Na manhã de ontem, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) prendeu, de forma preventiva, o defensor público Helkis Clark Ghizzi, suspeito de ter ligação com a facção criminosa PCC.

Desde o início das investigações, que começaram no ano passado, o nome do defensor surgiu em três operações conduzidas pelo Gaeco, a Courrier (correspondência, em francês), Sintonia dos Gravatas (menção aos advogados) e Maître (mestre, em francês).

O defensor público preso nesta terça-feira está afastado de seu cargo como conselheiro suplente da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul desde o dia 1º, quando começou a segunda fase da Operação Courrier, que cumpriu mandados de busca e apreensão em quatro endereços da Capital.

Houve aplicação de medidas cautelares de prisão e proibição de acesso a órgãos públicos, como Defensoria Pública, Ministério Público e Poder Judiciário, ao advogado, investigado por crimes de associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e violação de sigilo funcional qualificado.

De acordo com o Gaeco, Ghizzi e seu ex-assessor são apontados como “gravatas” do PCC, e os demais integrantes da associação criminosa referiam-se ao defensor público pela alcunha de Mestre.

Helkis Clark Ghizzi é graduado em Direito, pela Faculdade de Direito de Presidente Prudente, pós-graduado em Direito e Processo Penal e exercia o cargo de defensor público do estado de Mato Grosso do Sul desde 2004.

Também foi coordenador da 1ª Regional de Campo Grande, em 2021, que abrange os municípios de Ribas do Rio Pardo, Sidrolândia e Terenos.

De acordo com informações da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, antes de ser afastado do cargo, Ghizzi estava à frente da 4ª Defensoria Pública Estadual de Defesa do Homem.

Segundo o Gaeco, o nome da operação faz alusão à forma pela qual os integrantes do PCC se referiam ao defensor, chamado de Mestre. Maître, em francês, é o tratamento conferido aos operadores do Direito.

Procurada pela reportagem do Correio do Estado, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul informou, em nota, que aguarda receber todas as informações a respeito da operação realizada nesta terça-feira para se posicionar sobre o caso.

A reportagem tentou contato com o advogado do defensor público, por meio do escritório de advocacia da família Ghizzi, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

FILHO ENVOLVIDO

O filho do defensor público preso na operação do Gaeco, Bruno Ghizzi, também está sendo investigado pelo grupo especializado por envolvimento nos atos de corrupção e associação criminosa.

Bruno Ghizzi está preso em Campo Grande desde março do ano passado, detido na diretoria de gestão do presídio militar estadual. Ele tentou se livrar da prisão por meio de um pedido de recurso, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou a ação.

Conforme informações da investigação, o filho do defensor teria se envolvido com a organização criminosa com Rodrigo Pereira da Silva Corrêa, servidor afastado do Fórum de Campo Grande, que detinha acesso a informações privilegiadas e sigilosas de processos de réus integrantes do PCC.

Conforme apurou o Correio do Estado, ele nasceu em Presidente Bernardes, interior de São Paulo, e, antes de ser preso, comandava um escritório de advocacia em um centro empresarial situado na Avenida Afonso Pena, uma das vias mais importantes da capital de MS.

O processo que investiga o defensor, o filho e os advogados implicados no caso segue na 6ª Vara Criminal Residual da Comarca de Campo Grande.

MÉRITO ADVOCATÍCIO

Conforme apurado pela reportagem, há cinco anos, o defensor público Helkis Clark Ghizzi recebeu uma Medalha do Mérito Advocatício, na Assembleia Legislativa, com outros 17 profissionais da advocacia sul-mato-grossense.

A sessão solene, proposta na época pelo deputado Lidio Lopes (Patriota), foi concedida por meio da Resolução 43/2012, de autoria do ex- prefeito Marquinhos Trad (PSD), detendo o nome da comenda de mérito advocatício uma homenagem ao defensor público da União Jorge Antônio Siufi.

O defensor compôs a letra do Hino do Estado de Mato Grosso do Sul, publicou livros de crônicas, foi membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e faleceu no dia 14 de março de 2011.

Em nota ao Correio do Estado, A OAB-MS disse que sempre se pautou pela ética profissional, não coadunando com qualquer conduta ilícita, ainda mais quando se refere à advocacia.

“O caso também será analisado pelo Tribunal de Ética e Disciplina, sempre obedecidos o contraditório e a ampla defesa”. (Colaborou Celso Bejarano)

Saiba: Participam da Operação Maître, a segunda fase da Operação Courrier, promotores de Justiça e 20 policiais do Gaeco. As diligências também foram acompanhadas pela Defensoria-Geral e pela Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas dos Advogados.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO