Após participar do ato da Democracia Inabalada no dia que marca exato um ano em que extremistas atentaram contra os Três Poderes, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) relembrou do governo Bolsonaro e afirmou que se o golpe tivesse sido concretizado ela teria que fugir do país.
Movimentações internas do governo Bolsonaro, que a senadora chegou a aventar no episódio do embate, quando disputou como candidata para a presidente da República, um “o senhor me respeite” que acabou virando meme seguido do pedido de aumento da segurança revelam a violência política.
“Eu realmente tenho medo. Tenho porque eu vi muita coisa, eu vi bastidores. [Durante o debate da presidência] falei: reforça minha segurança que vou começar a falar. Falei isso no primeiro debate porque estava com muito medo. Tem coisas que ainda não dá para falar”, pontuou Soraya.
E ainda relatou que se Bolsonaro tivesse dado o golpe de Estado teria que deixar o Brasil. “Eu ia ter que pedir asilo político em qualquer canto porque eles iam me trucidar se eles tivessem logrado êxito no golpe”, apontou Soraya.
Episódios que ela está trabalhando em um livro de bastidores da República. São relatos que descreve como ‘cortinas de fumaça’ criadas pelo governo anterior para encobrir situações. “Eu vi coisas e rompi com ele em 2019, porque eu vi a forma de lidar, a forma de agir. Apanhei muito deles, fui muito vítima deles”, contou a senadora.
O comportamento de Bolsonaro de hostilidade constante era acompanhado pela senadora no dia a dia. Até no atual governo Lula por parte de seus pares de casa, a oposição da extrema direira, que tentavam desestabilizá-la durante a CPMI, assim como a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Celebrar a democracia
Entendendo a importância do momento para a democracia brasileira, retornou recesso como fez da outra vez para participar da Democracia Inabalada. “Como vim da outra vez acompanhar [e encontrei] meu gabinete com duas vidraças quebradas, estava todo encharcado, eu fui ver e fiz o pedido da CPI. Trabalhei muito forte, para mim isso é muito sério. As pessoas precisam entender a gravidade porque eles tentam banalizar o tempo todo. E aquilo foi como o ministro Barroso disse hoje: teve método, foi engendrado, foi pensado, incitado, financiado”.
Para ela estar presente um ano depois que a democracia do país foi colocada em xeque, como parlamentar que presenciou a tentativa de golpe celebrar a vitória da democracia é fundamental. “Para mim isso é importante porque eu sei onde eu estaria. Sei o que passei”, e completou:
“Naquele momento não sabia como ia ser o governo Lula, não sabia como iriam agir no dia 8 daquela vez, não imaginava que o Flávio Dino teria a postura que teve. Não conhecia ninguém na atuação, então era um momento de insegurança e eu falei ‘meu Deus, que tempo que estamos vivendo’ e medo também dos extremistas de todos os lados. Porque eu sofri muita violência na campanha, mas a violência que sofri na campanha sempre veio pelo lado do Bolsonaro, nunca veio pelo lado do Lula e mais ninguém. Fui muito atacada por vários bolsonaristas. Minha família foi ameaçada por eles, foi muito grave”.
Delírio coletivo
A parlamentar acredita que o comportamento dos patriotas pode ser explicado por meio da teoria da Dissonância Cognitiva, livro do autor Cezar de Castro Rocha. O que envolveu todos que estavam acampados não apenas no QG de Brasília, mas em várias outras partes do país.
“Eles estavam nessa viagem [de golpe militar] só que o Bolsonaro é um covarde, né? Ele deu todos os indícios que ele iria fazer isso. Eu sempre fui contra até mesmo nos momentos de rua, a pessoa tinha o direito de levar o cartaz que fosse, tem até foto minha que tem gente segurando cartaz atrás. Eu nunca segurei. Eu falava assim: gente a Constituição, sou formada em direito, sempre falei, a Constituição não dá essa interpretação, isso está errado. De uma intervenção constitucional eles inventaram aquilo”, explicou Soraya.
Ao ponto de terem planejado no dia 24 de dezembro de 2022 explodir um caminhão nas imediações do aeroporto da Capital do país. O tema foi debatido na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) em que a senadora foi a única representante de Mato Grosso do Sul.
A senadora frisou que a bomba chegou a ser acionada e eles tinham um peru no acampamento para celebrar as mortes. Não apenas isso, o filho dela estava chegando em Brasília na data do ocorrido.
“O meu filho estava chegando naquele dia, naquela manhã em que [o dispositivo] foi acionado”, disse Soraya e complementou:
“Eles iam comemorar a noite de Natal. Eles marcaram o dia, iam voltar para o QG e estavam com o peru assando para comemorar a morte de quantas pessoas. Tem cabimento um negócio desses?”
A última sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) encerrou no dia 18 de outubro quando aprovaram o relatório final da senadora Eliziane Gama (PSD-MS) por 20 votos favoráveis, 11 contrários e 1 abstenção.
O relatório pediu o indiciamento de 61 pessoas por crimes como associação criminosa, violência política, abolição do Estado Democrático de Direito e Golpe de Estado. O ex-presidente Jair Bolsonaro e seus ex-ministros do governo:
- Walter Braga Neto – da Defesa
- Augusto Heleno – Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
- Anderson Torres – Justiça
O relatório também pediu o indiciamento da deputada federal Carla Zambeli (PL-SP) do GSI assim como integrantes da Polícia Militar do Distrito Federal, empresários acusados de financiar os manifestantes.
Fonte: Correio do Estado