“Quando estabelecemos as bases avançadas, inicialmente pensou-se nas atividades de prevenção aos incêndios florestais, educação ambiental, e diminuir o tempo de resposta, trazendo a estrutura para mais próximo. Mas a riqueza da interação com essa comunidade local, ela é muito maior, ultrapassa qualquer estratégia desenhada para essa região. Acaba sendo muito maior do que qualquer atividade de resposta. Interagir com a comunidade faz toda a diferença”, afirma a tenente-coronel do CBM-MS, Tatiane Dias de Oliveira Inoue.
A instalação desta e das outras dez bases avançadas em todo o Pantanal sul-mato-grossense tem grande importância nas ações de combate ao fogo na planície. Um dos casos mais representativos foi um grande incêndio florestal que ocorreu no ano passado, com origem no estado vizinho. E a atuação rápida da equipe que estava na base da Serra do Amolar impediu um grande desastre ambiental na área.
“Quando a gente diminui o tempo de resposta dos incêndios florestais, diminuímos a área que ele atinge. Em abril de 2024, havia um incêndio que estava vindo do Mato Grosso, e aceleramos a instalação dessa base do Amolar. A guarnição foi atuar junto com o pessoal do outro lado do Mato Grosso, não esperamos chegar ao nosso estado. Mesmo assim, pelas condições atmosféricas, esse incêndio ultrapassou a margem e atingiu apenas 9 hectares. A gente fez um cálculo e se tivesse que deslocar, com a estrutura do município de Corumbá, que era a referência até então, esse incêndio poderia, num dia, atingir mais de 200 hectares, então a gente preservou essa natureza e a gente pretende preservar ainda mais com as outras bases avançadas”, disse a tenente-coronel.
Toda a estrutura das bases foi organizada para atender áreas específicas e delimitar o tempo de resposta, em situações de incêndios florestais, com agilidade.
“Nós temos uma identificação das chamas com bastante agilidade, especialmente com o uso do sensor remoto e por comunicação com os residentes, que informam a gente praticamente no surgimento do foco. A dificuldade de acesso às regiões do Pantanal, onde esses focos costumam acontecer, criou o cenário no qual a presença antecipada dos bombeiros permitiu sucesso no controle das chamas num raio aproximado de 25 km desse entorno. E além desse raio, a gente chega muito mais rápido nos locais de incêndio. Nós conseguimos mobilizar nossas equipes entre 3 e 4 horas, e antes demorava 7 a 8 horas de deslocamento”, explicou o subdiretor da DPA (Diretoria de Proteção Ambiental) do Corpo de Bombeiros, major Eduardo Teixeira.
Na Operação Pantanal 2025 serão instaladas onze bases avançadas, com estrutura de alimentação, água potável, geradores, que possibilitam o bombeiro militar atuar com mais eficiência com local para carregar drones e para fazer pequenas manutenções nos equipamentos utilizados.
O posicionamento das equipes no terreno segue estudo da DPA, para estar próximo de regiões onde a ocorrência do fogo é mais comum, e a vegetação é mais sensível.
“As bases também são posicionadas conforme a predominância do vento durante a temporada de incêndios florestais. Temos algumas bases nas margens dos rios São Lourenço e Piquiri para evitar que eventuais incêndios passem do Mato Grosso para o Mato Grosso do Sul. E todas são usadas como apoio para as equipes ao longo do Rio Paraguai, no Forte Coimbra. E para combater inclusive os incêndios que vêm da Bolívia”, explicou o major Teixeira.
Presença e atuação
Na Escola Municipal Rural de Educação Integral Polo São Lourenço e Extensões, que fica no Aterro do Binega, no Alto Pantanal, os alunos reconhecem a importância de ter os bombeiros por perto, pois já passaram por situações difíceis no período de incêndios florestais intensos. O local tem 32 alunos, alguns deles moram na unidade escolar, e vão para casa no fim de semana.
As amigas Luiza Godoy Rodrigues, 19 anos e Thaila de Jesus, 15 anos, relatam com detalhes quando precisaram deixar a escola recém-construída para fugir do fogo. A evacuação ocorreu no ano passado, na época de maior incidência das chamas, que atingiram diferentes regiões do Pantanal.
“Eu moro perto da escola, e já vi incêndios grandes, em 2020 foram muitos e o fogo chegou perto da minha casa. Mas não precisamos sair naquela época. Desta vez saímos da escola principalmente por causa da fumaça, que era muita”, lembra a aluna Thaila.
“A gente valoriza os bombeiros, porque é a primeira vez que estão realmente perto da gente e sabemos que se precisar eles chegam rápido”, disse Luiza. Pelo Rio Paraguai, a Barra do São Lourenço fica a aproximadamente 213 quilômetros de Corumbá, e apenas um quilômetro da divisa com o Mato Grosso.
O professor de matemática, Emílio Carlos Moraes, 62 anos, trabalha no Pantanal há três anos e relata a importância da presença dos bombeiros para a comunidade escolar na região.
“No ano passado tivemos orientações do Corpo de Bombeiros, sobre evacuação, mas não tínhamos experiência. Saímos do prédio da escola, devido a quantidade de fumaça, o fogo estava perto, ficou em volta. Ficamos fora por aproximadamente três dias. O que os bombeiros nos ensinam é importante, até porque a nossa capacitação é através dessa informação, precisamos aprender como lidar com essa situação”, disse o professor.
A rotina da presença dos militares na região, também aproxima a comunidade do trabalho de prevenção e orientação realizado pelos bombeiros. “É muito positivo. Nós temos certeza de que se for necessária a presença deles, vão nos atender prontamente. Eu sinto que eu sou privilegiado. Em qualquer momento eles nos auxiliam, seja uma situação com alunos, ou qualquer outra situação”, afirmou Moraes.
O professor de língua portuguesa, Markuss Zarate, elogia a presença dos bombeiros e a interação deles com a comunidade. “É muito importante esta equipe aqui, para a nossa região e a população. E o contato com os alunos é ótimo, para eles mesmos valorizarem o local onde vivem”.
Preparação
A casa de madeira recém pintada de vermelho é preparada para receber os militares que vão atuar na Operação Pantanal 2025. No dia a dia operacional da base avançada da Serra do Amolar, a equipe organiza equipamentos, faz reparos e ainda apoia a comunidade local.
O subtenente Leonardo Leite, 52 anos, é pantaneiro, nascido na região do Paiaguás em um local conhecido como Colônia São Domingos e só conheceu a “cidade grande”, Corumbá, quando já tinha oito anos de idade. Durante uma visita na escola, ele falou da importância do trabalho realizado na região.
“Nós instalamos a base avançada no lugar onde funcionava a escola, antes da mudança. Estamos sempre auxiliando a comunidade e eles sabem que podem contar conosco para tudo, cortar uma madeira, arrumar um barco. É assim que vizinho se trata, e o pantaneiro é muito receptivo. Para o combate aos incêndios esta base é importante no trabalho, como as demais, que servem de apoio para a operação”.
O sargento Dorival Pereira, 51 anos, que atua em Aquidauana, foi o responsável por cozinhar no ciclo de trabalho da equipe que também era formada pelo sargento Alex Rodrigues da Silva, 52 anos, o único de Campo Grande no grupo.
“Nós viemos com a missão de fazer o trabalho na base avançada do Amolar. E como a gente precisa se alimentar, me ofereci para cozinhar. As atividades são diversas, tudo focado na preparação das ações de combate aos incêndios e também na nossa permanência aqui. Estamos fazendo melhorias nas instalações, para poder receber o nosso pessoal, já pensando quando na ocorrência dos incêndios”, disse o sargento Dorival.
E quem conhece de perto o rio e a região, também auxilia no transporte das equipes até a base avançada. O sargento Carlos Alberto é o piloto da lancha que leva as equipes dos bombeiros. Por isso a cada 15 dias o Rio Paraguai é usado como via de acesso para o transporte dos militares. Com curvas diversas em todo o trajeto, ele conhece bem a área.
“Eu tive ajuda de quem veio antes de mim, me ensinaram na corporação. E agora eu também conheço os locais e as pessoas. Assim como ajudamos muitos, também já fui ajudado inúmeras vezes, pois já aconteceram situações que os ribeirinhos nos auxiliaram. É muito importante essa interação”.