Os irmãos Marcel Martins Silva e Valter Ulisses Martins, que segundo a Polícia Federal comandavam esquema criminoso de tráfico de cocaína para estados do sul do país e outros grandes centros também trabalhavam com outros tipos de entorpecentes. Segundo a investigação, há indícios de que o grupo também traficava drogas sintéticas.

De acordo com áudios obtidos pela Polícia Federal após a quebra de sigilo telefônico dos investigados, em certo momento Valter, que é quem cuidava do trato com os fornecedores, fala de um outro produto que o grupo iria trazer para o Brasil.

“São múltiplas referências ao produto cristal, que em alguns áudios é tratado como produto diverso da exportação, indicando tratar-se de outro tipo de droga ou de mercadoria ilícita daquela que é ordinariamente exportada, possivelmente uma droga sintetizada”, avalia os investigadores da PF.

O grupo foi alvo da Operação Prime, deflagrada em maio deste ano e que mirou, além dos irmãos Martins, outros dois grupos que fariam o tráfico de cocaína e que utilizavam doleiros da fronteira entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, para lavar o dinheiro fruto das atividades criminosas.

Ainda segundo a investigação, áudio trocados entre Valter e diversas outras pessoas demonstravam que ele seria o responsável pela logística do tráfico de drogas “bem como de repasse de valores para doleiro na região de fronteira”.

Consta no inquérito da PF que foram encontrados  104 áudios em que eles detalhavam algumas operações.

“Há múltiplas referências a exportação ou mercadoria não especificada e também a utilização dos termos chá (usualmente utilizado no âmbito da criminalidade para se referir à maconha), matéria, peixe, indicando que há possibilidade de que sejam diversos os produtos ilícitos ou drogas comercializadas/ importadas/ transportadas. Seja como for, alguns detalhes chamam muita atenção, e o contexto geral do teor dos áudios trocados demonstra com altíssima probabilidade tratar-se carga ilícita”, diz a PF sobre uma das conversas.

Em outro ponto, os investigadores encontraram áudios onde “diversos interlocutores não identificados debatem o pagamento de quantias devidas, na casa das dezenas, centenas de milhares ou mesmo milhões de dólares e/ou reais, e em alguns casos explicam que o pagamento dependeria de revenda e arrecadação dos valores decorrentes do produto, que era repassado periodicamente ao arrecadador, algo que é absolutamente heterodoxo em dinâmicas negociais normais de coisas lícitas que se compram sob carregamento e transporte como carga”.

As mensagens também mostram que Valter cobra seus “clientes” com veemência. Em outro momento, uma terceira pessoa chega a ameaçar o emprego de violência caso o valor da carga não seja pago, mesmo em caso de que a cargo tivesse sido “apreendida”.

“Valter cobra com veemência os pagamentos, chegando a ameaçar o interlocutor pela demora, independentemente de a carga ter sido apreendida (BO na estrada). Outros interlocutores também aventam a possibilidade, ainda que implicitamente, de empregar violência para realizar as cobranças, o que demonstra que o negócio claramente escapa do ordinário. Referências a preocupações com a instauração de procedimentos investigativos policiais, bem como com apreensões de mercadorias e prisão de terceiros, dão ainda mais elementos sobre a clandestinidade empregada”, analisa a PF.

INVESTIGAÇÃO

Matéria publicada no dia 24 de junho pelo Correio do Estado mostrou que a quadrilha que seria comandada pelos irmãos Martins tinha um sofisticado sistema de acompanhamento da droga traficada para cidades das regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Caminhonetes e caminhões que traficavam cocaína a partir de um depósito logístico em Campo Grande, e também da fronteira com o Paraguai, em Dourados e Ponta Porã, eram rastreados via satélite.

Trecho do inquérito que resultou na Operação Prime indica a gestão logística da frota de caminhonetes e caminhões à serviço do tráfico. “verifica-se que Valter Martins instala nos veículos utilizados pelo grupo criminoso equipamentos de rastreamento que permitem indicar a localização precisa, tanto no Brasil quanto no Paraguai”, aponta a investigação.

Para que a droga chegasse ao Brasil, os investigadores da PF identificaram que agentes da polícia paraguaia teriam sido “comprados” pelos traficantes, como mostrou matéria do Correio do Estado.

Em uma das conversas de Valter Ulisses Martins, 27 anos, que ao lado de seu irmão, Marcel Martins Silva, comandava o esquema a partir das mansões onde moram em Dourados, os federais identificaram uma conversa com um integrante da quadrilha, em que ele afirma ter tido “problema com a polícia do Paraguai” e que teve de fazer um acerto de US$ 300 mil (R$ 1,67 milhão na cotação atual) com os policiais do Paraguai.

Saiba

Na data da operação, apenas Marcel Martins Silva foi preso, Valter, que estava no Paraguai, está foragido.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO