Antes mesmo de agosto terminar, 2022 já tem o maior número de homicídios dolosos em oito meses dos últimos seis anos em Campo Grande.
Os dados são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e refletem o aumento dos assassinatos na Capital. Ontem (11), em plena luz do dia, duas pessoas foram atingidas por tiro de fuzil em uma tentativa de execução.
Até esta quinta-feira, Campo Grande contabilizava 78 assassinatos. O número é 21,8% maior do que o registrado em 2021, quando foram 64 mortes pelo crime (dado até o dia 31 de agosto).
Em toda a série história da Sejusp, que começa em 2012, o ano com o maior número foi 2016, quando 102 pessoas foram assassinadas na Capital. Entre 2016 e 2022, os números estiveram mais baixos na cidade.
Para o titular da Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social (Sesde), Valério Azambuja, órgão municipal, esses números podem ter pelo menos três explicações: a facilitação para a compra de armas de fogo, a proximidade com a fronteira com o Paraguai e a Bolívia e o aumento da população de Campo Grande.
“Fazendo uma leitura superficial, temos o fato de que de 2 anos para cá o acesso ao armamento foi facilitado, muita gente anda armada, isso é fato. Recentemente, a PF declarou milhares de pessoas comprando arma e fazendo uso legalmente. No caso do crime de hoje [ontem], tivemos o uso do fuzil 556, que é de uso privativo das Forças Armadas, para isso temos o fato da fronteira aberta, por onde entra todo tipo de armamento, pelo Paraguai e pela fronteira com a Bolívia. E também temos o fato de que Campo Grande ultrapassou 1 milhão de habitantes, viramos uma grande Capital”, explicou o secretário.
Sobre o aumento do armamento, o Correio do Estado publicou matéria no início deste mês mostrando que o número de registros de armas de fogo catalogadas no Sistema Nacional de Armas (Sinarm) cresceu 793% em Mato Grosso do Sul, quando comparados os anos de 2018 e 2021.
Dados da Polícia Federal informados à reportagem mostram que, em 2018, no Estado houve 618 novas aquisições de armas, contra o número expressivo de 5.524 em 2021.
CRIME
Na tentativa de homicídio que foi registrada nesta quinta-feira, dois homens de moto perseguiram um Ford Ka na Avenida Gunter Hans, região sul de Campo Grande, enquanto desferiam tiros de fuzil.
O alvo era um homem de 42 anos que havia acabado de sair do Centro Penal e Agroindustrial da Gameleira. Ele foi atingido por tiros de fuzil. Segundo a polícia, ele cumpre pena por tráfico no presídio, de regime semiaberto.
Conforme informações do delegado Fabrício Dias, da 6ª Delegacia de Polícia Civil, o homem chegou à unidade policial, localizada no Bairro Tijuca, por volta de 7h45min, ferido e pedindo socorro.
Segundo disse aos policiais, ao deixar o presídio, ele seguia para sua casa junto da esposa, quando dois motociclistas se aproximaram e efetuaram vários disparos de fuzil.
Na tentativa de fugir dos criminosos, o homem passou por dentro do Terminal Aero Rancho, sendo perseguido pelos pistoleiros, que continuaram a atirar, mas fugiram após a vítima entrar no terminal.
Uma mulher, que não tinha relação com a vítima, foi atingida por uma bala perdida e encaminhada para o hospital.
Após os atiradores irem embora, o homem de 42 anos seguiu para a delegacia, onde desceu gritando que havia homens que queriam matá-lo a tiros de fuzil.
Ele também ficou ferido e foi encaminhado para a Santa Casa, onde ficará com escolta policial. Até o fim da noite de ontem o hospital não havia informado o estado de saúde da vítima.
“A gente está focado agora em identificar os autores”, disse o delegado. Ele afirmou ainda que, em um primeiro momento, foram identificados 15 tiros disparados. No entanto, ele disse que a perícia indicará com certeza o total.
O caso será registrado como tentativa de homicídio, e as investigações deverão ficar sob responsabilidade da 5ª Delegacia de Polícia Civil.
Sobre crimes deste tipo, o secretário municipal afirmou que eles “estão virando quase rotina durante o dia”. Para ele, o aumento do policiamento é um dos fatores que pode contribuir para coibir essa crescente nesse tipo de assassinato.
“Temos que aumentar a presença das polícias, tanto de forma preventiva como de investigação. Ter a presença maciça dos policiais nas ruas. A parte da Guarda Civil ela faz, atua nas sete regiões com patrulhamento, principalmente no período noturno”, alega Azambuja, que frisa a posse que ocorrerá em janeiro de mais 300 agentes da Guarda Civil Metropolitana.
Integrantes da Sejusp também foram procurados pela reportagem para comentar os dados da pasta, mas ninguém quis falar até o fechamento desta edição.
FONTE: CORREIO DO ESTADO