Sophia Ocampo, abusada sexualmente e morta aos dois anos de idade, não foi a única a sofrer diversas violências enquanto estava sob a guarda de Stephanie de Jesus da Silva, de 25 anos, e de Christian Campoçano Leitheim, de 26 anos, acusados pela morte da menina. O filho do réu, que terá a identidade preservada, também passou por agressões físicas e psicológicas e, agora que o pai está preso, vive com os avós paternos e está sem contato com sua mãe, Andressa Victória Fernandes, de 22 anos, há três meses.
Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, Andressa conta que seu filho, de quatro anos, vivia com Christian por conta de um acordo verbal entre ambos e que apenas aceitou a situação porque era constantemente ameaçada por ele e por seu pai, que é policial militar aposentado.
Como já mostrado em reportagem da semana passada, o ex-marido de Andressa se aproveitava do cargo de seu pai, que é pessoa conhecida na corporação, para se blindar de denúncias e escapar de uma possível prisão.
De acordo com Andressa, a falta de proteção por parte das instituições estatais, além de vitimar Sophia, também fez com que seu filho sofresse constantes violências físicas e psicológicas, que não serão detalhadas por respeito à criança, enquanto morava com o pai, além de presenciar o sofrimento da menina morta aos dois anos de idade, de quem se considerava irmão.
Ao Correio do Estado, a mulher ainda relatou que por diversas vezes foi à Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) e na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), mas em nenhum dos dois lugares conseguiu o atendimento que esperava.
“Fui na Delegacia da Mulher e expliquei a situação do meu filho e que precisava vê-lo porque ainda o amamentava, mas me falaram para ir na Defensoria Pública e não orientaram mais nada”, conta, lembrando da primeira vez que ficou sem ver seu filho porque Christian a impedia de ter contato com a criança.
Andressa ainda completa, afirmando que outras vezes que esteve na Deam foi chamada de louca. Ainda de acordo com ela, o atendimento negligente não foi apenas na Delegacia da Mulher, mas também da Depca. Na ocasião havia procurado a polícia para relatar as agressões sofridas pelo seu filho.
“Tem gente que confia cegamente na delegacia, acha que se for denunciar qualquer coisa vai estar segura. Na Depca, eu fui interrompida no metade do meu depoimento e me falaram que já tinha dado o horário do expediente”, afirma, reforçando que outras vezes o desinteresse em prestar atendimento surgiu assim que ela falou o sobrenome de Christian, que é o mesmo de seu pai policial.
“O sistema é tão falho a ponto de estar colocando a vida não só de uma criança, mas de muitas outras em risco. Enquanto continuar assim outras pessoas vão morrer. Não será só a Sophia, mas tantas outras crianças”, destacou.
Além de encontrar falhas no atendimento das delegacias especializadas, Andressa afirma que, em episódio recente, a Defensoria Pública Estadual de MS também não prestou atendimento adequado para que ela pudesse ter a guarda de seu filho de volta. Ela não o vê desde o dia da prisão de Christian, em janeiro deste ano.
“Eles só perguntaram se meu filho estava passando fome na casa dos avós e eu disse que não porque eles davam fórmula [láctea], mas quando falei o nome do pai dele {Christian], quem estava me atendendo simplesmente parou de digitar e me fez só mais algumas perguntas”, relata, dizendo que pensou que seu depoimento seria o suficiente para que entendessem que a criança estava em perigo morando longe dela.
Segundo Andressa, a guarda provisória de seu filho está com os avós paternos, que recorreram ao Núcleo Militar para conseguir que a criança fique com eles neste primeiro momento. A primeira audiência judicial do caso está marcada para junho e, até lá, a determinação é para que a criança fique com eles.
Contudo, antes mesmo da morte de Sophia, ela já havia procurado ajuda para tirar seu filho do ambiente violento em que ele vivia, porém, nenhuma de suas tentativas foram bem sucedidas e, de acordo com ela, isso se deve a negligência das pessoas que trabalham nos órgãos de proteção.
“Desde 2019, quando ele foi morar com o Christian, eu apresentei provas de que ele estava sendo maltratado, mas não fizeram nada. Se a pessoa mostra que uma criança está passando por maus-tratos, vai esperar mais para verificar? Tem que existir uma medida de urgência e gente interessada em dar atendimento”, pontua.
E completa: “Se tivessem ido ver logo, desde quando apresentei provas, meu filho não estava naquela família. Teríamos uma criança viva e outra menos traumatizada”, conclui.
FONTE: CORREIO DO ESTADO