesau, em Campo Grande, há atualmente 5.782 pessoas vivendo com HIV registradas no Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom). O número de pessoas vivendo com HIV (PVHIV) atendidas na Atenção Primária à Saúde (APS) de Campo Grande cresceu 29 vezes em dois anos.

De acordo com os dados da Pasta fornecidos ao Correio do Estado, o número de atendimentos saltou de 11, em junho de 2020, para 322, no sexto mês deste ano.

Levando em consideração o mês de junho, o porcentual de crescimento nos atendimentos em dois anos foi de 2.827% na APS.

Apenas nos primeiros seis meses de 2021, o número de PVHIV atendidas na Atenção Primária à Saúde foi de 603. No mesmo período deste ano, a APS atendeu 1.683 portadores do vírus HIV, um salto de 179,1%.

 

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO