A Fiocruz do Amazonas identificou uma nova variante do coronavírus que descende da ômicron na região, segundo nota divulgada no último sábado (12).
A partir da alta de casos de Covid no estado, especialmente na capital, os pesquisadores da Fiocruz analisaram mais de 200 amostras do vírus entre os meses setembro e outubro e encontraram a nova cepa, segundo nota do instituto.
O sequenciamento genômico das amostras do vírus que permitiram a identificação da nova linhagem foram colhidas pela Fiocruz Amazônia em parceira com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas e o Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública) do estado.
Uma nova linhagem do Sars-CoV-2, a BA.5.3.1, já tinha sido detectada por pesquisadores do instituto desde junho deste ano.
A variante BE.9 evoluiu regionalmente a partir dessa linhagem, assim como outra subvariante, a BQ.1.
De diferente, ela possui pelo menos três mutações no gene que codifica a proteína S (de “spike” ou espícula, o gancho molecular usado pelo coronavírus para se conectar às células humanas).
Uma dessas alterações está na chamada região de ligação com receptor -algo preocupante porque ela está diretamente associada à entrada do vírus nas células.
Essa característica não foi identificada até o momento na BQ.1 e pode ser vantajosa para o vírus por garantir uma maior transmissão de indivíduo para indivíduo.
No último mês, o estado do Amazonas teve um aumento significativo na média móvel semanal de casos, passando de 232, entre os dias 9 e 15 de outubro, para 1.258 até o último sábado.
De acordo com Felipe Naveca, pesquisador em saúde pública da Fiocruz e responsável pelo sequenciamento e pela identificação da variante, a BE.9 já corresponde a 94% das amostras sequenciadas na região.
“O que nós vimos [no Amazonas] foi um aumento de casos real no estado e ao mesmo tempo a presença de uma linhagem com mutações que aumentam o poder de transmissão e de escape da resposta imune, e que já está em 94% das amostras. Então a gente fica bastante seguro de dizer que ela é responsável pelo que está acontecendo”, disse.
Assim como a BQ.1, a BE.9 carrega uma mutação que pode ajudá-la a escapar da ação de anticorpos, o que tornaria os chamados casos de escapes vacinais -infecções em indivíduos completamente vacinados- mais comuns.
“Ainda não sabemos qual vai ser a magnitude da nova onda, se ela será um ‘paredão’, como foi com a ômicron no início do ano, ou se vai ser uma subida menor. Mas certamente vamos ter nas próximas semanas um efeito, e por isso estamos acompanhando de perto com a vigilância [em saúde, ligada à secretaria de saúde do estado] o cenário”, disse.
Para o virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica BR, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, as análises de como a nova variante reage aos anticorpos devem vir nas próximas semanas.
“As sequências estão em laboratórios para análise quanto à sua capacidade de evadir dos anticorpos. Esses dados vão ser importantes para saber como vai ser a evolução epidemiológica da sublinhagem”, afirma.
Spilki diz que ainda é muito cedo para saber se as novas cepas possuem um escape imunológico significativo ou vão gerar um impacto em número de mortes.
“Em um contexto de subida, as variantes encontraram aqui um terreno perfeito, com uma população com nível de reforço baixo e mais suscetível a novos surtos, com a última dose das vacinas recebida há muito tempo. Isso com certeza pode trazer um aumento de casos, embora ainda seja difícil mensurar quanto”, avalia.
Os pesquisadores ressaltam a importância da atualização com o reforço disponível e fazem um apelo à população que se vacine.
“É um tema que preocupa pois uma parte da população mais suscetível já fez sua última dose do reforço há um período superior a quatro ou seis meses, e isso pode trazer uma preocupação. Seria importante, mesmo que essas subvariantes sejam menos agressivas, fazer a atualização do calendário vacinal”, afirma Spilki.
“Sou a favor de uma dose de reforço agora, mesmo que não seja com as vacinas atualizadas que contêm as sublinhagens, para esta nova imunidade estimulada que a vacina oferece proteger contra casos graves”, diz Naveca.
Por enquanto, não é possível ainda saber se a BE.9 vai chegar às demais regiões do país e como ela vai se comportar junto à BQ.1, sua concorrente, mas a baixa cobertura de reforço preocupa.
“É um cenário diferente, pós-vacina, temos isso a nosso favor [em relação à P.1 ou gama, associada ao colapso da saúde no Amazonas], não esperamos um aumento significativo de casos graves, mas obviamente se tiver um aumento de casos, temos que emitir os alertas”, completa.
FONTE: CORREIO DO ESTADO