O Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no País, cresceu 0,9% na passagem do segundo trimestre para o terceiro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado do trimestre foi puxado pelo crescimento dos serviços (0,9%) e da indústria (0,6%), enquanto a agropecuária recuou 0,9% no período. A redução da dependência econômica do setor primário é acompanhada por Mato Grosso do Sul.
No acumulado de janeiro a setembro, o PIB registra alta de 3,3%, enquanto na comparação com o terceiro trimestre de 2023 o indicador cresceu 4%. “Continuamos com o PIB crescendo e criando mais emprego e renda na mão dos brasileiros”, escreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu perfil nas redes sociais.
No período, os serviços (4,1%) e a indústria (3,6%) cresceram, enquanto a agropecuária (-0,8%) recuou.
“Assim como no crescimento contra o trimestre imediatamente anterior, nessa comparação interanual, destacam-se as atividades de serviços”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Apesar de as informações trimestrais não terem recorte regional, conforme já adiantou o Correio do Estado, Mato Grosso do Sul cresce acima da média nacional e deve finalizar o ano com a terceira alta seguida. Enquanto o governo federal estima crescimento de 3,2% para o Brasil neste ano, a perspectiva local é que Mato Grosso do Sul chegue a 5,82%.
Os analistas econômicos ouvidos pelo Correio do Estado apontam que a diversificação da matriz econômica é a base do crescimento do País como um todo. Para o mestre em Economia Lucas Mikael, a situação econômica de Mato Grosso do Sul está fortemente ligada à dinâmica nacional, mas com características regionais que podem resultar em algumas diferenças nos resultados.
“A queda da agropecuária no PIB nacional, que foi de -0,9% no terceiro trimestre de 2024, reflete uma combinação de fatores, como o impacto da produção de laranja e algumas culturas agrícolas, como milho e cana-de-açúcar. Mato Grosso do Sul, embora seja muito dependente da agropecuária, tem uma base produtiva mais diversificada, com destaque para a produção de soja, milho, carne bovina e celulose. Contudo, os desafios climáticos e os problemas específicos das culturas, como a redução da produtividade de milho, podem afetar diretamente o desempenho do setor agrícola no Estado”, analisa.
SETORES
O doutor em Economia Michel Constantino detalha que o PIB estadual está pautado no agro e na indústria:
“A agropecuária é mais sazonal, e por isso tem crescimento e momentos de redução, mas em Mato Grosso do Sul é diferente do nacional. O nosso crescimento é sempre maior que o nacional, um dos melhores por estado. Deve ter alguma tendência de queda pela sazonalidade e maior crescimento da indústria”.
Por outro lado, o crescimento do setor de serviços e indústria observado no Brasil também é algo que pode ter reflexos em Mato Grosso do Sul, ainda que em menor intensidade.
“O Estado tem visto um crescimento nos serviços, especialmente no setor de comércio e logística, impulsionado pelo aumento das atividades urbanas e pela crescente demanda por serviços em áreas como saúde, educação e tecnologia. A indústria também tem se fortalecido em algumas regiões, com destaque para a indústria de transformação, a produção de celulose e a indústria alimentícia”, analisa Mikael.
O mestre em economia Eugênio Pavão detalha que, em termos gerais, há uma ampliação do setor industrial.
“No setor industrial e de serviços, tem-se a recuperação no setor urbano, que sofre menos com as intempéries. Queda do desemprego urbano contra a produção agroexportadora, que utiliza de enorme quantidade de tecnologia e baixo capital humano”, diz ao Correio do Estado.
Mato Grosso do Sul tem ampliado o número de indústrias, principalmente focadas na produção de celulose. Conforme publicado pelo Correio do Estado, a expectativa é que somente no setor sejam investidos R$ 75 bilhões nos próximos anos. Além do crescimento e ampliação das indústrias sucroenergéticas, tanto processadoras de cana-de-açúcar quanto de milho.
O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, reforça que os investimentos públicos e privados em Mato Grosso do Sul garantem para os próximos quatro anos um crescimento na atividade econômica.
“O Estado deve continuar crescendo com a diversificação da produção agrícola, com a entrada da laranja, com forte crescimento da irrigação, permitindo uma terceira safra e aumento de produtividade. Uma ocupação de 4 milhões de hectares de áreas degradadas que serão distribuídas entre agricultura e floresta. E ainda a expansão dos negócios e a consolidação de todo o processo da industrialização e da agroindustrialização”, finaliza Verruck.
AGRO
As intempéries climáticas causaram uma redução nas últimas safras de soja e milho. Apesar disso, o momento para a agropecuária em Mato Grosso do Sul é de boas perspectivas. A arroba do gado voltou a passar dos R$ 310 e uma supersafra de soja é esperada, caso o clima continue cooperando.
“A possibilidade de uma nova supersafra é um fator que poderia sim amenizar a situação da agropecuária, especialmente se houver boas colheitas de soja e milho, que são as principais culturas no Estado. Uma boa safra pode impulsionar a renda dos produtores, a atividade de exportação e também aumentar a geração de emprego no campo”, afirma Mikael.
Pavão avalia que o PIB agropecuário está acompanhando as intempéries, que foi bastante castigado pelo inverno seco, provocando baixa produção, queimada descontrolada, etc.
“O PIB rural deve começar a se recuperar com as chuvas, que retornam antes tarde do que nunca. Mato Grosso do Sul com certeza terá um crescimento acima da média do PIB nacional no ano. Além disso, a diversificação agrícola no Estado também ajuda a mitigar os impactos de quedas em algumas culturas, já que a produção de carne, leite e até energia renovável [como biomassa] tem mostrado crescimento”.
Constantino corrobora que uma nova safra recorde deve colaborar com os resultados econômicos:
“As expectativas de supersafra devem ter efeito no início do próximo ano”.
FONTE: CORREIO DO ESTADO