Próximo do início de um novo ciclo para a agricultura, a falta de chuvas pode mais uma vez impactar negativamente. Com o encerramento do vazio sanitário previsto para o dia 15, os produtores já começam a temer um cenário prejudicial, com a possibilidade de atraso para o início do plantio da safra de soja 2024/2025.
O presidente do Sindicato Rural de Dourados, Ângelo Ximenes, que também é produtor rural, pontua que as questões climáticas afligem o setor, tendo em vista que a agricultura é uma indústria de céu aberto. “Como nós estamos vindo de um veranico muito forte, uma estiagem forte, então provavelmente não teremos como iniciar o plantio logo após o fim do vazio sanitário”, relata.
De acordo com ele, caso não ocorra uma chuva volumosa na faixa entre 60 mm e 70 mm que traga um considerável teor de umidade, não haverá semeadura.
“Não se consegue plantar logo na primeira chuva, porque o solo é uma esponja, ele vai absorvendo enquanto não estiver adequado. Não adianta querer plantar, pois se não tiver chuvas na sequência, acaba se perdendo. E o custo operacional hoje é muito alto, o que torna tudo muito mais preocupante”, analisa o produtor.
Para o economista Staney Barbosa Melo, do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, com o fim do vazio sanitário os agricultores devem se atentar para as condições de clima, as quais podem ser desafiadoras nesse início de temporada.
“Estamos em um período de muita estiagem e poucas chuvas no Estado, não sendo um cenário ideal para o início do plantio da soja. No ano passado, tivemos essa condição mais estendida, o que atrasou nosso calendário de plantio. Com isso, fomos um dos estados mais prejudicados pelas condições climáticas, com perdas próximas a 20% na produção de soja e de 36% na produção de milho, o que pode voltar a se repetir”, ressalta.
Ainda sem projeções oficiais para Mato Grosso do Sul, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que, nacionalmente, a safra de soja 2024/2025 seja de 169 milhões de toneladas.
CLIMA
Apontado como principal desafio para a prática agrícola, o agrometeorologista da Embrapa Agropecuária Oeste Danilton Flumignan enfatiza que o clima não tem sido algo fácil de se prever.
“A exemplo de 2024, um ano de El Niño, normal ocorrer calor e chuvas. Ficamos só com o calor dessa vez, bem acima do normal, por sinal. Por outro lado, fomos castigados com
a seca, principalmente na safrinha”, exemplifica.
No caso de La Niña, que é o previsto para a próxima safra de soja, Flumignan esclarece que normalmente Mato Grosso do Sul não sofre grandes impactos com secas como a Região Sul.
“Pode acontecer, mas não é o normal. Vai depender de como vão se alinhar as correntes de umidade vindas da Amazônia no período das chuvas. Isso, às vezes, pode nos favorecer ou então podemos não ser assim privilegiados”, frisa.
O agrometeorologista destaca também que o fator capaz de bagunçar ainda mais o cenário é justamente o risco de ter águas frias no Oceano Pacífico e no Oceano Atlântico ao mesmo tempo, fato que não é normal.
Nesse sentido, Flumignan reforça que o fenômeno La Niña costuma não preocupar durante a safra de verão
(soja). “Se em dezembro e janeiro chover bem distribuído, será um sucesso, uma vez que a soja tolera bem os desaforos da fase inicial e consegue compensar isso se chover bem na fase reprodutiva, principalmente no início”, explica.
VAZIO SANITÁRIO
O vazio sanitário é um período contínuo de pelo menos 90 dias durante é proibido plantar ou manter qualquer tipo de soja em qualquer estágio de desenvolvimento na área determinada. Essa prática fitossanitária é crucial para o controle de pragas como a ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi.
Seu objetivo é reduzir o inóculo da doença ao mínimo, a fim de diminuir os impactos negativos na próxima safra. Em Mato Grosso do Sul, o vazio sanitário teve início em 15 de junho e se encerra no dia 15 deste mês.
O calendário de semeadura é uma medida fitossanitária complementar ao período de vazio sanitário. Integrado ao Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS), essa estratégia tem como objetivo otimizar o uso de fungicidas e minimizar o risco de desenvolvimento de resistência da ferrugem asiática da soja aos produtos químicos utilizados em seu manejo.
Próximo do encerramento do período obrigatório, o diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro), Daniel Ingold, destaca a importância do cumprimento da determinação, obedecendo ao calendário para o Estado.
“O calendário é definido baseado em resultados de extensivas pesquisas e experimentos realizados por instituições renomadas em nosso estado. [Ele é] planejado para otimizar nossas práticas agrícolas e minimizar o risco e o impacto da ferrugem asiática, uma das maiores ameaças à nossa produção de soja”, salienta.
Conforme o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), para Mato Grosso do Sul, a semeadura de soja começa no dia 16/9 e vai até o dia 31/12. Para a definição das datas, o Mapa considera as condições climáticas, bem como as sugestões encaminhadas pelos estados brasileiros.
“Utilizamos dados técnicos, além de realizar reuniões com os órgãos estaduais de defesa vegetal de forma individual e regional, analisando de forma conjunta todas as propostas enviadas pelas unidades da Federação”, pondera a diretora do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Pasta, Edilene Cambraia.
FONTE: CORREIO DO ESTADO