O presidente estadual do Patriota, deputado estadual reeleito Lidio Lopes, não vê com bons olhos a fusão do seu partido com o PTB, que em Mato Grosso do Sul é comandado pelo ex-senador Delcídio do Amaral.
Em entrevista concedida recentemente para uma rádio local, ele lamentou o fato, mas admitiu que é a única saída para Patriota e PTB atingirem a cláusula de barreira e, desta forma, garantirem a sobrevivência política.
Ele ressaltou que pegou a legenda para ser construída em Mato Grosso do Sul, e hoje, graças a esse trabalho, o Patriota está presente em 73 municípios do Estado. “Além disso, tivemos chapa de vereadores em 55 municípios e, atualmente, somos o quarto maior partido do Estado em número de prefeitos, com cinco gestores municipais, incluindo a Prefeitura de Campo Grande, onde a Adriane Lopes assumiu o cargo. Temos também 35 vereadores eleitos pelo Patriota, e, proporcionalmente, Mato Grosso do Sul é o Estado onde a sigla tem mais prefeitos eleitos no Brasil”, pontuou.
Lidio Lopes reforça que, para cumprir as cláusulas de barreira, que estabelecem 2% dos votos válidos em todo o País e em nove estados diferentes, o Patriota teria de formar uma bancada de no mínimo nove deputados federais.
“Infelizmente, o Patriota não conseguiu isso nesta eleição, elegendo só cinco deputados federais, e isso dificultou ultrapassar a cláusula de barreira, obrigando a legenda a fazer uma fusão com um outro partido, para que juntos possam atingir esse número mínimo para a existência das siglas”, explicou.
Nessa fusão, que será com o PTB, deve sumir o nome Patriota e PTB para a criação de uma nova legenda. “Agora, teremos um período de avaliação das questões partidárias, mesmo porque, quando surge uma possibilidade de fusão, os parlamentares que já estão no mandato podem definir se permanecem ou vão para outra sigla”, informou, deixando transparecer que ele e a esposa Adriane Lopes podem migrar para outra legenda.
“O grande problema de uma fusão é a ideologia partidária”, pontuou, lembrando que o Patriota é um partido que foi fundado com bases cristãs e familiares, pelos princípios de um partido de direita e com muito respeito pelo País.
Princípios
Segundo Lidio Lopes, para o Patriota se unir a outra legenda, é preciso analisar também os princípios dessa sigla. “Quais são os regramentos estatutários desse partido, para que possamos ter uma linha de atuação. Essa é uma preocupação que tenho muito forte, tendo em vista que o Patriota é um partido novo e que eu consegui construir com muito zelo e esmero em Mato Grosso do Sul, com preocupação com quem a gente convidava para vir para o partido, quais os nomes que a gente apresentava para o interior do Estado para concorrer às candidaturas de prefeito e de vereadores”, afirmou.
Segundo o presidente estadual do Patriota, até mesmo agora, na chapa para deputado estadual, o partido sempre procurou escolher com muita tranquilidade os candidatos, para que pudesse fazer uma sigla com muita seriedade para Mato Grosso do Sul.
“Isso, obviamente, nos traz uma preocupação muito grande agora, com esse período de fusão. É com muita tristeza que eu recebo isso, mas sei da dificuldade do partido também, porque não é fácil com esse novo regramento de chapa pura conseguir montar as chapas proporcionais nos estados. Eu passei esse perrengue aqui em Mato Grosso do Sul, que é um Estado que só tem oito vagas para a Câmara dos Deputados, enquanto outras unidades da Federação têm um número bem maior”, ponderou.
Na avaliação dele, isso dificulta muito, pois ter candidaturas com densidade eleitoral própria para eleger um deputado federal não é fácil.
“O tanto de partidos do Estado que lançaram chapas e não conseguiram fazer o quociente eleitoral para poder eleger um deputado federal. Poucos partidos conseguiram isso aqui em Mato Grosso do Sul, apenas cinco siglas conseguiram eleger deputado federal. Com isso, foi uma dificuldade no Brasil todo. Obviamente, não tenho dúvida de que a Câmara vai rever esse regramento eleitoral, em razão da dificuldade registrada nessas eleições”, projetou.
O deputado estadual reeleito reforçou que é preciso discutir como esse regramento eleitoral vai continuar para as próximas eleições, pois, nas eleições deste ano, pelo menos oito partidos não atingiram a cláusula de barreira e terão de ser extintos automaticamente.
“A gente caminha para um enxugamento, e acho que é necessário, pois temos 35 legendas estabelecidas no País e é muita coisa. Ainda devemos ter mais de uma dúzia de solicitações no TSE [Tribunal Superior Eleitoral] para a criação de novas siglas, o que é um absurdo, uma verdadeira pulverização de partidos”, reclamou.
O deputado estadual reeleito lembrou que, quando era criança, o Brasil só tinha UDN e PDS e, quando começou a entender de política, era só MDB e Arena. “Só tínhamos duas siglas partidárias, como é hoje nos Estados Unidos, onde só tem Republicanos e Democratas, então, no Brasil foram abrindo essas alternativas e o resultado foi essa pulverização de legendas, que acabaram virando uma salada mista de partidos, o que acabou fazendo surgir esses regramentos.
Porém, entendo que é uma cláusula natural, que vai surgindo para ir limitando essa abertura de tantas novas siglas e diminuindo a quantidade de legendas no País”, finalizou.
A reportagem do Correio do Estado falou com o presidente estadual do PTB, o ex-senador Delcídio do Amaral, sobre as declarações de Lidio Lopes, mas ele preferiu não se pronunciar. “Esse assunto está sendo tratado pela direção nacional do PTB e os diretórios estaduais não estão participando das reuniões. Portanto, seguirei as diretrizes do presidente nacional do PTB, pois, na minha opinião, política é compromisso”, declarou, lembrando que essa fusão já estava sendo tratada há muito tempo.
Acordo
Pelo acordo com o Patriota, o PTB, que elegeu apenas um deputado federal, fornece ao novo partido a estrutura, formada por um milhão de filiados e diretórios em todos os estados, que elegeu cinco deputados federais e também não atingiu a cláusula de barreira. Juntas, as duas legendas terão condições de superar a cláusula, pois, embora não atinjam o mínimo de nove deputados federais, atenderiam ao critério de 2% dos votos válidos em pelo menos nove unidades da Federação.
Em Mato Grosso do Sul, com a fusão, o novo partido ganha força para disputar a Prefeitura de Campo Grande em 2024, afinal, já terá no Paço Municipal a prefeita Adriane Lopes (Patriota). Além disso, o partido reelegeu o deputado estadual Lidio Lopes, atual presidente estadual do Patriota, que deve negociar com o ex-senador Delcídio do Amaral o comando da nova legenda no Estado.
Na Câmara Municipal de Campo Grande, com a fusão de PTB e Patriota, a bancada do novo partido contará com três vereadores – Dr. Sandro Benites, Edu Miranda e William Maksoud. Sem falar que a nova sigla também terá mais um prefeito nos seus quadros, já que o PTB tem hoje o prefeito de Figueirão, Juvenal Consolar, totalizando seis prefeituras no Estado.
FONTE: CORREIO DO ESTADO