No segundo dia de júri que investiga a morte do adolescente Matheus Coutinho Xavier, 17 anos, a primeira testemunha ouvida foi o delegado do Garras (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Roubo a Banco, Assalto e Sequestros), João Paulo Sartori. São julgados Jamil Name Filho, Vladenilson Daniel Olmedo e Marcelo Rios.
Jamilzinho e o pai, Jamil Name, falecido, são acusados de serem os mandantes do assassinato do ex-policial militar Paulo Roberto Xavier. Vladenilson, ou Vlad, e Marcelo Rios, são considerados os ‘capangas’ da quadrilha. Juanil Miranda Lima, foragido, e José Moreira Freires, o Zezinho, seriam os executores do plano. Matheus morreu no lugar do pai.
Sartori destacou que a esposa de Juanil, Laura, teria o visto com Zezinho. A filha de Juanil declarou, em depoimento, que o pai contou que estava matando pessoas “ruins” de Campo Grande e que fazia parte de uma organização criminosa.
Segundo o delegado, Yasmin afirmou que o pai a teria mandado fazer a filmagem de uma casa, quando foi arrumar o celular. Dias depois, quando os noticiários falavam sobre a morte de Matheus, ela teria reconhecido a casa de Paulo Xavier como o local que gravou as imagens.
Paulo Xavier disse à polícia que, dias antes da execução de Matheus, teria visto um Ônix em frente à sua casa e teria reconhecido Zezinho como um dos ocupantes do carro, por causa de toda a repercussão relacionada à morte do delegado Paulo Magalhães, pelo qual José Roberto foi condenado.
A polícia apresentou a Paulo fotos de vários suspeitos, entre eles, Zezinho, que foi reconhecido pelo depoente. Juanil teria dirigido o automóvel e Zezinho feito os disparos, segundo o depoimento de hacker contratado para monitorar PX.
Conforme Sartori, Marcelo Rios foi preso com arsenal e começou a dar informações sobre o caso porque estaria temeroso pela vida da esposa, Eliane. Ele suspeitava que a casa dele estivesse grampeada com escutas ambientais e teria sido orientado a se mudar.
Eliane mostrou interesse em entrar no Programa de Proteção a Testemunhas, conforme depoimento do delegado.
Ela afirmou que Marcelo Rios estaria em situação ruim perante a organização porque foi incumbido de contratar pistoleiros para a execução de Paulo Xavier, mas teria contratado os mesmos pistoleiros de outros crimes, como Marcel Colombo, conhecido como “Playboy da Mansão”.
Enquanto Eliane ficou no Garras, ficou em posse de seu celular. Inserção de Eliane no Programa de Proteção a Testemunhas estava sendo providenciada juntos aos promotores do Gaeco.
Para Sartori, os réus estão envolvidos com crimes de homicídio, jogo do bicho, extorsões e manutenção de armas. Seria uma organização muito capilarizada, em especial, no âmbito da Segurança Pública. De acordo com ele, as apurações tiveram que ser feitas de forma compartimentada e cautelosa, a fim de não comprometer o progresso das investigações.
Perguntas da defesa
Advogado de defesa, Alexandre Padilha questionou se houve “a prova da prova” em relação ao depoimento de Laura. Diferente de ontem (17), quando bateu-boca com a delegada Daniela Kades, o defensor usou tom de voz calmo.
O delegado respondeu que, se isso fosse feito, o processo de investigação se arrastaria até a prescrição do crime.
Márcio Vidal, advogado de Jamil Name Filho e Vlad, questionou sobre oitiva de Eliane.
Sartori explicou que a testemunha teria dormido no Garras com os filhos. Uma das crianças teria dormido em um sofá, na sala do delegado, e teria feito xixi.
Até o momento, a defesa tenta se apegar a tecnicalidades para deslegitimar as oitivas de testemunhas.
Luiz René Gonçalves do Amaral, advogado do ex-guarda Marcelo Rios, questionou o envolvimento do cliente com Zezinho. Ao que o delegado explicou que a apreensão do arsenal na casa em que ele estava, junto com aparelhos que só foram encontrados em posse de José, aparentam grande ligação entre os dois. As armas usadas no crime contra Matheus, no entanto, nunca foram encontradas.
O advogado também questionou se houve perícia no bloqueador de sinais encontrado com Marcelo Rios. Neste ponto, a testemunha afirmou que não, posto que o aparelho não é auditável, e acrescentou que, segundo Eliane, Jamilzinho deu um veículo roubado de presente a Marcelo Rios.
Nefi Cordeiro, advogado de Jamil Name Filho, questionou credibilidade dos delegados como testemunhas, afirmando que eles estão interpretando os autos, trabalho relegado aos juízes. Ele manteve a direção de descredibilizar o testemunho de Sartori e questionou se o delegado já teria inserido alguém no Programa de Proteção a Testemunha. Delegado afirma que nunca o fez, mas que procedimento ficou a cargo do Ministério Público.
Eugênio Malavasi, defesa de Jamil Name Filho, em pé, questionou se houve formalização do pedido de permanência da depoente no alojamento do Garras. Testemunha afirmou que não.
Malavasi questionou, também, sobre a formalização do pedido de inserção no programa, ao que o delegado afirma que tratativas foram pessoais.
O caso
Jamil Name Filho, Vladenilson Daniel Olmedo e Marcelo Rios são julgados como mandantes da morte de Matheus Xavier Coutinho, 17 anos. Ele teria sido assassinado por engano, no lugar do pai, o ex-policial militar Paulo Roberto Xavier.
Juanil Miranda Lima e José Moreira Freires, o Zezinho, seriam os executores do plano. A briga entre a família Name e Paulo Xavier, também conhecido como PX, ocorreu porque o ex-policial trabalhava para os acusados, mas depois foi fazer segurança para o advogado Antônio Augusto.
A família Name, então liderada por Jamil Name, falecido aos 82 anos, teria rixa com Antônio Augusto por conta da titularidade da Fazenda Figueira, em Bodoquena, que tem alto valor financeiro. Ele fez a transferência da propriedade para Associação das Famílias para Unificação da Paz Mundial.
PX chegou a dizer que foi intimado a deixar a cidade antes da morte de Matheus, por ter se tornado inimigo do clã Name. Durante a investigação, os policiais descobriram que um técnico de informática atuou como ”hacker” e ajudou a monitorar Paulo Roberto em tempo real por vários dias.
No final da tarde de 9 de abril de 2019, os executores viram uma caminhonete S-10 sair da garagem da casa e abriram fogo, inclusive com uma metralhadora AK-47. Ao invés do pai, Matheus dirigia o veículo para buscar o irmão na escola.
O rapaz foi baleado e socorrido por Paulo Roberto. Ele viu uma equipe do Corpo de Bombeiros atendendo um acidente de trânsito na Avenida Mato Grosso e gritou por socorro. Matheus foi levado para a Santa Casa, mas não resistiu.
Mais três réus deveriam participar do julgamento. Jamilson Name, que morreu no Presídio Federal de Mossoró, RN, por problemas de saúde, e Zezinho, que faleceu em confronto policial. Juanil é considerado foragido.
A acusação é formada pelos promotores Luciana do Amaral Rabelo, Moisés Casarotto, Gerson Eduardo de Araújo e Douglas Oldegardo. Mãe de Matheus, a advogada Cristiane Almeida Coutinho atua como assistente de acusação no processo.
FONTE: TOPMIDIA NEWS