Pessoas que tiveram Covid têm risco elevado de apresentar dores no peito de seis meses até um ano após o quadro agudo da doença, aponta um novo estudo realizado nos EUA e divulgado neste domingo (5).

Esse risco foi maior quando comparado com pacientes que apresentaram um resultado negativo para a doença no mesmo período.

Os dados incluíram atendimentos hospitalares de quase 150 mil pessoas no Centro Intermountain de Saúde, em Salt Lake City, nos Estados Unidos.

Outros sintomas cardiovasculares reportados após a infecção não tiveram diferença entre aqueles com infecção prévia ou negativos para Covid.

Para avaliar se há associação de quadro de Covid com o aparecimento de sintomas como dores no peito após a infecção, os pesquisadores avaliaram três grupos distintos de pacientes: o primeiro incluía pessoas com 18 anos ou mais que tiveram diagnóstico positivo para Covid de março de 2020 a 31 dezembro de 2021; o segundo era formado por pessoas na mesma faixa etária e período com diagnóstico negativo para o coronavírus; por fim, o terceiro grupo era para controle histórico e consistia em pessoas que procuraram atendimento médico para sintomas cardiovasculares de 1 de janeiro de 2018 a 31 e agosto de 2019.

Os três grupos tinham um número igual de pacientes (148.158) e foram ajustados para sexo, idade e condições prévias de saúde dos pacientes.
De acordo com o estudo, a razão de risco multivariada (hazard ratio em inglês, que é a comparação do risco de duas variáveis distintas, no caso diagnóstico negativo ou positivo para Covid ou histórico de sintomas cardiovasculares) nos pacientes que tiveram Covid para dores no peito foi de 23%, seis meses após a infecção, e de 19% até um ano, comparado com os que não tiveram infecção prévia.

Esse risco era três vezes maior quando comparado ao grupo controle: 59% de seis meses a um ano após a infecção.
Os autores do estudo afirmam que os sintomas pós-Covid podem persistir por bastante tempo depois do fim da infecção aguda e que é preciso monitorar eventuais sequelas cardiovasculares.

“Embora não tenhamos encontrado muitos eventos como ataque cardíaco ou derrames nos pacientes que tiveram um quadro leve a moderado de Covid, dores no peito foi um sintoma recorrente reportado por eles e que persiste até um ano após a infecção, o que pode significar problemas cardiovasculares futuros”, disse a cardiologista epidemiologista do Instituto do Coração Intermountain e autora principal do estudo, Heidi May.

Para ela, é importante que os pacientes que tiveram sequelas pós-Covid necessitarem de investigação constante. “Não sabemos se essa frequência aumentada de dores no peito se manifestarão subsequentemente em um resultado ou evento cardiovascular, como infarto do miocárdio”, afirmou.

Diversos estudos já mostraram que as sequelas deixadas até mesmo por infecções leves do coronavírus podem persistir por até um ano. Muitos dos pacientes conseguem a resolução dos sintomas, mas os médicos ainda buscam investigar todos os chamados efeitos da Covid longa.

Em 2022, pesquisadores listaram os sintomas mais comuns da Covid longa e quais as suas possíveis implicações. Entre os mais frequentes estão aqueles associados a problemas neurológicos (perda de olfato, perda de paladar, esquecimento, confusão, dificuldade de concentração, problemas de sono, queda de cabelo) e relacionados ao sistema pulmonar (falta de ar, dificuldade para respirar, tosse comprida).

Há ainda relatos de efeitos cardiológicos da Covid longa, especialmente em crianças que apresentaram a chamada SIM-P (síndrome infalamtória multissistêmica pediátrica). Um estudo apontou que as sequelas da Covid podem vir em adultos e até bebês, enquanto outro mostrou que não há diferenciação se o quadro inicial da doença foi leve ou mais grave para o surgimento dos sintomas.

A pesquisadora reforça que as vacinas contra Covid ajudam a proteger os efeitos a longo prazo da Covid.
“Pode ser que os efeitos da infecção por Sars-CoV-2 no sistema cardiovascular sejam difíceis de mensurar em termos de diagnóstico ou outros eventos no curto prazo se não for feito um acompanhamento, mas sabemos por meio de estudos que a vacinação ajuda a prevenir Covid longa”, conclui a pesquisadora

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO