O ano eleitoral começou com promessas de visitas dos dois maiores protagonistas do cenário político brasileiro, ainda bem polarizado. Depois de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmar na segunda-feira (15) que pretende vir a Mato Grosso do Sul, mais precisamente em Porto Murtinho, celebrar um acordo sobre a tarifa da energia de Itaipu com o presidente do Paraguai, Santiago Peña, nesta sexta-feira foi a vez de deputados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciarem que ele virá ao Estado, provavelmente no mês que vem, para um evento de filiação em massa.

Se os dois anúncios se tornarem realidade, é possível que Lula e Bolsonaro estejam no Estado em datas muito próximas, cumprindo uma agenda que foi esperada durante todo o ano de 2023 e que não se realizou.

O presidente da República chegou a ensaiar uma ida a Três Lagoas para participar do anúncio da fábrica de fertilizantes da Petrobras.

A retomada oficial da obra, porém, embora todo mundo diga que vai acontecer, inclusive o próprio presidente, ainda depende de aprovação do Conselho de Administração da Petrobras e de uma formalização.

No caso de Jair Bolsonaro, que passou todo o ano de 2023 ora passando um período sabático nos Estados Unidos, após ter deixado a Presidência, ora muito reservadamente em Brasília, enquanto algumas denúncias que esbarravam nele avançavam no Supremo Tribunal Federal (STF), ora voltando a fazer política mais ativamente no segundo semestre, também prometeu vir a Mato Grosso do Sul, mas não cumpriu a promessa.

Ainda não se sabe se é apenas coincidência o fato de quatro dias depois de Lula anunciar seu desejo de retornar a Mato Grosso do Sul os deputados bolsonaristas Rafael Tavares, estadual, do PRTB, e Marcos Pollon, presidente do PL no Estado, anunciarem o retorno de Bolsonaro a MS.

O ex-presidente virá, segundo ele, para um evento de filiação em massa do partido.

Lula não vem a Mato Grosso do Sul há mais tempo. Esteve pela última vez há mais de uma década, apesar de ter feito visitas frequentes durante seus dois primeiros mandatos, época em que mantinha boas relações com os dois governadores do Estado da mesma época em que governou o Brasil: Zeca do PT, em seu segundo mandato, e depois André Puccinelli (MDB), em seu primeiro mandato.

Xadrez eleitoral de MS

Embora o anúncio da visita de Lula a Mato Grosso do Sul tenha um tom muito mais administrativo – trata-se da celebração de um acordo com o Paraguai sobre Itaipu, ao qual ele e o seu homólogo paraguaio Santiago Peña pretendem chegar –, não se pode esconder que a vinda do presidente ao Estado traz mais visibilidade a seus aliados que querem marcar presença nas eleições municipais.

O PT figura como azarão nas principais cidades, como Campo Grande e Dourados, com os candidatos Camila Jara e Tiago Botelho, mas, ao contrário das eleições da década passada, seus nomes não são mais vistos como mero coadjuvantes nas eleições. A máquina federal e o efeito Lula impõem respeito aos adversários.

Para embaralhar ainda mais o jogo político, o deputado federal Vander Loubet (PT), liderança experiente do Estado, tem feito articulações estratégicas. Uma delas foi o convite aceito pela ex-deputada federal e candidata derrotada ao governo do Estado Rose Modesto (União Brasil) para aceitar a Superintendência para o Desenvolvimento da Região Centro-Oeste (Sudeco), nomeação que teve a benção do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do presidente Lula.

Com Rose na Sudeco, na estrutura do governo Lula e mais perto do PT, uma ala do eleitorado de centro e também evangélica de Campo Grande e de parte de Mato Grosso do Sul é deslocada mais para perto da esquerda, ou pelo menos neutralizada à extrema direita, conforme uma fonte importante na articulação política – que pediu para não revelar seu nome – disse ao Correio do Estado.

Do lado da extrema direita ainda há estudos sendo feitos nas grandes cidades. Em Dourados, o prefeito Alan Guedes e o vice-governador Barbosinha, embora pertençam ao mesmo partido, não se entendem e não estarão juntos nas eleições, em que Guedes tentará continuar no cargo.

Em Campo Grande, Adriane Lopes, que começou o mandato no minúsculo Patriota mas se filou ao PP sob a benção da senadora Tereza Cristina, tem a máquina na mão, mas ainda trabalha para viabilizar sua candidatura. É bom frisar que ela nunca disputou uma eleição.

Do lado do PP, há um acordo – do qual fazem parte Pollon e Tereza Cristina – para Bolsonaro apoiar Adriane.

O ex-presidente, porém, já deu alguns sinais de que esse acordo não está tão firme assim. Já disse várias vezes que o PL, partido com o maior fundo eleitoral, terá candidatos em todas as capitais brasileiras.

E mais: já exaltou várias vezes seu fiel seguidor na Capital, o ex-deputado e candidato derrotado no segundo turno para o governo do Estado Capitão Contar.

Ainda em Campo Grande, enquanto o cenário da esquerda parece estar definido e na direita Adriane parece caminhar para a reeleição, o campo do centro insere ainda mais dois nomes de pré-candidatos: o deputado federal Beto Pereira (PSDB), que tem feito uma intensa pré-campanha, e o ex-prefeito e ex-governador André Puccinelli (MDB), que depois de ter ficado fora do segundo turno das eleições de 2022, a primeira que disputou depois de ter deixado o governo em 2014, e de ter ficado preso em 2018, ainda busca uma redenção nas urnas.

Fonte: Correio do Estado