O mestre em economia, Eugênio Pavão, explica que a inadimplência é a incapacidade de quitar as dívidas, levando em conta as condições atuais dos agentes econômicos, sendo um dos fatores determinantes para a situação a existência de uma crise econômica no Brasil.
“Esse cenário foi alterado na pré-pandemia, com queda nos juros, mas com processo inflacionário, desemprego, etc, levando parcelas da população a se utilizar do dinheiro, cartão de crédito, cheque especial, e até agiotas. O resultado foi uma situação de penúria”.
Detalhando a situação que corroborou para elevação da inadimplência, Pavão destaca que a pandemia foi um forte agravante. “Esse quadro se aprofundou, trazendo queda do PIB, redução da atividade econômica e queda da renda. Isso fez com que o que estava ruim se tornasse pior”, ponderou.
O economista relata ainda que famílias tiveram que fazer escolhas. “Optar em sobreviver, pagar dívidas, pagar aluguéis, demais contas mensais deixadas para segundo plano. Isso tudo (conjuntura microeconômica e macroeconômica), fez aumentar a inadimplência, que teve como impacto a inflação, com redução da renda real”, avalia Pavão.
O mestre em economia Lucas Mikael reitera que desde este período as famílias enfrentam um aumento significativo em suas dívidas, atingindo níveis preocupantes, o que tem tornado difícil a quitação. “Essa situação é complexa e requer um tempo considerável para ser completamente sanada”, avalia.
Mikael pontua que mesmo diante da retomada dos empregos formais, muitos consumidores estão lidando com uma renda reduzida e excesso de contas em atraso, o que tem tornado o processo de reequilíbrio financeiro um desafio constante.
Para o economista Eduardo Matos o aumento gradativo do índice está diretamente ligado à inflação, que conforme o analista está em crescimento desde 2023, quando não havia uma pressão inflacionária, mas onde os preços já estavam em um patamar bastante elevado.
“Ao mesmo tempo, a renda média da população não acompanhou o aumento dos preços. Ou seja, se ganha o mesmo e aquilo que se consome subiu de preço. Então, no momento de necessidade, as pessoas acabam apelando para o uso do cartão de crédito sem o controle”, avalia Mato.
DADOS
Entre os estados brasileiros, Mato Grosso do Sul aparece entre os maiores níveis de inadimplência do País, ocupando o 6º lugar. No mês de abril o Estado chegou 50,20%, ou seja, mais que a metade da população economicamente ativa está com o “nome sujo”. Número que passou para 50,44% em maio.
No top três de unidades federativas com maior índice de negativados estão: Rio de Janeiro (54,16%), Distrito Federal (52,74%), Mato Grosso (52,51%). Segundo levantamento da Serasa, 44,04% da população no País está inadimplente.
Com relação ao perfil dos inadimplentes, os sul-mato-grossenses de 26 a 40 anos se destacam na faixa etária, representando 35,4% do total dos inadimplentes. A faixa etária entre 41 e 60 anos representa 35,0%; acima dos 60 anos, 17,6% e até os 25 anos, 12%.
No âmbito nacional a ordem das faixas etárias se repetem, sendo a população entre 41 e 60 anos os maiores responsáveis com 35,2%, seguido pelos de 26 a 40 anos (34,2%); acima de 60 anos (18,9%) e até os 25 anos 11,8%.
Ainda de acordo com informações do Mapa da Inadimplência, o inimigo número um das restrições segue sendo o cartão de crédito e débitos com banco, onde 31,27% das dívidas no mês de maio, em MS, foram contraídas pelo meio.
Em segundo lugar estão as contas com serviços (17,60%), seguido pelas financeiras (17,06%). O varejo, aparece, em MS, com 13,03% e ainda contas básicas, como, por exemplo, água, energia elétrica e gás.
Os homens representam a maior parcela inadimplente no Estado, sendo 52,2%, ao passo que mulheres aparecem com 47,8%.
Em análise, Pavão enfatiza ainda que no campo das finanças pessoais, a facilidade de uso de “dinheiro emprestado”, com juros exorbitantes, são os principais lubrificantes da inadimplência, movidos pelo juro de cartão de crédito, cheque especial, entre outros artifícios que minam a tendência econômica atual e futura.
“A saída para esse problema é a educação financeira desde os primeiros anos da escola. É a conscientização de que dinheiro fácil é a principal armadilha contra perda de patrimônio”, finaliza.