Demostrando a capacidade de superar os desafios econômicos da atualidade a taxa de inadimplência da população do agronegócio de Mato Grosso do Sul foi a menor da região Centro-Oeste, no primeiro trimestre de 2024. De acordo com dados da Serasa Experian, apenas 6,5% dos produtores rurais que atuam como pessoa física no Estado estavam inadimplentes nos primeiros três meses do ano.

Apenas Goiás tinha um índice abaixo de Mato Grosso do Sul, no entanto, o Estado assumiu a posição como menor no ranking da região, uma vez que entre junho e setembro do ano passado Goiás tinha o menor índice de inadimplentes com 6,7%, passando para 7,0% em 2024.

Dentre as demais unidades federativas que integram a região Centro-Oeste do País, além de MS e GO estão Mato Grosso com 7,8% e o Distrito Federal, com o maior porcentual de produtores com contas no vermelho, considerando somente dívidas que venceram por mais de 180 dias e que foram contraídas em setores que se relacionam às principais atividades do agronegócio.

No quesito variação, Mato Grosso do Sul registrou o menor aumento porcentual da região, de janeiro a março deste ano, sendo 0,3%. Na comparação com o 3º trimestre de 2023 o movimento inverso ocorreu com uma queda de 0,3 ponto porcentual.

O doutor em economia Lucas Mikael destaca a economia agrícola diversificada do Estado, com cultivos como soja, milho, cana-de-açúcar, além de pecuária e suinocultura, como fatores que ajudam a mitigar os riscos de sazonalidade e variações de preços.

“Isso reduz a vulnerabilidade financeira dos produtores”, pontua.

De acordo com Mikael o acesso facilitado ao crédito rural por meio de programas governamentais, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e linhas de crédito específicas para o agronegócio, pode contribuir significativamente para a manutenção da saúde financeira dos produtores, reduzindo a necessidade de inadimplência.

Para o economista Eduardo Matos, o fato de Mato Grosso do Sul representar uma variação menor, decorre de alguns fatores como a vocação econômica do Estado para a produção agropecuária.

“De modo geral, isso contribui bastante, visto que o Estado foi fundado com bases econômicas fortes no agro, então há, de certa forma, uma expertise ali em ingerir esses recursos e atrelado a isso”, analisa.

Ainda conforme Matos, há também o fato de que no Estado há muitos latifundiários.

“Latifúndios esses que são heranças, são passados de geração em geração e, de certa forma, a experiência em administração, em gestão desse recurso, dessas propriedades, ela acaba sendo transferida”, pontua.

NACIONAL

No cenário brasileiro, os dados do primeiro trimestre de 2024 revelam que a inadimplência entre os produtores rurais que atuam como pessoas físicas, em setores essenciais para o agronegócio com dívidas vencidas há mais de 180 dias, alcançou 7,3%. Isso representa um leve aumento de 0,8 pontos porcentuais em comparação com o mesmo período de 2023.

Segundo Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian, esse aumento pode ser interpretado como relativamente positivo, dada a pequena variação trimestral de 0,8% ano após ano.

Ele observa que, apesar dos desafios enfrentados pelo setor no último ano, como a queda nos preços das commodities e o aumento dos custos dos insumos agropecuários, os índices de inadimplência no agronegócio se mantiveram praticamente estáveis.

“A maioria dos proprietários rurais brasileiros conseguiu cumprir com seus compromissos financeiros”.

Ao analisar os setores de inadimplência no primeiro trimestre de 2024, é evidente que as instituições financeiras, responsáveis pelo financiamento das atividades rurais, detêm a maior parte dos casos (6,5%).

Em contrapartida, os índices de inadimplência entre os proprietários rurais nos setores agropecuário e relacionados são muito baixos, com 0,1% e 0,2%, respectivamente.

Estas categorias abrangem uma variedade de produtos e serviços, incluindo agroindústrias de transformação, comércio atacadista agro, serviços de apoio ao agronegócio, produção e venda de insumos e máquinas agrícolas, além de seguradoras não-vida, transporte e armazenamento.

Pimenta observa ainda que, ao focar especificamente na cadeia agropecuária, o panorama é ainda mais otimista quanto à inadimplência.

“É importante destacar essa distinção, pois enquanto apenas 7 em cada 100 proprietários rurais estão inadimplentes de forma geral, neste segmento específico o percentual é praticamente insignificante.”

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Por outro lado, dados também da Serasa Experian mostram que o agronegócio de Mato Grosso do Sul, enfrentou um aumento significativo nos pedidos de recuperação judicial em 2023. No ano anterior, 10 produtores que operam como pessoas físicas no estado recorreram à justiça para evitar a falência.

Comparativamente, houve um salto notável nas solicitações de recuperação judicial, passando de zero em 2022 para 10 pedidos registrados no período de 12 meses em 2023. Em contraste, apenas um empresário havia recorrido a esse recurso em 2021, conforme a Serasa.

Staney Barbosa Melo, economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), destaca que as recuperações judiciais refletem menos o volume e mais o contexto econômico atual.

“Desde 2023, os mercados agropecuários enfrentam uma crise. No ano passado, enfrentamos baixos preços dos grãos, e este ano, além dos baixos rendimentos, também enfrentamos problemas de produtividade e clima, especialmente no Centro-Oeste do Brasil”.

Como publicado pelo Correio do Estado em março deste ano, Marcelo Pimenta, responsável pelo agronegócio na Serasa Experian, afirma que a expansão dos pedidos de recuperação judicial já era esperada, dadas as condições adversas como questões climáticas e desafios econômicos nacionais e internacionais.

“Esses fatores têm impactado negativamente a estabilidade financeira no campo.”

Melo acrescenta que a conjuntura de altas taxas de juros no País limita e encarece o crédito rural, afetando diretamente a capacidade dos produtores rurais de cumprir com seus compromissos urgentes.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO