De dentro da Penitenciária de Segurança Máxima de Naviraí, da Penitenciária Estadual de Dourados (PED) e do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, cinco presos que eram líderes da facção criminosa chamada de Primeiro Comando da Capital (PCC) escolheram pessoas ligadas à segurança pública de Mato Grosso do Sul para serem alvos de atentados.

A atuação deles contra esse grupo seria o motivo – os nomes dessas pessoas foram mantidos em sigilo.

Esses crimes só não foram executados porque uma operação foi deflagrada ontem, pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco).

Além dos líderes, outras duas pessoas foram presas. Fora da cadeia, esses faccionados estavam preparando a logística desses atentados, como contatar mais envolvidos para os crimes. Os alvos seriam um investigador de polícia, um policial penal e um juiz, além de membros do próprio Dracco.

“Alguns internos que estavam demandando para outros faccionados, que estavam já em liberdade, investida contra servidores públicos que atuam especificamente contra o crime organizado”, explicou ao Correio do Estado a delegada titular da Dracco, Ana Cláudia Medina.

“Esses faccionados que estavam em liberdade faziam o recrutamento de outros integrantes e toda a logística para essa investida que não foi possível diante da neutralização por parte do Dracco”, completou a delegada.

Por causa disso, a Dracco deflagrou a Operação Akvas, que ocorreu com apoio do Serviço de Investigações Gerais (SIG) da 1ª Delegacia de Polícia de Naviraí. Como o PCC atua dentro e fora dos presídios, também houve realização de pente-fino nas principais penitenciárias do Estado.

O alvo da ação foi uma célula da organização criminosa estabelecida na região Cone Sul do Estado.

“Foram diversas evidências que fizeram com que nós empenhássemos diligências especializadas, que culminaram com o cumprimento dessas medidas cautelares na data de hoje [terça-feira], para identificação de faccionados que tinham por objetivo específico essa investida contra a força do Estado”, continuou Medina.

Segundo apontado pelas investigações, policiais e juízes eram os alvos do PCC por atuarem no enfrentamento à facção criminosa, e a apreensão feita recentemente de bilhetes em que os chefões da facção instigavam os integrantes a atentarem contra forças de segurança do Estado foi uma das evidências encontradas pela polícia para dar início a essa investigação.

No bilhete, entre outras informações, havia instruções para ataques com explosivos e como confeccionar esse tipo de artefatos. Além do bilhete, foi interceptada ainda uma carta, com ameaças a servidores do Dracco.

A ação realizada ontem foi concentrada em Naviraí, local em que já foram registrados atentados contra policiais.

Ainda segundo Medina, além dos sete presos, outros membros da facção que atuariam na ação também já foram identificados. “Foram identificados vários outros internos, mas neste momento houve o cumprimento específico desses que eram considerados lideranças que repassavam essas ordens para a atuação”.

ATENTADO

No dia 31 de agosto de 2016, um policial penal foi alvo de um atentado a tiros na cidade de Naviraí.

Na ocasião, ele seguia em uma moto Honda Biz, quando dois homens se aproximaram, cada um em uma moto, e começaram a atirar.

O ataque ocorreu a cerca de 100 metros da delegacia da Polícia Civil local.

Ainda na época, os criminosos foram identificados, julgados pelo Tribunal do Júri e condenados a penas que ultrapassaram 20 anos.

No mesmo mês de 2016, os integrantes do PCC lideraram uma grande rebelião na Penitenciária de Segurança Máxima de Naviraí.

Dois detentos foram mortos pelos próprios presos, que também destruíram parcialmente o presídio.

A rebelião só foi controlada depois que a tropa de choque da Polícia Militar invadiu o presídio e 50 líderes do motim foram transferidos para Dourados e Campo Grande.

PCC

Essa é a segunda operação que teve como alvo a atuação do PCC em Mato Grosso do Sul.

No dia 10 de agosto deste ano, a Polícia Federal conseguiu desarticular um plano de fuga que resgataria alguns dos principais chefões da facção criminosa. O Estado era um dos estados-chave para que o plano fosse executado.

Entre os presos a serem resgatados estão os cabeças da organização criminosa, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, Cláudio Barbará da Silva, o Barbará, Valdeci Alves dos Santos, o Colorido, Edmar Santos, Reinaldo Teixeira dos Santos e Esdras Augusto do Nascimento Júnior.

A apuração começou em dezembro de 2021, após o setor de inteligência do Depen informar à PF que lideranças do PCC, em conversas com advogados, citavam nomes de defensores e “recursos ao STF [Supremo Tribunal Federal] e ao STJ [Superior Tribunal de Justiça]” para cobrar o andamento do plano.

O primeiro deles, designado pelo código “STF”, mirava a fuga de lideranças, entre elas Marcola, do presídio federal em Brasília.

No plano elaborado pela facção estava previsto utilizar a tática conhecida como “novo cangaço”, empregada por integrantes da facção em roubos a bancos no interior do País. A ideia envolveria cercar o presídio em Brasília e resgatar Marcola e outras lideranças.

O outro plano, designado pelo código “STJ”, mirava o sequestro de diretores do Depen para posterior troca pela liberdade das lideranças da facção.

E um terceiro plano, caso os dois primeiros não obtivessem sucesso, era para gerar uma megarrebelião no presídio federal para facilitar a fuga das lideranças.

Nesta operação, uma advogada de Três Lagoas foi presa e com ela estavam partes desses planos de fuga.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO