O aparecimento da Covid-19, não alterou apenas hábitos de higiene e comportamento pessoal, como também modificou a maneira como crimes são praticados no País. Em Mato Grosso do Sul não foi diferente, refexo disse é o aumento de 136% nos crimes de estelionato, quando comparado dados deste ano com o mesmo período de 2019 – antes da eclosão da doença.

O número disparou de 2.969 registros de janeiro a julho de 2019, para 7.012 de janeiro a 25 de julho de 2022.

De acordo com o portal de estatística da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Estado (Sejusp), em junho deste ano, a pasta catalogou 1.084 ocorrências do crime. Este mês, até a segunda-feira (25), Mato Grosso do Sul contabilizou 716 episódios do crime de estelionato, que no dicionário está exemplificado como: fraude, enganação ou indução ao erro, vantagem ilícita para próprio benefício ou para terceiros.

Em 2021, o número total de crimes da natureza somaram, 11.411 durante todo ano. Deste, 6.564 apenas até julho, contra 7.012 equivalente a 1º de janeiro até o dia 25 deste mês.

Ou seja, em sete meses o cálculo já corresponde a 61% do número registrado no ano anterior inteiro.

Os meses com maior incidência de casos foram  em janeiro, com 732 em 2021 e 1.045 em 2022 (aumento de 46%), e em junho, como já mencionado, com número que saltou de 796 ocorrências em 2021 para 1.084 no ano seguinte (alta de 36%), índice que representa mais de 36 casos por dia.

O delegado titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande, Ricardo Meirelles Bernardinelli, salientou que houve uma migração nos crimes cometidos.

O que antes evidenciava ações contra o patrimônio, como a modalidade de crimes de furtos e roubos à propriedade, bancos e lojas, hoje, também englobam o crime de estelionato, que podem ser praticados tanto presencialmente quanto de maneira virtual. Sendo a segunda a mais utilizada pelos transgressores.

“Hoje em qualquer lugar o criminoso consegue aplicar os golpes, ele não precisa correr o risco de ser reconhecido. Agora tem a segurança do anonimato, sejam em golpes de aplicativos de conversa, como WhatsApp, paginas sociais em sites de relacionamento ou clonagem. Por que não ganhar dinheiro correndo o menor risco possível?”, ironizou.

Motivos do aumento

De acordo com Bernardinelli, as pessoas sabem como proceder em casos de crimes físicos, entretanto, ainda são confusas quanto a casos de crimes virtuais, como o de estelionato.

Conforme o delegado os fatores que contribuíram com aumento expressivo dos casos foram, primeiramente, a mudança no perfil tecnológico no cometimento de crimes nos últimos anos, atrelado a pandemia e ao empobrecimento da população.

“Tivemos um momento inicial de retração das pessoas, que fez com que hábitos fossem modificados. Por exemplo, pessoas que costumavam comprar em lojas físicas passaram a comprar online. Muitas pessoas, pelo isolamento, deixaram de pedir auxílio para tirar dúvidas, isso aumentou muito incidência dos golpes de estelionato, fraude eletrônicas, furtos qualificados mediante fraude. A marginalidade teve que se reestruturar. Crimes que eram cometidos em aglomerações deixaram de existir no momento”, evidenciou.

Para o especialista, outro fator que cooperou com a ascensão dos golpistas foram as facilidades dos bancos digitais, de acesso ao crédito e menos burocracias. Isto significa que a  proteção não acompanhou a revolução tecnológica.

“Um celular que você perde não coloca em risco apenas você, pela quantidade de dados particulares que ele tem, mas a toda sua família e amigos. As pessoas não pensam nessa quantidade de informações que possuem sobre pessoas próximas. Esse material na mão de criminosos vai ser usado para aplicar golpes”, destacou o delegado.

Mesmo cenário

Na Capital a situação não é diferente. Ignorando o hiato de dois anos referente a 2020 e 2021 – antes e depois da maior taxa de mortalidade devido à Covid-19 – Campo Grande registrou aumento de 105% dos crimes de estelionato. Em junho, em 30 dias, a Capital atingiu 444 casos notificados. O equivalente a quase 15 episódios por dia.

Além da alta registrada em junho, o mês de janeiro também teve destaque na tabela. Em 2021 a Sejusp recebeu 286 denúncias, já em comparação ao ano subsequente o valor dispara para 448, aumento de 56%.

O locutor Reinaldo Ayala, de 54 anos relatou ao Correio do Estado que perdeu R$ 620,00 no famoso “golpe do PIX”. Na ocasião, ele recebeu uma mensagem que supostamente seria do filho, onde dizia que o aparelho celular dele quebrou, por isso, precisava de dinheiro para o concerto.

“Ele agiu como os meus filhos agem comigo, de pedir bença e tudo, bem intimista. Então ele falou para eu mandar o PIX para o rapaz que estava arrumando. O dinheiro que eu tinha na hora depositei na conta da minha esposa e ela fez a transferência. Só que ela entendeu que o valor era apenas R$ 600. Então o cara retornou, por mensagem falando “falta R$ 20,00, pai”, comentou.

Após a transferência, o filho ligou e os pais perguntaram se o concerto deu certo. O rapaz se assustou e desconheceu o problema no aparelho. “Nessa hora vimos que caímos no golpe”, acrescentou Reinaldo.

Como se prevenir

Ricardo Meirelles Bernardinelli salientou que é necessário cautela e paciência para não cair em golpes e deu dicas de como evitar ou dificultar a ação de estelionatários e golpistas.

“O negócio é colocar o pé no freio. Mesmo que veja uma oportunidade de efetuar um bom negócio. Espera um pouco, liga, checa, vê se aquele site existe, se é aquela pessoa, se cerque de garantias de que vai receber o produto”, frisou.

Segundo Bernardinelli é preciso trocar a senha com regularidade e escolher um passaporte eletrônico forte. Outra dica é não utilizar a mesma chave de acesso para todos aplicativos.

Limitar o limite diário do Pix é importate, assim como verificar a autenticidade de sites, checar a veracidade de produtos e serviços e não clicar em links recebidos.

Fazer bloqueio e denunciar o número quando receber algo suspeito também é aconselhado. E sempre desconfiar de prêmios e sorteios. Não deixar número e dados públicos em sites e redes sociais e manter o celular com senha para acesso.

Além dessas precauções também é recomendável que o cidadão ative a dupla etapa de verificação em aplicativos de conversa, tenha cuidado redobrado com o login em computadores temporários, atenção na hora de deslogar ou fechar corretamente as abas de navegação e se possível ter dois celulares, deixando os com acesso a aplicativos de banco em casa.

Um dos golpes mais visados recentemente tem sido capturar vitimas ofertando empregos com salários vantajosos e fáceis. O delegado acrescentou que ofertas de trabalho não são realizadas de maneira informal, ainda mais se tratando de grandes empresas.

“Está sendo um golpe imenso, é o tempo todo. São novas roupagens. A pessoa recebe uma oportunidade de emprego, pede para clicar em um link, pode ser um endereço eletrônico com virús que vai espelhar os dados da vítima ou  tirar  o acesso ao celular e computador”, disse.

A palavra estelionato deriva do latim stellionatu, faz alusão ao camaleão, que possuí a característica física de se camuflar. A pena prevista pelo crime é estabelecida por meio do artigo 171 do Código Penal e prevista em reclusão de um a cinco anos e multa.

 

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO