O aumento de casos confirmados e suspeitos de varíola dos macacos no país começa a sobrecarregar laboratórios referenciados para o diagnóstico da doença.
Para evitar um descontrole sobre a disseminação do vírus, eles pedem para que o Ministério da Saúde credencie mais locais para a testagem.
Especialistas alertam que a baixa capacidade de testagem prejudica a identificação dos casos e, consequentemente, o controle da disseminação do vírus.
Hoje, o país tem apenas quatro locais para análise de amostras suspeitas de varíola dos macacos. Todos ficam no Sudeste.
Fazem parte da rede de referência para diagnóstico o Instituto Adolfo Lutz (em São Paulo), o Instituto Oswaldo Cruz e a UFRJ (ambos no Rio de Janeiro) e a Fundação Ezequiel Dias (em Belo Horizonte).
O Instituto Adolfo Lutz é o que concentra a maior parte das análises.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a unidade tem processado, em média, 200 amostras por dia, sendo que 90% delas são liberadas em 24h.
A reportagem apurou que o tempo para liberação dos resultados no instituto tem aumentado conforme cresce a demanda por testes.
Há algumas semanas, todas as amostras eram processadas em menos de um dia. Em nota, a secretaria disse que a unidade tem “plena capacidade de processamento das amostras”.
Além do aumento de casos de varíola dos macacos, o instituto também faz análise de exames de Covid, por isso, o risco de sobrecarga nas análises.
Na última quarta-feira (27), o instituto publicou uma portaria em que estabelece as normativas para o credenciamento de laboratórios públicos e privados do estado que queiram fazer o processamento das amostras de pacientes com suspeita da doença.
“Os laboratórios de referência estão com um acúmulo de demanda, porque estão lidando com dois problemas de saúde pública ao mesmo tempo: a Covid e monkeypox.
Se não houver o reconhecimento do Ministério da Saúde para que outros laboratórios façam a análise, pode haver um represamento dos dados”, diz o infectologista Marcos Boulos.
Ele lembra que a sobrecarga dos laboratórios de referência já ocorreu em outros momentos, por exemplo, em surtos de dengue.
Nessas ocasiões, outros laboratórios foram credenciados para fazer a testagem e as unidades de referência passaram a fazer as análises apenas por amostragem.
Clarissa Damaso, virologista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que a unidade também passou a sofrer uma sobrecarga nas últimas duas semanas.
O laboratório tem processado cerca de 70 amostras por dia.
“É um volume alto para a nossa capacidade, já que não somos um laboratório de diagnóstico, mas de pesquisa”, diz. Ela também destaca a necessidade do credenciamento de mais unidades para a análise das amostras.
Damaso também alerta para o risco da falta de reagentes utilizados para a testagem, já que o Brasil tem enfrentado há meses dificuldade para a importação de insumos médicos.
Segundo ela, alguns fabricantes têm dado prazo de até 20 dias úteis para a entrega de reagentes usados nos testes.
“Além da capacitação de mais laboratórios, o país pode enfrentar também a dificuldade para a compra de insumos para a testagem. Essa falta é muito perigosa para o enfrentamento da doença.”
O Brasil registrou nesta sexta-feira (29) a primeira morte por varíola de macacos. Segundo o Ministério da Saúde, o país já tem 1.066 casos confirmados da doença. Em 9 de julho, eram 218.
A doença foi classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como emergência pública de preocupação global. A entidade também já declarou que considera a situação do Brasil para a doença como alarmante.
Para especialistas, ainda que a varíola dos macacos tenha uma capacidade de transmissão menor do que a Covid, seu controle depende do aumento e capilaridade da testagem no país.
“São diversos os exemplos que nos mostram que ainda que a introdução de doenças ocorra possa se dar a partir de grandes centros urbanos, a interiorização em algum momento inexoravelmente ocorre em alguma proporção. Foi assim com a Covid, possivelmente será assim com monkeypox”, diz Rodrigo Angerami, infectologista do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Hospital de Clínicas da Unicamp.
Questionado sobre o credenciamento de novos laboratórios e a dificuldade para a compra de insumos para a testagem, o Ministério da Saúde não respondeu.
FONTE: CORREIO DO ESTADO