Campo Grande contabilizou nos primeiros dois meses deste ano o maior número de assassinatos de toda a série histórica, que a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) registra desde 2013. Entre janeiro e fevereiro, foram 28 mortes.

Segundo o titular da Sejusp, Antônio Carlos Videira, a maior parte desses crimes tem relação com o tráfico de drogas e a constante disputa pelas melhores rotas para o envio de entorpecentes a outros estados e países.

“Isso é um reflexo, [já que] nos últimos anos a gente teve recordes e mais recordes de apreensão de drogas. Esse recorde de apreensão significa que muita gente que tinha assumido compromisso e que estava devendo não conseguiu honrar com o crime organizado, outros, que já estavam devendo, receberam mais crédito, receberam missões e não conseguiram cumprir”, afirmou o secretário.

“Eles começam a verificar onde eles estão vulneráveis, então, um prejuízo desse tamanho tem gente que vai pagar, e aqueles que não cumpriram a missão, de ter cuidado melhor do ponto, de ter cuidado melhor da estrada, isso acaba sendo pago com vida, porque é um volume muito grande de dinheiro. Muito do que está ocorrendo hoje é cobrança e disputa”, complementou Videira.

Das mortes registradas na Capital neste ano, 16 ocorreram em janeiro, e 12, em fevereiro. Neste mês, até ontem haviam sido registrados três homicídios dolosos.

O mais recente, que ocorreu na manhã desta segunda-feira, em Campo Grande, vitimou o entregador Jedson Domingues Garais, de 22 anos, que foi morto com mais de 10 tiros, na Avenida Rachel de Queiroz, no Aero Rancho.

Imagens de sistema de segurança próximo de onde o crime ocorreu mostram Jedson parado e a chegada de uma pessoa de moto, que atira diversas vezes; Jedson cai, e o autor dos disparos foge do local.

De acordo com as autoridades, Jedson tem duas passagens pela polícia, ambas relacionadas ao tráfico de drogas. Na primeira, em 2015, ele foi preso em flagrante e encaminhado para a Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar); a segunda prisão ocorreu em 2017.

TRÁFICO

Para Videira, a atuação mais exitosa da polícia na apreensão de drogas é um dos fatos determinantes para que essas mortes relacionados ao tráfico tenham ocorrido. No ano passado, foram apreendidas 16,6 toneladas de cocaína em Mato Grosso do Sul, o maior número de toda a série histórica, segundo dados da Sejusp.

Para se ter uma ideia, esse valor é o dobro do registrado em 2021, quando já havia sido registrado recorde de apreensões no Estado.

“Em Mato Grosso do Sul, há uma disputa pelas rotas do tráfico. Hoje, por exemplo, derrubamos [foram apreendidos] 150 kg de cocaína em Dourados, então, muitos dos homicídios estão ligados diretamente à vingança do tráfico”, avaliou.

A proximidade com países como Bolívia e Paraguai faz de Mato Grosso do Sul, naturalmente, um dos principais caminhos para a droga chegue a outros estados. Assim, a quantidade de drogas apreendidas no Estado está sempre entre as maiores do País.

MORTES PELO ESTADO

Matéria do Correio do Estado no mês passado mostrava que, de 1º de janeiro a 17 de fevereiro deste ano, 19 pessoas morreram em Mato Grosso do Sul ao entrarem em conflito com os agentes do Estado.

Esse foi o maior número de mortes por intervenção policial dos últimos 10 anos, levando em consideração os meses de janeiro e fevereiro.

Segundo o secretário, parte dessas mortes era de executores do tribunal do crime e de pistoleiros, que são responsáveis justamente pelo aumento das mortes em Campo Grande.

“Muitos que foram mortos em confronto com a polícia tinham a missão de assassinar pessoas que eram do crime. Porque, quando você mata um devedor, você recebe de quatro credores, então, é uma forma de pressionar os outros devedores a pagar. Teve um que morreu em um desses confrontos que descobrimos que matou sete desses aí, [e agora] o pistoleiro morreu”, declarou o secretário. (Colaborou Eduardo Miranda)

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO