O suposto pai de santo, de 63 anos, acusado de estuprar uma menina de 15 anos durante um “trabalho espiritual” segue preso, mas deve passar por audiência de custódia nesta quarta-feira (23), em Campo Grande.

Ao Correio do Estado, a delegada da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente, Anne Karine Trevisan, informou que o acusado já foi ouvido e continua sustentando a versão de que ele estava incorporado por uma entidade, logo, não estava consciente de seus atos.

“[O crime] foi durante um atendimento espiritual, mas o contato que a entidade realiza é no máximo na mão e não em órgãos genitais”, esclareceu.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), o suspeito teria colocado a mão na genitália da vítima durante um atendimento espiritual privado feito em uma sala reservada.

A titular da Depca ainda afirmou que dificilmente a explicação dada pelo pai de santo terá fundamento judicial ou servirá para sua defesa.

NOTA DE REPÚDIO

Como o crime aconteceu em uma casa de Umbanda e o suspeito se diz pai de santo, a Federação das Religiões de Povos de Terreiro de Mato Grosso do Sul – Ajô Nilê, publicou uma nota de repúdio na qual não reconhece o acusado como um religioso.

Na nota, a organização deixa claro que o suspeito não é filiado à federação, bem como não se sabe se de fato ele exerce alguma função dentro da Umbanda, “uma vez que tanto a religião de Umbanda, quanto seus adeptos jamais cometeriam uma atrocidade desta monta”.

O posicionamento da entidade foi postado nas redes sociais diante da grande repercussão do caso em Campo Grande.

A associação também pontua que as entidades espirituais que se manifestam na Umbanda são consideradas seres de luz e jamais cometeriam ou induziriam alguém a cometer tais crimes.

“É importante ressaltar que Caboclos, Pretos Velhos, Exus, e demais espíritos que se manifestam na seara Umbandista, são entidades de luz, que vem para promover sempre o bem, a cura, a boa palavra aos consulentes”, destaca a nota.

Por fim, a organização se solidariza com a vítima e reafirma que o acusado deve responder criminalmente por seus atos e não se esconder atrás de uma entidade religiosa “para se esquivar dos seus atos totalmente ilícitos”.

Assim, a federação endossa a fala da delegada e afirma que para dar passe e/ou tirar energias negativas de pessoas não é necessário tocá-las, ainda mais nas partes íntimas de quem está se consultando com entidades.

ENTENDA O CASO

Conforme boletim de ocorrência registrado pela mãe da vítima, a menina passou por uma consulta espiritual particular com o suposto pai de santo e, após sair da sala reservada, estava muito nervosa e contou para ela o que aconteceu.

Ainda de acordo com o depoimento da mãe, a vítima detalhou o crime e disse que tentou impedi-lo de cometer tal ato várias vezes, mas sem sucesso. Ele ainda teria a alertado para não contar a ninguém o que aconteceu.

A vítima relatou à sua mãe em detalhes o que aconteceu dentro da sala reservada, sendo que a Polícia Militar foi acionada de imediato.

Quando questionado, o acusado afirmou que não se lembrava do que aconteceu porque estava incorporado por uma entidade. No entanto, alegou que, se houve contato sexual, foi com os pés e depois com as mãos “para retirar as energias negativas da vítima.”

Ele ainda alegou que é comum que em sessões espíritas  as pessoas envolvidas tenham contato físico e as energias negativas devem ser retiradas pelos órgãos genitais.

Embora o caso tenha sido registrado na Deam, foi transferido para a Depca, onde as investigações devem ter andamento.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO