Às vésperas do início oficial da folia e com festejos de pré-Carnaval já levando milhares às ruas em todo o país, o Ministério da Saúde ainda não lançou sua campanha de prevenção a ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).
A última ação do tipo foi feita em 2020, na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), antes da pandemia de Covid, que suspendeu oficialmente o Carnaval por dois anos.
Questionado sobre as razões pelas quais a campanha ainda não foi iniciada, o ministério comandado por Nísia Trindade não respondeu à reportagem. Nesta segunda (13), a assessoria de imprensa da pasta informou que o material estará no ar até o fim desta semana, na página do Ministério da Saúde.
Em nota enviada à Folha de S.Paulo na última terça (7), pasta afirmou que “o desenvolvimento de ações de prevenção às ISTs, principalmente no período de Carnaval, é estratégia prioritária para o Ministério da Saúde”. E acrescenta que, entre os vários métodos de prevenção disponíveis, “a camisinha segue sendo a forma mais segura e eficaz de proteção contra ISTs”.
“Estas ações visam incentivar o comportamento sexual seguro, independentemente da identidade de gênero ou orientação sexual, a partir da adoção de estratégias de prevenção combinada. O objetivo de promover campanhas nacionais durante o Carnaval é divulgar informações sobre prevenção, diagnóstico e tratamento disponíveis no SUS para HIV, Aids, sífilis e outras ISTs, bem como as profilaxias pré e pós-exposição (PrEP e PEP) e a testagem regular”, diz a nota.
Enquanto não há coordenação nacional liderada pelo Ministério da Saúde, prefeituras de cidades que costumam receber milhares de turistas nesta época do ano, como Rio de Janeiro, Recife e São Paulo, já fazem ações para conscientizar foliões sobre os riscos do sexo desprotegido.
Em São Paulo, a Secretaria Municipal da Saúde deu início na última quarta (8) à campanha “Camisinha na Folia”, com distribuição de preservativos e sachês de gel lubrificante nos principais blocos de rua da cidade.
“É importante que insumos de prevenção continuem cada vez mais acessíveis à população, para evitar barreiras e contribuir com a redução de novas infecções”, afirma Cristina Abbate, coordenadora de IST/Aids do município.
As peças de comunicação informam sobre HPV, HIV, herpes genital, gonorreia e hepatites B e C, mas a principal preocupação das autoridades é com a propagação da sífilis, infecção sexual com maior número de notificações atualmente no país.
A sífilis se manifesta em três estágios: primário, secundário e terciário. São nos dois primeiros estágios que se observam os principais sintomas, como feridas e erupções cutâneas, e nessa etapa a IST é mais transmissível. Após essa fase, mesmo indivíduos não tratados podem se curar das lesões iniciais, e a doença pode ficar inativada por meses ou anos.
No estágio terciário da sífilis podem surgir complicações graves como cegueira, paralisia, doença cerebral e problemas cardíacos, e o quadro pode até mesmo levar à morte.
Na capital paulista, os casos de sífilis adquirida passaram de 16.351, em 2017, para 18.645 em 2021, último ano com dados computados pela prefeitura.
Para o infectologista Alvaro Costa, do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids do estado de São Paulo, campanhas de conscientização precisam ser feitas com antecedência.
“É uma vergonha não termos uma campanha nacionalmente unificada sobre a prevenção durante as festas, que já estão rolando. Em São Paulo e no Rio, por exemplo, temos blocos desde a primeira semana deste mês”, afirma. “A informação deve chegar antes, muito antes. Devemos mostrar para as pessoas que há com o que se preocupar, mas que também há como se prevenir e aproveitar melhor a festa.”

RIO E RECIFE

No Rio de Janeiro os números da sífilis também preocupam -2022 foi o ano com mais notificações de infecções desde 2012, quando o estado passou a organizar os dados sobre a doença. Segundo o Observatório Epidemiológico da capital fluminense, foram 12.590 notificações de sífilis no último ano. Em 2012, foram 1.028.
Com uma campanha intitulada “Rio, Carnaval de Prevenção”, a Secretaria Municipal da Saúde deve realizar ações nos blocos de rua e no sambódromo, com distribuição de preservativos e material informativo.
“Além de conscientizar sobre os riscos à saúde representados pelas infecções sexualmente transmissíveis, a iniciativa visa minimizar a resistência à testagem e ao uso de métodos de prevenção”, informou a Prefeitura do Rio de Janeiro, em nota.
No Recife também está previsto reforço na comunicação sobre ISTs. A Secretaria Municipal de Saúde diz que vai realizar ações de conscientização sobre a importância da prevenção e deve distribuir preservativos, gel lubrificante e material informativo durante os festejos.
Também está programada a realização de testes rápidos para detecção de HIV, sífilis e hepatites B e C, além de oferta de acesso às profilaxias pré-exposição e pós-exposição para enfrentamento da infecção pelo HIV.
Em 2022, houve queda de 38% nas confirmações de sífilis na capital pernambucana, mas há histórico de altas nos períodos pré e pós-Carnaval, de janeiro a março. Em 2019 e 2020, últimos anos de festas oficiais antes da pandemia por Covid, foram confirmados, respectivamente, 635 e 391 casos somente no período.

MPOX

Adicionalmente, há preocupação com relação à mpox. Durante o Carnaval, o vírus encontra tudo o que precisa para se propagar: atrito.
A transmissão entre humanos ocorre principalmente por meio de contato com lesões na pele de pessoas infectadas. Também pode ocorrer por meio de contato com secreções em objetos, tecidos e superfícies.
Somente em São Paulo, 2.095 casos foram confirmados de junho a dezembro de 2022. Nenhuma das prefeituras consultadas incluiu a doença como foco em sua campanha de prevenção.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO