No dia 1º de janeiro de 2023, o governador eleito Eduardo Riedel (PSDB) tomará posse no cargo pelos próximos quatro anos, com possibilidade de reeleição por mais quatro anos.

Entretanto, antes dessa data, ele terá de definir algumas prioridades, como a composição do secretariado e a escolha do seu líder na Assembleia Legislativa, segundo avaliação feita, com exclusividade para o jornal Correio do Estado, pelos cientistas políticos Daniel Miranda, Tito Machado e Tércio Albuquerque.

Para o cientista político Daniel Miranda, geralmente, um dos primeiros desafios de todo governo é a composição do secretariado. “Quando se é de oposição e se chega ao governo, espera-se muitas e grandes mudanças.

No caso do Riedel, que é o inverso [continuidade], ele tem a vantagem de conhecer a máquina e já contar com uma equipa lá, trabalhando e com experiência [o que amplia as possibilidades de escolha]. Por outro lado, mesmo dando continuidade e sendo alinhado ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB), espera-se sempre mudanças, pois de janeiro em diante ele é o governador”, pontuou.

Ele faz uma comparação com a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (Patriota), que, após o fim do 1° turno das eleições, deu por cumprida a promessa de manter a equipe herdada do ex-prefeito Marquinho Trad (PSD) e iniciou imediatamente mudanças na composição do alto escalão.

“Quer dizer, mesmo sendo aliada e dando continuidade, de modo geral, aos grandes projetos da gestão de Marquinhos, assim que pôde ela começou a imprimir sua marca e trabalhar com sua equipe. Riedel deverá fazer algo semelhante, mantendo parte da equipe, por razões técnicas e políticas, mas trocando outros”, garantiu, completando que, na Assembleia Legislativa, ele não terá uma oposição capaz de lhe atrapalhar neste início de mandato.

Sem riscos

Segundo o cientista político Tito Machado, é justo observar que, assim como o Brasil de modo geral, Mato Grosso do Sul, no particular, vem reduzindo muito a possibilidade de existir “governos catastróficos”.

“Mesmo um ou outro governador que não tenha realizado uma administração excepcional não possibilitou um ambiente administrativo definitivamente descontrolável. Isso se deve muito aos mecanismos de controle administrativos criados nas últimas décadas. Mas, também, ao aprendizado democrático, com cada vez mais imprensa livre e instituições que se tornaram instrumentos competentes na vigilância dos desígnios das administrações públicas”, avaliou.

Nesse sentido, conforme Tito Machado, o governador eleito Eduardo Riedel não terá grandes turbulências para demonstrar, logo no início, como será seu modus operandi e as principais prioridades para a gestão.

“Todavia, há de se observar que o Estado está, há mais de três décadas, calcado no mesmo binômio econômico, soja e boi, quase in natura, sem salto de qualidade no seu beneficiamento. Tal fato apenas não será grave caso os índices de crescimento da população se mantenham baixos, assim como os de imigração. Caso esses índices aumentem, vão contribuir para o empobrecimento e o aumento da desigualdade social, alertou.

O cientista político ressaltou que, nesses termos, Mato Grosso do Sul tem uma trajetória muito trivial, que necessita ser sacudida – para melhor, óbvio. “Creio eu que tal sacudida deve ser motivada por uma reorientação no seu modelo econômico. Apenas para lembrar que o Estado tem uma estúpida capacidade ociosa em três setores de transportes [aquaviário, ferroviário e aeroviário], chaves para qualquer desenvolvimento, todos com possibilidades [hoje estáticas] de ligação e de sintonia com o centro da economia brasileira [São Paulo], com o motor do sul do continente [Buenos Aires] e com o centro geográfico da América do Sul [Santa Cruz de la Sierra]”, exemplificou.

Ele acrescentou, ainda, que a população sul-mato-grossense permite, com um estalar de dedos, ser qualificada dentro de um nível muito elevado e de forma muito rápida, suscitando estímulos à atração de indústrias de médio e pequeno porte com alta capacidade tecnológica – o que é uma tendência mundial.

“Ou seja, o novo governador terá de observar o Estado com um outro olhar, que alcance horizontes para além do que foi e do que está estabelecido, sob pena de fazer o mesmo, de colher o mesmo e de não engendrar nenhum salto de qualidade”, reforçou.

Marca de gestão

Na avaliação do cientista político Tércio Albuquerque, é preciso considerar alguns aspectos, sendo o primeiro que, como não se trata de reeleição, o governador eleito terá um pouco mais de trabalho na articulação da sua gestão, começando pela própria estruturação das secretarias estaduais, que tem de ser feita nos próximos dias para iniciar 1º de janeiro de 2023 com tudo pronto.

“A partir disso, ele começa a buscar também uma definição de representatividade na Assembleia Legislativa, verificar quantos dos 24 parlamentares vão compor efetivamente a base aliada. Afinal, ele precisará trabalhar intensamente com a Casa de Leis para estabelecer uma pauta que possa ser aprovada com mais conforto, incluindo medidas iniciais que são sempre relevantes, como estudar o orçamento já aprovado para encontrar pontos que necessitarão de alterações, as quais terão de passar pela Assembleia Legislativa”, detalhou.

Um outro ponto, segundo Tércio Albuquerque, é estabelecer as prioridades do novo governo, tais como definir quem vai compor com Riedel a gestão, apontar os critérios de representatividade nos municípios e como será a relação com todos os 79 prefeitos.

“Depois, Riedel ainda precisará definir quais as necessidades urgentes que terão de ser atacadas pelo seu início de gestão. Nós sabemos que Mato Grosso do Sul está enfrentando uma dificuldade na área da saúde, que requer uma complementação do governo junto aos hospitais regionais e municipais para não precisar mais promover caravanas de saúde, reduzindo filas e melhorando o atendimento à população”, ressaltou.

Já na área da educação, que também é muito importante, de acordo com o especialista, o governador eleito terá de estruturar muito bem essa Pasta para recuperar o deficit educacional dos alunos, que aumentou por conta da pandemia da Covid-19.

“Outra área que merecerá uma atenção especial será a da segurança pública, principalmente na região de fronteira, que tem mais de 1,5 mil quilômetros, incluindo Paraguai e Bolívia, onde, além da estruturação e da modernização das polícias Civil e Militar, será imprescindível um aumento de cooperação com os gestores dos dois países, para intensificar a eficácia de atuação das forças de segurança nos dois lados das fronteiras”, assegurou.

Para Tércio Albuquerque, um último ponto também importante para o novo governador é saber qual a avaliação que ele vai receber nos 100 primeiros dias de sua gestão, de quem o apoiou e de quem foi oposição durante a campanha eleitoral.

“É nesse período que um novo governo se afirma em uma linha de trabalho, que será estabelecida pelos próximos quatro anos de mandato. Por isso, é extremamente necessária a aprovação da maioria da população, da Assembleia Legislativa e do restante do meio político para continuar caminhando com segurança para as próximas etapas de sua gestão”, sugeriu.

Obviamente, ressaltou o cientista político, Eduardo Riedel deve ter um plano de reeleição, e isso tem de estar no seu radar a partir do primeiro dia de governo, definindo seus critérios de trabalho para que tenha a possibilidade de ser reeleito de forma tranquila, pois a corrida já começa em dois anos, no máximo.

“O Riedel também precisará criar uma ambientação para que possa, eventualmente, colocar um aliado seu no comando da Prefeitura de Campo Grande, o que requer, nos próximos meses, um envolvimento maior para organizar as eleições municipais dentro de municípios pontuais, como Dourados, Três Lagoas e Corumbá, que são muito importantes para o governador eleito ter uma sustentação para manter a tranquilidade à frente do governo do Estado”, finalizou.

 

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO