Em um áudio e mensagens repletas de crimes de lgbtfobia, transfobia e ódio, o pastor Neto Guerra (Ramiro Silva Neto, de 40 anos), que se diz liderança da Igreja Nacional da Salvação, de Jardim (MS), atacou o movimento LGBTQIAPN+, se referindo a causa como um Cavalo de Tróia, história oriunda de um mito da epopeia grega.
“E é o que eu falei, como Cavalo de Tróia. O Cavalo de Tróia era um cavalo de madeira, que os inimigos ali quando quiseram dominar Tróia, se não me foge a memória, eles ficaram dentro daquele cavalo de madeira e quando colocaram dentro de Tróia aquele cavalo, os inimigos saíram e dominaram aquele lugar. Os inimigos dominaram! Então, o movimento LGBT é um cavalo de Tróia, que está sendo introduzido dentro da prefeitura e se não for barrado agora, lá na frente nós teremos inimigos dominando a cidade. Quando eu digo inimigo, eu não estou falando de oposição ‘a’, oposição ‘b’, ou fulano, não. Eu estou falando geral. O movimento LGBT é danoso geral, faz mal para todo mundo”, disparou o extremista religioso.
Somente a fala acima, pode render ao pastor alguns anos de cadeia.
Vamos lembrar que desde 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil passou a considerar a homofobia crime imprescritível e inafiançável.
Na decisão, o STF entendeu que se aplicava aos casos de homofobia e transfobia a Lei do Racismo (Lei n 7.716/1989). O artigo 20 da lei em questão, prevê pena de um a três anos de reclusão e multa para quem incorrer nessa conduta. Há, ainda, a possibilidade de enquadrar uma ofensa homofóbica como injúria, segundo o artigo 140, §3º do CP.
Além do pastor, outro indivíduo radical identificado nas conversas como Joelson Araújo (Joelson de Araújo Fleitas, de 35 anos), profere diversas ofensas à comunidade LFBTQIAPN+, se utilizando de ironias e reclamando de não poder praticar homofobia livremente.
O pastor faz questão de tranquilizar o extremista aliado, afirmando que podem sim combater a existência de representantes da comunidade LGBTQIAPN+ nas repartições públicas. “Nós podemos opinar, o Joelson [alguém do grupo], nós podemos opinar, porque não somos homofóbicos. A questão aqui não é você. A gente não está aqui atacando os homossexuais, pelo contrário. Que o que a pessoa faça dentro de quatro paredes, a vida é dela, a opção é dela. Não estamos aqui para nos meter o que a pessoa é a na vida particular dela… A questão é quando sai da vida particular e passa para a vida pública. Quando é introduzido dentro da prefeitura algo que é danoso, o movimento LGBT trás a degradação da sociedade”, argumenta o extremista religioso.
Os ataques homofóbicos foram feitos pelo grupelho num chat do WhatsApp chamado “Fala meu Povo Jardim/Guia Lopes/Bonito”. Eles iniciaram os ataques, após a servidora Naomi, de 18 anos, que assumiu a Coordenadoria LGBTQIA+ e Igualdade Racial de Jardim (MS), realizar ações em prol da comunidade e por ela colocar uma bandeira arco-íris, símbolo da Diversidade, nas dependências da prefeitura.
Além de ataques, o grupelho radical partilhou fotos da servidora no grupo se referindo a ela pejorativamente e tecendo comentários homofóbicos e transfóbicos.
A servidora foi à Delegacia de Polícia Civil na tarde desta 6ª.feira (8.mar.24) e registrou dois Boletins de Ocorrência. Um boletim contra os seguintes suspeitos de Lgbtfobia:
- Marileia Louveira Valhovera, de 35 anos;
- Joelson de Araújo Fleitas, de 35 anos;
- Ramira Silva Neto, de 40 anos;
E um segundo boletim por Injúria, acrescentando a lista de suspeitos Wender Correa Bogado, de 33 anos.
Eis a troca de mensagens entre o grupelho extremista:
O QUE DISSE A PREFEITA
A prefeita de Jardim, Clediane Areco Matzenbacher, gravou um vídeo em que condena o ataque à servidora, explicando para que servem as coordenadorias de sua gestão. “Toda forma de discriminação e preconceito é CRIME e a nossa gestão não aceitará nenhum tipo de violência! A Coordenadoria LGBTQIA+ e Igualdade Racial foi criada pelo ex-governador Reinaldo Azambuja, em 2021, e Jardim foi uma das cidades que aderiu essa política. Nossa gestão é para TODOS e jamais aceitaremos qualquer discriminação seja de gênero, oriental sexual, idade, religião, cor ou classe social”, explicou a Chefe do Executivo.
FONTE: MS NOTICIAS