Um estudo publicado nesta segunda-feira (20) na revista Nature Medicine relata um novo caso de cura do HIV por transplante de células-tronco. Trata-se da quinta pessoa no mundo que deixou de apresentar sinais do vírus por um longo período.
De acordo com o consórcio internacional IciStem, o paciente é um homem de 53 anos que passou por um transplante de células-tronco em 2013, como parte do tratamento para leucemia.
Após o procedimento, no qual recebeu material de um doador com uma mutação no gene CCR5 que impede a entrada do HIV nas células, ele conseguiu interromper o tratamento que fazia contra o HIV.
Nas análises que fizeram, os pesquisadores não encontraram vestígio de partículas virais, reservas virais ou resposta imune contra o vírus no corpo do “paciente de Düsseldorf” (oeste da Alemanha).
“Durante um transplante de medula óssea, as células do sistema imune do paciente são integralmente substituídas por células do doador, o que permite eliminar a grande maioria das células infectadas”, explicou o virologista Asier Sáez-Cirion, um dos autores do estudo, em comunicado.
“Trata-se de uma situação excepcional quando todos esses fatores coincidem para que esse transplante seja um duplo sucesso, tanto para a cura da leucemia quanto do HIV”, acrescentou.
Como menos de 1% da população normalmente se beneficia da mutação genética protetora do HIV, ela está em poucos doadores de células-tronco e o transplante não é uma opção para a cura em larga escala.
“Isso não vai ser preconizado para todo mundo”, disse Aguinaldo Roberto Pinto, professor do departamento de microbiologia, imunologia e parasitologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em entrevista à Folha por ocasião do quarto caso de cura.
Como já é difícil encontrar um doador compatível para o paciente que precisa do transplante de medula, localizar alguém que tenha também a mutação que confere resistência natural ao HIV seria mais uma dificuldade no processo de doação, explicou.
Antes do caso do “paciente de Düsseldorf”, outras quatro pessoas com HIV foram curadas, todas em procedimentos envolvendo o transplante de células-tronco de doadores com a mutação no CCR5.
A primeira pessoa curada foi Timothy Ray Brown, também conhecido como “paciente de Berlim”. Nascido nos Estados Unidos, ele foi diagnosticado com HIV em 1995, quando vivia na Alemanha, e em 2006 recebeu o diagnóstico de leucemia.
O segundo homem curado, Adam Castillejo, ficou conhecido como “paciente de Londres”. Ele tinha linfoma de Hodgkin e passou pelo transplante de medula com material de um doador com a mutação no gene em maio de 2016.
Em setembro de 2017, Castillejo deixou de tomar drogas anti-HIV e seus exames de sangue não apresentaram mais sinais do vírus.
Em fevereiro de 2022, pesquisadores anunciaram o terceiro caso de cura, dessa vez envolvendo uma mulher submetida a um tratamento diferente.
A paciente, que como Brown tinha leucemia, foi atendida no Weill Medical College, em Nova York, e recebeu sangue do cordão umbilical de um doador com a mutação no CCR5 e células-tronco sanguíneas parcialmente compatíveis de um parente de primeiro grau.
Pouco tempo depois, em julho, foi divulgado o quarto caso de cura do HIV. O homem de 66 anos, que não quis revelar sua identidade, recebeu o apelido de “paciente de City of Hope” (em tradução livre, cidade da esperança) em referência à unidade de saúde da Califórnia em que foi tratado.
FONTE: CORREIO DO ESTADO