O péssimo desempenho do PSD em Mato Grosso do Sul nas eleições gerais deste ano enfraqueceu o partido e, como consequência, as lideranças estaduais da sigla perderam espaço em Brasília (DF).
Além disso, o fato de o presidente da legenda no Estado, senador Nelsinho Trad, ter declarado apoio à candidatura do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), contribuiu ainda mais para o afastamento dos caciques nacionais, que apostaram na candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PL) e já estão com as mãos em pelo menos dois ministérios.
Nas eleições deste ano aqui no Estado, o PSD concorreu aos cargos de governador, com Marquinhos Trad, de senador, com Juiz Odilon, e de deputado federal, com Fábio Trad, Adailton Lima, Chicão Vianna, Claudinha Maciel, Jameire Santos, Jorge Martinho, Junior Coringa, Léo Matos e Marluce Bueno, mas todos foram derrotados.
A única vitória do partido foi para deputado estadual, elegendo Tiago Vargas, mas ele teve a candidatura indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS) e acabou sendo eleito Pedro Pedrossian Neto, o que se transformou em uma verdadeira batalha judicial com troca de acusações de ambos os lados.
Além disso, as urnas mandaram de volta para casa dois fortes integrantes do “Clã Trad”, que está há quase seis décadas na vida pública do Estado e foi reduzido a ter apenas dois representantes na política: o senador Nelsinho e o vereador Otávio Trad, que não conseguiu se eleger como deputado estadual, mas continua por mais dois anos na Câmara Municipal de Campo Grande.
O ex-prefeito da Capital Marquinhos Trad, que chegou a liderar as pesquisas eleitorais na corrida pelo governo do Estado, ficou em 6º lugar, com 124.795 votos, ou seja, apenas 8,68% do eleitorado estadual.
O ex-prefeito renunciou ao cargo no Executivo municipal para disputar a cadeira da Governadoria e agora ficou sem mandato, mesmo tendo um histórico de vitórias em eleições como vereador da Capital, deputado estadual e para prefeito em dois pleitos.
No entanto, a investigação policial por supostos crimes sexuais praticamente sepultou o nome dele para a política em Campo Grande e em Mato Grosso do Sul por um bom tempo. O mesmo aconteceu com o deputado federal Fábio Trad, que não conseguiu ser reeleito ao obter 43.881 votos.
Carta fora do baralho
O reflexo de tudo isso é a perda de influência por parte do senador Nelsinho Trad, que iniciou o mandato no Senado Federal na crista da onda, sendo uma das lideranças nacionais do PSD e nome forte junto do presidente Jair Bolsonaro, que até o contou para assumir um ministério na atual gestão.
Porém, com o fracasso do partido no Estado e a aposta no cavalo perdedor, acertaram em cheio o parlamentar sul-mato-grossense, que já é considerado uma carta fora do baralho do diretório nacional da legenda.
Tanto que os integrantes do PSD, comandados pelo ex-prefeito de São Paulo (SP) Gilberto Kassab, já estão discutindo internamente que posições podem ocupar no governo Lula, uma vez que a legenda já participa, inclusive, do processo de transição, porém, Nelsinho Trad nem foi chamado para participar das tratativas em razão da proximidade com Bolsonaro.
Como quem conta a história é o vencedor, quem apostou em Lula já garante que o PSD deve ser contemplado com até dois ministérios na Esplanada com a posse do presidente eleito.
Ministros
Alguns nomes do partido já são ventilados para serem indicados ao governo caso a proposta seja apresentada de fato. O primeiro nome nessa lista é o do senador baiano Otto Alencar. Reeleito para mais oito anos de mandato, ele foi um dos principais apoiadores da aliança com Lula dentro do partido.
Desde o início da campanha foi favorável à aliança, que não se concretizou. Pesa a favor de Otto o fato de que seu suplente é um petista: Terence Lessa, 39 anos, ex-prefeito de Ibotirama, município do interior da Bahia.
Um dos receios do governo eleito é nomear senadores para a Esplanada e deixar na Casa Alta suplentes que sejam mais identificados com o bolsonarismo. Otto, por ser médico, poderia ser indicado ao Ministério da Saúde, pasta que tem capilaridade, visibilidade e grande orçamento.
Apesar disso, uma pasta que é muito desejada por alguns congressistas é a do Desenvolvimento Regional (ou Integração Nacional, a depender da configuração que o novo governo dará).
Isso porque o ministério tem grande capilaridade, especialmente no Nordeste, e muitos recursos disponíveis. Está no chapéu desta pasta, por exemplo, a empresa pública Codevasf.
Outros nomes ventilados são os dos também senadores Carlos Fávaro (cotado para a Agricultura), Alexandre Silveira e Omar Aziz. Caso o PSD seja contemplado com outro ministério, o partido pretende oferecer a indicação aos integrantes da Câmara dos Deputados.
Um dos nomes citados é o de Marcelo Ramos, ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados que não conseguiu a reeleição neste ano. Ex-filiado ao PCdoB, Ramos chegou a participar do governo Lula em 2006, quando trabalhou com o então ministro do Esporte, Orlando Silva.
O nome do deputado federal Pedro Paulo (RJ) também é lembrado por sua proximidade com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, outro que apoiou Lula abertamente e fez campanha para o petista na capital fluminense.
Não há definição das pastas. Os integrantes do PSD ouvidos reforçam que isso só será definido assim que as possibilidades estiverem na mesa.
A participação no futuro governo Lula foi um dos assuntos discutidos em jantar do partido realizado na terça-feira (8) em Brasília, quando participaram diversos deputados e senadores da sigla, o presidente do partido, Gilberto Kassab, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Procurado pela reportagem para comentar as informações, Nelsinho Trad não atendeu às ligações nem respondeu as mensagens no WhatsApp até o fechamento desta matéria.
Fábio Trad manda sinais para o governo Lula
O primeiro aceno da família Trad ao governo Lula veio do deputado federal Fábio Trad (PSD-MS), nesta sexta-feira. O irmão do senador Nelsinho Trad (PSD-MS) não conseguiu reeleger-se, mas foi o único, no segundo turno, a declarar voto no presidente eleito.
Nesta sexta, inclusive, Fábio Trad já sinalizou que gostaria de participar de alguma forma do governo Lula. “Já disse ao presidente do PSD, Gilberto Kassab, e ao deputado Marcelo Ramos, meu amigo de partido, que eu estou à disposição, sim, e gostaria de colaborar, de contribuir, porque eu acredito no futuro governo Lula!”, afirmou.
FONTE: CORREIO DO ESTADO