O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, isentou a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) de participação na execução do narcotraficante Jorge Rafaat, que era líder do narcotráfico na fronteira e morreu em junho de 2016.

A afirmação consta em áudio inédito, captado durante banho de sol no presídio federal de Porto Velho e divulgado hoje (18) pelo Uol.

Na conversa, Beira-Mar responsabiliza Gerson Palermo pelo crime. Palermo é apontado como um dos principais traficantes do país e está foragido desde 2020, após ter sido beneficiado com decisão do desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, Divoncir Schneirer Marar, em 21 de abril de 2020, que, durante plantão de feriado, autorizou que o traficante, condenado a 126 anos de prisão, fosse colocado em prisão domiciliar com uso de tornozeleira.

Assim que saiu da prisão, ele rompeu a tornozeleira e fugiu.

Conforme reportagem do Correio do Estado, no dia 5 deste mês, o Conselho Nacional de Justiça decidiu e instaurar Processo Administrativo Disciplinar para investigar o desembargador.

Com relação aos áudios de Beira-Mar, a conversa foi gravada em som ambiente em julho de 2016, pouco após o crime, mas só foi divulgado agora.

Em conversa com o também traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, ambos apontados como as lideranças do Comando Vermelho, facção criminosa que domina o tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

Na conversa, Beira-Mar disse que o crime foi arquitetado por “Siciliano”, que segundo investigadores, é o apelido usado para se referir a Palermo, até então aliado de Rafaat, e que a execução estaria sendo atribuída equivocadamente ao PCC.

O Uol entrou em contato com os advogados de Beira-Mar e Marcinho VP, mas eles optaram por não se pronunciar sobre o áudio, já que o conteúdo não é alvo de processo criminal contra a dupla.

Confira o diálogo que consta no áudio:

Beira-Mar: Aí! O Siciliano não está mexendo com chá [tráfico de maconha, segundo os investigadores], né?
Marcinho VP: Não.
Beira-Mar: Lá [na fronteira entre Brasil e Paraguai], agora, tá o seguinte (…). Tem muita gente lá. Brasileiro lá tá igual mato. Tá, tipo assim, tem muito amigo nosso que tá (…). [O Siciliano está] morando lá muito mesmo e, fora nós [Comando Vermelho], deles tem muito lá. Mas é muito grande. Então, dá pra todo mundo viver lá. Cada um na sua lá, tá ligado?
Beira-Mar: Cara, é o seguinte. Eu não tenho nada contra ele. Ele me respeita e tal, quando eu estava lá. Mas é o seguinte: ele é comerciante, ele trabalha com quem compra dele. Seja 15 [em referência ao PCC], seja lá quem for. Ele trabalha, mas a informação que eu tive é que ele estava junto com o Siciliano e mais um S [Sérgio Lima dos Santos, condenado a 35 anos de prisão pelo assassinato do Rafaat]. Eles estavam junto na caminhada e se uniram lá, entendeu?
Marcinho VP: Nós estava [sic] ciente disso aí também e jogaram na conta dos [trecho incompreensível].
Beira-Mar: O Samura [Jorge Teófilo Samúdio Gonzalez, líder do Comando Vermelho preso desde março de 2021] falou pra mim como é que foi, contou que inclusive rodou um amigo. Um irmão nosso baleado lá, entendeu? Tá lá baleado, tá preso lá. Falou que o bagulho foi cinematográfico.
Beira-Mar: O que chegou pra gente é que ele se uniu com o S [Sérgio Lima dos Santos] e o Siciliano tomaram essa atitude. Mas quem levou a fama foi o pessoal do 15 [PCC], entendeu? Quem ganhou a fama de ter feito foi o pessoal do 15.
Marcinho VP: O Rafaat, quando eu cheguei lá [no Paraguai], ele trabalhava com negócio de pneu. Nem era bandido nessa época, ele trabalhava com negócio de pneu. Mas ele sempre teve sede de poder. E, depois que puxou uma cadeia lá, ele saiu da cadeia querendo dominar. Ele entrava no caminho dos outros, querendo cobrar pedágio. Eu não tinha inimizade com ele, não. Mas a postura dele era postura de alemão [inimigo].

Execução de Rafaat

Jorge Rafaat Toumani, apontado como um dos principais chefes do narcotráfico na fronteira, foi executado com armamento antiaereo em emboscada na noite de 15 de junho, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul.

Na ocasião, ele seguia para a casa depois de deixar seu escritório, quando teve o veículo abordado por uma caminhonete Toyota ocupada pelos pistoleiros. Os autores usaram uma metralhadora calibre .50 para perfurar a blindagem do jipe de Rafaat, matando-o na hora.

Houve intensa troca de tiros com os seguranças dele que vinham logo atrás. Nove pessoas foram presas. Oito delas seguranças de Rafaat.

Na ocasião, o único “rival” preso foi o brasileiro Sérgio Lima dos Santos, de 44 anos, baleado e abandonado pelo grupo em um hospital. Ele seria ligado ao Comando Vermelho e foi apontado como o atirador que operou arma antiaérea no ataque.

Em 2018, Sérgio Lima dos Santos foi condenado a 35 anos de prisão pela Justiça Paraguaia.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO