Após a apreensão no mês passado de 700 máquinas usadas para o jogo do bicho em Campo Grande, relatório aponta que um grupo de São Paulo é o responsável por todo o esquema de jogos de azar na Capital. Agora, a investigação apura quem são os membros dessa nova quadrilha.
O titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, teve acesso ao documento, que foi enviado para a delegada Ana Medina, do Departamento de Repressão
à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, e revela que o grupo passou a comandar o jogo do bicho após a prisão de Jamil Name e Jamil Name Filho, que eram os responsáveis pela contravenção.
O que ainda não se sabe é se a família Name vendeu o “ponto” para o grupo paulista ou se, após a prisão dos mandatários do jogo do bicho no Estado, a quadrilha aproveitou a “oportunidade” para se instalar na Capital. No interior de MS, ainda não é investigado se esse mesmo grupo paulista também é o responsável pelo esquema de jogos de azar.
A relação de grupos de fora com o jogo do bicho é algo relativamente novo. Segundo o especialista em Segurança Pública Edgar Marcon, geralmente esse tipo de contravenção é feito por grupos locais ou ligados a organizações criminosas do Rio de Janeiro, onde os jogos de azar são bastante comuns.
“O jogo do bicho é uma estrutura local”, comenta o especialista. Para não atrapalhar o andamento das investigações, não foi repassado mais detalhes sobre o grupo para a imprensa.
“Temos ótimos índices e uma média de quase uma operação a cada dois dias. Mas isso muitas vezes não é visto por esse trabalho ser sigiloso, mas que dá resultado. Tanto que somos um dos estados mais seguros do País e com índices de resolução de crimes acima de países de primeiro mundo”, comenta o delegado-geral da Polícia Civil de MS, Roberto Gurgel.
A atuação de grupos paulistas no jogo do bicho no Centro-Oeste já foi alvo de uma operação do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP). Em 2020, o MPSP deflagrou a Operação Sunset, cumprindo mandados de busca nas cidades de Marília, Ibitinga e Borborema, em São Paulo, e Dom Aquino, em Mato Grosso.
A investigação teve como alvo três organizações criminosas com sede em São Paulo, as quais promovem a lavagem de dinheiro proveniente do jogo do bicho realizado em dezenas de cidades paulistas e de outros estados.
APREENSÃO
No mês passado, a Polícia Civil apreendeu 700 máquinas de jogo do bicho no Bairro Monte Castelo, em Campo Grande.
A apreensão se deu durante o curso de uma outra investigação, a do sequestro de um servidor da Caixa Econômica Federal.
A Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) realizava a investigação sobre o servidor quando se deparou com um veículo que havia sido roubado em frente a uma casa.
Segundo os agentes, foi solicitado reforço policial, pois havia informações de que na residência estavam quatro homens armados.
O delegado Fábio Peró, do Garras, relatou à época que a equipe saiu do local por ter outra pista e que, ao retornar, o carro não estava mais em frente à casa. Foi quando os agentes resolveram tocar a campainha da residência. Ao entrarem, se depararam com as máquinas de jogo do bicho.
Os equipamentos, em sua maioria, eram novos e semelhantes a máquinas de cartão, utilizadas diariamente em qualquer comércio.
Mais moderno, atualmente o jogo do bicho tem usado a internet para expandir sua atuação. Tanto o jogo quanto o resultado saem em sites, em tempo real, havendo também jogos em diferentes horários.
No local, os policiais também encontraram 10 pessoas, entre elas dois militares, um sargento e um major da reserva, mas nenhuma delas assumiu a responsabilidade pela casa.
NAME
A família Name foi dona do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul durante anos. O poderio só acabou após a Operação Ormetà, que prendeu Jamil Name e Jamil Name Filho, conhecido como Jamilzinho, em setembro de 2019.
Além dos membros da família Name, o Garras e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) prenderam também outros membros da organização, que atuava como milícia armada e em crimes de pistolagem.
Jamil Name e Jamilzinho foram enviados para a Penitenciária Federal de Mossoró (RN), e o negócio do jogo do bicho ficou em aberto na Capital até a chegada do grupo paulista.
Em julho, Jamil Name Filho foi condenado a 23 anos e seis meses de prisão pelos crimes de homicídio qualificado e posse ilegal de arma de fogo, resultado da morte de Matheus Coutinho Xavier,
em abril de 2019.
Ao todo, Jamilzinho tem 46 anos e 10 meses de prisão, pois também já havia sido condenado por outros três crimes. Por sua vez, Jamil Name morreu em junho de 2021, em decorrência da Covid-19,
no mesmo presídio no Rio Grande do Norte.
SAIBA
A Operação Ormetà resultou em 19 ações penais realizadas pelo Gaeco. Atualmente, o Dracco é o responsável pelas investigações do atual grupo mandatário do jogo do bicho.
FONTE: CORREIO DO ESTADO