O ex-policial militar, Almir Monteiro dos Reis, de 49 anos, foi transferido no domingo (20.ago.23) para a Penitenciária Central do Estado (PCE), conforme informado pela Secretaria Adjunta de Administração Penitenciária (SAAP).

A polícia diz que ele pode ter matado a advogada Cristiane Fonseca Castrillon, de 48 anos. Ela foi encontrada morta dentro de um carro no Parque das Águas, em Cuiabá (MT), no final da tarde do dia 13 deste mês. De acordo com peritos da Civil, ela foi espancada e asfixiada.

Almir é comprometido e teria aproveitado o momento de plantão da namorada, para ir a um bar onde conheceu Cristiane e pouco depois atraiu ela para a casa onde vivia no Bairro Santa Amália, em Cuiabá. Lá Almir espancou, violentou e asfixiou Cristiane.

Durante as investigações, a polícia chegou até o último local em que a vítima esteve, antes da morte. Imagens das câmeras de segurança mostram o veículo da vítima saindo da casa do ex-policial militar, já na manhã do dia 13, com o suspeito na direção.

O investigado disse aos policiais que ele e Cristiane teriam passado a noite juntos. Segundo a polícia, ele entrou em contradição várias vezes sobre a morte da advogada e como ela teria chegado à casa dele.

Durante buscas na casa do ex-PM, foram encontrados vestígios de sangue e sinais de que Almir teria lavado parte do lugar antes da polícia chegar.

O delegado Ricardo Franco, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), revelou que o ex-policial militar levou a namorada para sua casa após o crime. “Ele tirou a vítima morta da casa dele com o carro dela, por volta de 8h30. As câmeras de segurança mostram isso. Ele deixa ela no Parque das Águas e telefona para uma namorada para ir para casa dele”, disse o investigador ao site mato-grossense MídiaNews. “Ela está dando depoimento e vai ajudar no inquérito para ratificar a dissimulação dele. Ela se sentiu enganada e se sentiu usada para encobrir o crime”, apontou Franco.

Almir foi preso em flagrante e teve a prisão convertida para preventiva em audiência de custódia na última semana.

QUEM É ALMIR

O suspeito ingressou na PM em 13 de novembro de 2000. Contudo, em 21 de março de 2013 foi instaurado processo administrativo para sua demissão por roubo.

A expulsão de Almir foi publicada no Boletim Geral Eletrônico n.º 1211, em 19 de março de 2015, que concordou com o relatório conclusivo do Conselho de Disciplina, que decidiu pela demissão do ex-policial.

QUEM FOI CRISTIANE 

“Honesta, digna, sorridente e estudiosa”, foram adjetivos destinados para a advogada Cristiane Castrillon da Fonseca Tirloni. É o que disse uma amizade de duas décadas, Glaucia Amaral, que atualmente preside a Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT).

Cristiane deixou duas filhas, uma de 20 e outra de 14 anos.

Há mais de oito anos, Cristiane trabalhava na defesa de crianças vítimas de violência na Justiça. Nos últimos meses, ela atuava na formação jurídica por meio de cursos para novos empreendedores que queriam abrir o primeiro negócio.

A disse ao g1 que a sociedade mato-grossense precisa refletir sobre o caso, tendo em vista os altos índices de violência contra a mulher: “Quando esse tipo de coisa acontece, a gente precisa , como sociedade, respeitar a vítima. Ela é a vítima. Uma pessoa digna e honesta que nada fez de ilícito na vida. E foi vítima de alguém que não merece para questionar qualquer aspecto da vida dela. Nós, como sociedade, precisamos mudar para que mais mulheres não sejam vítimas desse tipo de feminicídio”, afirmou.

A última conversa que a amiga teve com Cristiane foi sobre a morte do esposo dela por Covid-19, em 2021.

“Conversamos logo após o falecimento do marido dela por Covid. A Cristiane me contava que estava dedicada a cursos de formação de empreendedorismo e a gente estava com dificuldade de se encontrar por causa do trabalho. Mas ela sempre estava feliz pelas conquistas e pelas filhas. Ela estava de cabeça erguida, positiva”, contou.

Antes disso, Cristiane atuava no acompanhamento das crianças vítimas de violência que ficam em juízo e na Casa Lar — um projeto da Justiça junto com a administração pública que abriga crianças e adolescentes órfãos.

“Cristiane foi responsável pelo acompanhamento das crianças vítimas de violência, que ficavam em juízo e na Casa Lar. Então, ela tinha muita sensibilidade. Muito positiva e sempre sorrindo. Uma boa amiga e uma pessoa extremamente honesta, lúcida e sábia. Ela era dedicada e estudiosa. É uma tragédia”, disse.

Amaral ainda disse que a Ordem deve acompanhar este caso até o final, como todos os outros de feminicídio, e destacou que esta é a segunda advogada que morre em menos de seis meses por violência contra a mulher.

“Mato Grosso precisa parar e refletir por quê que os homens acreditam que é tão simples e que não vá ter consequências da morte de uma mulher. Precisamos discutir as penas e a condenação. Precisamos discutir tudo isso,” ressaltou.

NÚMEROS

Segundo o anuário da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Cuiabá (DEDM), 6.081 mulheres foram atendidas no ano passado, o que representa um aumento de 95% de vítimas.

A presidente da OAB-MT, Gisela Cardoso, afirmou ao g1 que todas as instituições e a sociedade em geral devem se unir neste momento para buscar formas de combater a violência contra a mulher de maneira mais efetiva.

“Por mais que façamos isso, parece que não conseguimos evoluir. Os números estão aí. O Brasil, se não me engano, é o 5º país que mais mata mulheres no mundo. Então, a sociedade precisa estar mais unida e os Poderes mais empenhados. Precisamos buscar soluções contra essa violência absurda”, afirmou.

Em relação ao caso de Cristiane ser o segundo registrado neste ano, Cardoso destacou que esse ódio contra as mulheres precisa ser combatido.

“Nós tivemos no início do ano a morte trágica e brutal da doutora Thays, assassinada na porta do edifício da sua mãe, junto com seu namorado. Morta pelo ex que não aceitava o fim do relacionamento. O feminicídio continua fazendo vítimas. O crime de ódio, de desprezo contra as mulheres. A gente precisa combater esse ódio, essa discriminação. A gente precisa, cada vez mais, combater a violência contra as mulheres desde a violência psicológica para que não chegue ao último degrau, que chegou à doutora Cristiane”, finalizou.

AJUDA

Medida Protetiva online – Pode ser solicitada pelo site. Clique em “Solicitar Medida Protetiva” e depois em “Iniciar Pedido de Medida Protetiva”.

SOS Mulher – Botão do Pânico – Aplicativo que deve ser instalado no celular e poderá ser utilizado para mulheres com medidas protetivas determinadas judicialmente e que morem em em Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres e Rondonópolis, cidades com unidades do Ciosp instaladas.

Fonte: g1

 

FONTE: MS NOTICIAS