Mato Grosso do Sul registrou 514 boletins de ocorrência por estupro entre 1º de janeiro e 28 de março. Entre as vítimas, 428 são crianças e adolescentes de 0 a 17 anos, o que corresponde a uma média de cinco abusos sexuais por dia, conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

Ao todo, foram 274 crianças e 154 adolescentes vítimas de estupro no Estado em 2023. Em Campo Grande, foram 110 registros, sendo 77 crianças e 33 adolescentes.

Neste ano, janeiro foi o mês que teve o maior número de casos de estupro cometidos contra crianças, com 104 ocorrências no Estado. No mês seguinte, foram registrados 91 casos.

Já no ano passado, o mês com mais denúncias de violência sexual infantil foi outubro, com 109 casos, seguido por julho, com 102 casos. Os meses de janeiro e maio registraram 96 casos cada.

Em relação às denúncias de estupro contra adolescentes, janeiro de 2023 também teve mais registros, com 70 notificações, já fevereiro teve 46 casos.

No ano passado, os meses que tiveram mais registros de abuso sexual contra adolescentes foram janeiro e julho, com 81 casos, seguidos por setembro, com 76 casos, e por junho e outubro, com 72 casos cada.

De 2019 a 2021, o número de boletins de estupro contra crianças apresentou ligeira queda. Em 2019, foram 1.229 registros de casos de violência sexual infantil, em 2020, foram 1.118 denúncias, e no ano seguinte, em 2021, 966 casos. Já em 2022, esse índice voltou a crescer, com 1.013 boletins feitos para relatar esse tipo de crime.

Em relação ao estupro de adolescentes, em 2019 foram 802 denúncias, em 2020, 676 boletins de ocorrência, enquanto em 2021 foram 800 registros. Em 2022, os registros voltaram a cair, com 696 ocorrências.

VÍTIMAS

Dados da Sejusp apontam que a maioria das vítimas de violência sexual é do sexo feminino. Em 2019, do total de 2.394 denúncias de estupro, 2.024 foram de mulheres, desde a infância até a fase adulta. Em 2020, do total de 2.154 boletins de ocorrência, 1.845 foram feitos por pessoas do sexo feminino.

Em 2021, o total foi de 2.147 registros de estupro, e 1.795 foram feitos por mulheres de todas as faixas etárias. Em 2022, o total foi de 2.013 denúncias, sendo 1.780 de pessoas do sexo feminino. Neste ano, o total de denúncias até o dia 23 de março foi de 475, sendo 445 registros feitos por mulheres.

Os homens também sofrem abuso sexual. Em 2019, foram 303 registros de estupro em que as vítimas eram do sexo masculino.

No ano seguinte, foram 240 notificações, e em 2021, 218 denúncias feitas por homens de todas as faixas etárias. No ano passado, 202 registros foram feitos, e 2023 conta com 61 casos até o dia 28 de março.

ASPECTOS PSICOLÓGICOS

Passar por uma situação de abuso sexual pode ocasionar uma série de problemas, como ansiedade, perda da autoestima, nervosismo, distúrbios do sono, obesidade, problemas educacionais, implicações e dificuldades na aprendizagem da criança.

A longo prazo, a criança e o adolescente podem desenvolver dificuldades com relacionamentos sexuais futuros. De acordo com a psicóloga clínica e hospitalar Cláudia Pinho, após passar por uma situação de abuso, algumas crianças podem passar a ter duas posturas opostas: uma de sempre solicitar carinho e atenção dos adultos, como abraços, e outra de repelir e evitar contato físico com adultos.

“Normalmente há um sentimento de culpa, a vítima não consegue discernir quem é o errado da situação, e ela [a criança] acaba se sentindo culpada pelo que aconteceu, e às vezes não conta porque sente essa culpa. Então, o sofrimento vai se transformando em uma bola de neve”, comenta a psicóloga.

No entanto, Cláudia alerta que os adultos devem ter cautela ao observar uma criança, pois é preciso investigar a possível situação de violência sofrida.

“Nós precisamos ler estes comportamentos com equilíbrio e responsabilidade, porque um sinal de abuso pode também ser sinal de outra situação ou violência na vida da criança e do adolescente. É preciso investigar se é depressão, ansiedade, bullying ou outra situação”, explica Pinho.

Entre os sinais de um possível abuso estão situações de comportamento sexual inadequado, que antes a criança não tinha, pesadelos noturnos, distúrbios do sono, muita tristeza, isolamento (mesmo daquela criança que era comunicativa), regressões, como voltar a fazer xixi na cama, medo de algum lugar ou situação e compulsão alimentar.

“Tudo que for extremo, que modifica demais o comportamento, gera alerta. Nem sempre a vítima consegue verbalizar, mas ela dá vários sinais [da violência sofrida]”, diz a psicóloga.

A vivência de uma situação de abuso é diferente para cada um. Pinho relata que algumas crianças que passam por essas situações camuflam o ocorrido como se fosse algo que não viveram, e isso é um mecanismo de defesa do cérebro.

“O importante é que essa emoção que fica precisa ser cuidada. É importante buscar terapia para trabalhar essa pressão interna da vergonha, da falta de proteção e do corpo invadido”, indica a psicóloga.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO