Quatro guardas municipais de Ponta Porã foram presos ontem (15), durante operação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), que faz parte do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS).

Segundo as investigações, os profissionais, que já eram antigos no cargo, desviaram fuzis, pistolas, revólveres e munição de uma ocorrência.

De acordo com o prefeito de Ponta Porã, Hélio Peluffo (PSDB), imediatamente após a deflagração da Operação Deviare a prefeitura afastou os quatro servidores dos seus postos na Guarda Municipal da cidade e a Procuradoria-Geral do município abriu processo administrativo, que pode culminar na demissão dos suspeitos.

“Não aceitamos funcionário corrupto, qualquer desvio de conduta será punido. [O afastamento] foi automático, assim que deu início à operação. Temos que tirar as maçãs podres da cesta. Dou meus parabéns ao Ministério Público, eles têm todo nosso apoio”, afirmou o prefeito.

Conforme nota encaminhada pelo Ministério Público, as investigações do Gaeco revelaram que quatro guardas municipais de Ponta Porã, durante uma ocorrência envolvendo a apreensão de aproximadamente 1.800 quilos de maconha em uma residência, desviaram fuzis, pistolas, revólveres e munição que também estavam armazenados naquele local.

O Gaeco também descobriu que pelo menos um dos quatro guardas, “de maneira rotineira, adquiria, recebia, transportava, ocultava, mantinha em depósito, seja para desmontar, montar e remontar, seja para vender e expor à venda, armas de fogo e munições dos mais variados calibres, naquela região de fronteira”, diz trecho da nota.

Para o prefeito, essa ação foi um “fato isolado” e fruto de assédio por parte de quadrilhas da região de fronteira. “Eles foram assediados e por isso serão punidos, e isso [afastamento sem salário] vai afetar a família. Mas pode ter certeza que foi um fato isolado”.

Ainda segundo a investigação do Ministério Público, verificou-se que um dos investigados “buscou adquirir vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente”.

A nota não diz todos os crimes pelos quais os suspeitos são investigados. O nome da operação, Deviare, faz alusão ao ato de desviar, em italiano.

REGIÃO

Durante entrevista, o prefeito de Ponta Porã ressaltou que a cidade teve, neste ano, o menor número de homicídios registrado na cidade dos últimos 10 anos, na tentativa de demonstrar que a segurança pública da região tem funcionado.

Esse número foi, inclusive, publicado pelo Correio do Estado em agosto deste ano.

Apesar da redução em Ponta Porã, há de se frisar que o município faz fronteira seca com Pedro Juan Caballero, no Paraguai, onde a criminalidade não recuou, pelo contrário: em maio, pistoleiros executaram o prefeito da cidade, José Carlos Acevedo, em frente à prefeitura.

São constantes os relatos de crimes semelhantes a este do lado paraguaio da linha internacional.

No dia 7 de agosto, inclusive, 35 internos fugiram da Penitenciária Regional Misiones, em San Juan Bautista, cidade do Paraguai localizada próximo à fronteira com a Argentina e o Paraná.

Segundo autoridades locais, eles eram do pavilhão onde estavam concentrados membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que tem grande atuação na fronteira de Mato Grosso do Sul.

FAIXA DE FRONTEIRA

Em outro recorte, usando toda a faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul, que engloba a linha internacional do Paraguai e da Bolívia, os outros municípios dessa região colaboraram para que houvesse uma pequena alta neste ano em relação aos dois anos anteriores.

Enquanto a somatória dos homicídios dolosos em todos os municípios fronteiriços chegou a 131 em 2020 e a 128 em 2021, este ano houve 134 assassinatos na região de janeiro a julho, conforme dados da Sejusp.

Apesar de representar um leve aumento, esse ainda é um dos menores patamares da série histórica desse crime na linha internacional.

O menor foi justamente em 2021, com 128 homicídios. Antes disso, o de 2013 era o menor, com 153 mortes. O ano de 2015, com 184 assassinatos, representa o maior índice da série histórica.

SAIBA

Em 2019, a Operação Omertà, deflagrada pelo Gaeco, também prendeu guardas municipais, só que desta vez em Campo Grande. Segundo o Ministério Público, eles participavam de uma milícia.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO