Na tarde desta segunda-feira (17) acontece a primeira audiência de instrução do caso Sophia, menina de 2 anos de idade que chegou morta à uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) há quase 3 meses, após ter sofrido agressões dentro de casa. A mãe, Stephanie de Jesus da Silva e o padrasto, Christian Campoçano Leitheim, são os principais suspeitos.

A audiência de instrução, que acontece nesta tarde, é um ato processual que serve, principalmente, para colher todas as provas das partes e depoimentos das testemunhas. Nesta primeira audiência, serão ouvidas seis testemunhas: o pai biológico da vítima, um investigador de Polícia Judiciária, pai e mãe de Stephanie, e uma ex-namorada de Christian.

Apesar de não prestar depoimento hoje, o padrasto da vítima se recusou a comparecer à audiência. Segundo seu advogado, Renato Franco, Christian – denunciado pela promotoria de justiça por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil e estupro de vulnerável – nega a autoria dos crimes.

“Em relação à suposta prática de crime de homicídio, há a apresentação de versões. Na versão dele, ele nega a questão do homicídio. E também em uma segunda parte, que também vai ser averiguada através dessa instrução no tribunal do júri, sobre uma suposta prática de estupro”, disse o advogado.

Ainda segundo Franco, a defesa de Christian aguarda o resultado da perícia para saber se houve ou não estupro de vulnerável cometido pela parte.

“A perícia já foi realizada, nós esperamos o resultado para que depois possamos dizer se houve ou não essa prática e se ela foi praticada pelo Cristian, que é o nosso assistido”, concluiu.

O caso

No dia 26 de janeiro de 2023, Stephanie de Jesus da Silva, de 25 anos, levou a pequena Sophia de Jesus Ocampo, de 2 anos, para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino, em Campo Grande. Segundo as enfermeiras que realizaram o primeiro atendimento, a menina já apresentava rigidez cadavérica quando chegou à unidade.

Posteriormente, a perícia constatou que a criança havia morrido 7 horas antes de chegar à UPA. O laudo necroscópico do Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol) indicou que Sophia morreu por um traumatismo na coluna causado por agressão física. Além das diversas lesões no corpo, a criança apresentava, ainda, sinais de estupro.

Conforme noticiado anteriormente pelo Correio do Estadomensagens trocadas entre a mãe de Sophia e o padrasto indicam que a dupla já sabia que a menina estava morta.

No diálogo que aconteceu no dia da morte de Sophia, por meio de um aplicativo de mensagens, Christian e Stephanie discutiam o que diriam para justificar o falecimento da criança.

Christian afirma para Stephanie que ele não tinha condições de cuidar das crianças e tiraria a própria vida, pois havia avisado que um dia eles dariam azar e que a companheira perderia todas as coisas dela.

“Eu não tenho condições de cuidar de filhos. […] Eu te avisei que sua vida ia ficar pior comigo, mas você não acreditou”, disse Leitheim à mãe de Sophia.

Na mesma conversa, o homem ainda diz que vai tirar a própria vida quando Stephanie o informa que Sophia está morta. As mensagens foram trocadas quando a mãe da menina estava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino, onde a criança já chegou sem vida.

“Tô saindo. Não vou levar o celular e nem identidade para, quando me acharem, demorar para reconhecer ainda. Desculpa, Stephanie, vou sair da sua vida”, afirmou em uma das mensagens trocadas com a namorada.

Ainda de acordo com o documento a que o Correio do Estado teve acesso, logo após dar a notícia da morte da criança, Stephanie conta que exames constataram que Sophia tinha sido estuprada. Esse fato foi relatado pela mãe à polícia quando prestou os primeiros esclarecimentos e confirmado por meio de laudo necroscópico.

“Disseram que ela foi estuprada”, disse Stephanie, ao que Christian respondeu: “Nunca. Isso é porque não sabem o que aconteceu com ela e querem culpar alguém. Sei que você não vai acreditar em mim”.

O padrasto completou: “Se você achar que é verdade, pode me mandar preso, pode fazer o que quiser”.

Durante o diálogo, ele ainda deixa a entender que não teria sido a primeira vez que Sophia havia sofrido algum tipo de agressão, já que ele disse para a mãe “inventar qualquer coisa” que justificasse os hematomas.

“Fala que se machucou no escorregador do parquinho, igual da outra vez”, sugeriu.

Em dois anos e sete meses de vida, Sophia já havia passado por pelo menos 30 atendimentos nas unidades de saúde. O laudo necroscópico indicou que a pequena Sophia morreu por um traumatismo na coluna causado por agressão física.

Stephanie de Jesus da Silva responde por homicídio doloso e omissão por motivo fútil, meio cruel, contra menor de 14 anos e está sendo assistida pela Defensoria Pública. Christian Campoçano Leitheim foi denunciado pela promotoria de justiça por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, meio cruel e contra menor de 14 anos, e estupro de vulnerável.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO