Vereadores que se manifestaram acerca da contratação de milhares de pessoas que ocupam hoje cargos comissionados na Prefeitura de Campo Grande acham que a maioria deve ser demitida imediatamente.
O Correio do Estado publicou ontem que aproximadamente 9 mil servidores, entre comissionados, ocupantes de funções gratificadas e funcionários do Programa de Inclusão Profissional (Proinc), foram “herdados” por Adriane Lopes (Patriota) da administração de Marquinhos Trad (PSD).
O número é controverso. Há pessoas que ocuparam a administração pública na época do ex-prefeito que afirmam que o contingente de funcionários em abril deste ano era de aproximadamente 5,5 mil, dos quais 1.731 eram servidores comissionados.
Na Câmara Municipal, na hora de apontar se o inchaço tem um responsável – o ex-prefeito Marquinhos Trad ou a prefeita Adriane Lopes –, as opiniões destoam.
“Ela [Adriane] não herdou isso [contratações], manteve a partir da renúncia. Não estou aqui em defesa do ex-prefeito”, afirmou o vereador André Luis (Rede), que criticou o número de comissionados.
Marquinhos e Adriane, então prefeito e vice-prefeita, assumiram a prefeitura em janeiro de 2017. Para disputar o governo do Estado, Marquinhos deixou o cargo antes da metade do segundo mandato, em abril deste ano, e Adriane passou a comandar a prefeitura.
“A previsão constitucional de cargos comissionados é desrespeitada em Campo Grande. Alguns cargos comissionados são relevantes, antigos, mas a maioria é de atividade politica pré-eleitoral e isso é um desvio de função. O dinheiro gasto com comissionados poderia ser investido em obras, educação”, afirmou André Luis.
A soma dos salários pagos aos comissionados, aqueles que não prestaram concurso público, gira em torno de R$ 38 milhões, segundo o vereador Marcos Tabosa (PDT).
O pedetista afirmou que a prefeitura virou um cabide de empregos e que não enxerga explicação aceitável para o emprego de tantos comissionados.
Tabosa citou como exemplo a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS), que emprega 1,7 mil servidores, dos quais 1,4 mil são contratados e apenas 300 são concursados.
“O dinheiro gasto com os comissionados poderia ser investido em saúde, educação e infraestrutura”, afirmou Tabosa.
O parlamentar disse ainda que acha “um absurdo” a prefeitura não conceder o reajuste de 10% aos professores, que deflagraram greve em virtude da rejeição ao aumento salarial.
No caso, o vereador sugere que a prefeita demita os comissionados e faça um remanejamento do montante gasto com eles para a educação.
O vereador Dr. Loester (MDB) também ressalta que os recursos investidos nos comissionados deveriam ser injetados em outros setores, como a saúde. Segundo o parlamentar, as contratações devem ser reduzidas, uma vez que o número de comissionados “é um exagero”.
Questão política?
Já o vereador Ayrton Araújo não se mostrou contrário às contratações, desde que houvesse “necessidade”. No entanto, disse ver erro se provado que os comissionados foram convocados para atender alguma “questão política”.
Alguns vereadores vinculam os comissionados a algum esquema determinado por políticos que, já de olho na próxima campanha eleitoral, concordam com as contratações e, com isso, garantem “futuros cabos eleitorais”.
Conforme o vereador Professor Juari (PSDB), “com certeza, não é necessário tanto funcionário comissionado”. Para ele, a redução dessa categoria seria um meio de organizar as finanças do município.
NEGOCIAÇÕES
Duas semanas atrás, conforme publicou o Correio do Estado, o presidente da Câmara Municipal, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), mandou alguns recados afirmando que os vereadores gostariam de participar mais e serem mais consultados sobre as decisões tomadas no Paço Municipal.
Esse maior entendimento entre a prefeita Adriane Lopes e os vereadores, que deve dar mais margem financeira a investimentos, mas com corte de comissionados, é a ação mais esperada neste fim de ano no Executivo municipal para o destravamento de medidas importantes da administração.
FONTE: CORREIO DO ESTADO