Inaugurada nesta terça-feira (30) a revitalização da Unidade Educacional de Internação (Unei) Dom Bosco contou com a mão de obra de 25 internos do Centro Penal Agroindustrial da Gameira (CPAIG), regime semiaberto de Campo Grande. Ao todo a revitalização teve um investimento de R$ 300 mil.
As obras tiveram início em julho do ano passado e terminaram em outubro do mesmo ano. A unidade masculina de regime semiaberto consistiu na reestruturação de três pavilhões, que abrangem 24 alojamentos e banheiros, além da parte elétrica e reconstrução das camas de concreto dos alojamentos.
Conforme o idealizador e coordenador do “Revitalizando a Educação com Liberdade”, Albino Coimbra Neto, já foram revitalizadas cerca de 14 escolas e repartições públicas. “Utilizamos essa mão de obra [dos internos] que já é utilizada em grande escala e gera economia e rapidez na execução da revitalização”, disse.
A última revitalização aconteceu na Escola Estadual Professora Joelina de Almeida Xavier, localizada no Jardim Guanabara, em Campo Grande. O projeto “Revitalizando a Educação com Liberdade” surgiu em 2014 e, em dez anos, rendeu uma economia de cerca de R$ 11 milhões ao Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.
“Essa reforma, por exemplo, foi custeada com o recurso dos presos que trabalham em regime semiaberto. Parte do salário deles foi utilizado na compra dos materiais, o Estado gastou apenas o salário mínimo de casa preso. O resto foi custeado pelo trabalho realizado por eles em regime semiaberto”, afirmou o coordenador.
De acordo com a desembargadora, Elizabete Anache, a revitalização é uma forma de demonstrar respeito, não só aos jovens internos, mas também a todos que frequentam a Unidade. “Nenhum adolescente entra aqui porque quer, a partir do momento que entram, nós do poder público, temos a responsabilidade de que saiam em situação melhor. Eu me lembro que a primeira vez que eu vim aqui na Unidade Dom Bosco, eu me deparei com uma situação em que não havia condição de conviver. A gente precisou dar um pouco de dignidade e respeito através da mudança”.
Oficina de grafite
De acordo com a consultora do Conselho Nacional de Justiça, Juliana Freitas, as oficinas de grafite foram uma forma de implementar o projeto de revitalização. “As oficinas de arte foram ministradas por turmas, toda semana elas tinham aulas sobre arte urbana, primeiro houve uma aula teórica seguida de técnicas de desenho, e depois, começaram, de fato a aplicar as técnicas de grafite e lambe-lambe nos muros da unidade”, explicou a consultora.
Para a superintendente de Assistência Socioeducativa, Tatiana Rezende Massar, o projeto é especial, não só para os socioeducandos, mas para todos que compõem a Unei Dom Bosco. Segundo ela, além da revitalização de toda a Unidade, a ação promoveu contato dos internos com diversas áreas.
“O curso de grafite trouxe esse contato dos adolescentes com a arte, valores, direitos, traços de socialização, união e também o trabalho com temáticas de grande importância, como esporte, lazer e cultura, como é possível ver nas pinturas. Foram ressaltadas as nossas raízes afro indígenas, então trouxe grande aprendizado e melhores condições para a unidade”, afirmou a superintendente.
Para o artista visual e um dos responsáveis por ministrar as oficinas de grafite, Victor Macaulin, a oficina foi dividida em três etapas: processo de elaboração da arte no papel, seguido pela pintura em tela e, por fim, pintura nos murais da Unidade.
“A arte é muito importante, a gente acaba sendo podado muito cedo por não ter acesso a cultura e a arte, então eles ficavam muito atentos nas oficinas prestando atenção”, contou o artista visual. “O desenho e a pintura é algo que a gente acaba perdendo o contato muito cedo logo na infância, e o grafite é uma cultura que eles se identificam”, explicou Macaulin.
As oficinas também foram ministradas pelo artista visual Leonardo Mareco, especializado na técnica de lambe-lambe (colagem de trabalhos artísticos em paredes e suportes urbanos).
Para o socioeducando, L., 17 anos, que cumpre a sua pena em regime de internação na Unei Dom Bosco, além de distrair, as oficinas ajudaram a pensar na vida fora da Unidade. “Os professores nos ensinaram muito, aprendemos sobre grafitagem e desenho. Trocaram muita ideia com nós, abriram nossa cabeça para um futuro melhor lá fora, procurar um emprego, ter uma vida digna”, afirmou o socioeducando.
FONTE: CORREIO DO ESTADO