Seis anos após o crime, Thiago Giovanni Demarco Sena e Willian Enrique Larrea vão a júri popular nesta quinta-feira (30), acusados de matar o adolescente Wesner Moreira da Silva, 17 anos, após agressão com uma mangueira de ar comprimido em um lava jato, em Campo Grande.

O crime aconteceu em fevereiro de 2017 e os acusados eram patrão e colega de trabalho da vítima. O julgamento está marcado para começar às 8h desta quinta, na 1ª Vara do Tribunal do Júri.

Mãe de Wesner, Marisilva Moreira, disse ao Correio do Estado que espera, enfim, que seja feita a Justiça, com a pena máxima para os acusados.

Segundo ela, ainda no hospital, Wesner pediu para que fosse feita a Justiça e ela prometeu que assim seria.

“Ele me disse: ‘mãe eu quero que eles paguem, quero que a senhora vá na delegacia e dê parte para eles pagarem’ e eu respondi que no momento a prioridade era ele, mas assim que saísse, eu ia virar uma leoa para que pagassem o que fizeram com ele”, disse.

“E agora vão pagar o que fizeram, eu prometi e finalmente meu filho, que está no céu, vai falar: ‘minha mãe prometeu e cumpriu”, acrescentou Marisilva, emocionada.

Segundo ela, esta será a primeira vez que ficará frente a frente com os acusados.

Durante o processo, houve audiências no Fórum em que os réus estavam presentes para depor, mas ela não teve condições de entrar na sala.

“Eu não consegui entrar dentro da sala, eu saí desesperada chorando, porque não é fácil, eles destruíram o meu filho e eu ter que ficar ouvindo mentira. Amanhã vai ser a primeira vez [frente a frente] e eu não vou poder sair, vou ter que ser forte, mas eu quero olhar para eles e perguntar por que fizeram isso com meu filho”, conta.

Ela explica que o que cita como mentira contada pelos acusados é o fato deles defenderem, em depoimentos, que o caso se tratou de uma brincadeira que terminou de uma maneira trágica.

Na visão da mãe, eles sabiam o que estavam fazendo e o risco do uso da mangueira de ar comprimido, já que trabalhavam com o equipamento diariamente.

“Brincadeira não mata, aquilo não foi brincadeira. Meu filho era magrinho, se era brincadeira, por que não brincaram entre eles [acusados]? Meu filho não estava brincando, ele estava trabalhando para ajudar em casa”, afirma.

Marisilva ressalta que Wesner tinha sonho de seguir carreira militar, mas morreu antes de completar os 18 anos exigidos para o alistamento.

“Tiraram um menino tão bom, que sonhava em ter carreira militar, tiraram o sonho de uma mãe de ver os netos, tiraram a convivência com um menino que era muito bom. Eles mataram meu filho e mataram também uma mãe por dentro”.

Ela destaca o fato de Wesner ter acordado no hospital e ficado 12 dias vivo, antes de partir.

“Ele ficou vivo para ter a oportunidade de contar o que aconteceu, porque eles [acusados] ficavam mentindo. Também foi uma forma de se despedir, eu disse para ele que tinha muita gente que amava ele, ele agradeceu e disse que ia voltar para casa”, relembra a mãe.

Marisilva ressalta ainda que, desde o dia do crime, passou a viver um dia de cada vez e que, mesmo fazendo mais de seis anos, “parece que foi ontem”.

“Meu coração ficou no hospital, é muita dor e sempre falei que ia viver um dia de cada vez, mas amanhã Deus vai devolver meu coração, não vai devolver meu filho, mas vai ter a pena máxima e nunca mais eles [acusados] vão fazer uma mãe sofrer”.

“Para mim foi ontem, são seis anos, um mês e 24 dias, e agora chegou. Imagina como eu estou, esperando faz horas esse momento, é muita emoção, é tudo junto. Espero que o júri dê a pena máxima para os dois, é isso que eu espero. Finalmente vão poder pagar pelo fizeram com o Wesner”, concluiu Marisilva.

Caso

No dia 3 de fevereiro de 2017, mangueira de ar teria sido introduzida no ânus de Wesner pelo patrão e colega de trabalho em lava jato na Vila Morumbi.

Durante o decorrer do processo, houve controvérsias em relação ao posicionamento da mangueira.

Enquanto os acusados e algumas testemunhas dizem que foi colocada por cima da roupa, outras informam terem ouvido Wesner dizer que a mangueira foi introduzida nele.

O local chegou a ser incendiado. Já em depoimento à polícia, os agressores alegaram que tudo se tratava de uma “brincadeira” e foram liberados logo em seguida.

Perfurações levaram a retirada do intestino grosso do adolescente, que ficou vários dias internado, mas morreu no dia 15 do mesmo mês.

Era ele quem mantinha a família há um mês com o que ganhava lavando carro, pois a mãe não trabalhava e o pai se tratava de um câncer.

Júri popular

Em 2018, o juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida decidiu que os acusados não iriam a responder por homicídio doloso e, desta forma, não seriam mandados a júri.

Segundo ele, o crime doloso não teria ocorrido, devido a ter ficado comprovado, em depoimentos de familiares, que acusados e a vítima eram amigos e o caso teria decorrido de uma “brincadeira”, devendo os dois responderem por outro crime, que não doloso contra a vida.

O Ministério Público Estadual (MPMS) recorreu, pedindo a reforma da sentença de pronúncia para que os réus respondessem por homicídio doloso, sendo submetidos ao Tribunal do Júri.

Em junho de 2019, desembargadores da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul deram provimento ao recurso.

Conforme o acórdão, os magistrados consideraram que não há como afirmar que a ocorrência do dolo eventual é manifestamente inadmissível se demonstrados nos autos que os acusados podiam prever os danos que a injeção de ar comprimido na vítima poderiam causar.

“…Cabe ao Conselho de Sentença, diante dos fatos narrados na denúncia e colhidos durante a instrução probatória, a emissão de juízo de valor acerca da conduta praticada pelo réu”, diz a decisão da época.

Desta forma, o júri foi marcado para esta quinta-feira.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO