Não bastasse a enxurrada de reclamações por causa de uma série de erros na elaboração da prova, agora a Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura) está sendo alvo de milhares de reclamações pelo fato de ter zerado a nota de cerca de 50% dos 12,5 mil candidatos que fizeram a redação na prova presencial do vestibular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), no dia 3 de dezembro de 2023.

E, para piorar, os candidatos têm somente até 23 horas 59 minutos (MS) deste domingo (14) para entrar com recurso e tentar reverter a situação. E, por ironia ou para confirmar que os insatisfeitos realmente têm razão ao reclamarem, o edital que deu cerca de seis mil zeros está com um erro gramatical perceptível até por alguém sem nenhuma especialização em gramática.

Além de ter dado zero a cerca de 6 mil concorrentes, nenhum candidato conseguiu nota máxima. Os mais bem colocados, conforme rápida análise do edital publicado na quinta-feira (11), foram duas notas com 950 pontos e uma, com 925. Também aparecem alguns candidatos com 900 e outros, com 875 pontos.

E a grande quantidade de zeros não é a única reclamação. Cerca de três mil concorrentes fizeram a redação on-line. Além de tema diferente, os revisores foram outros. E por conta disso, os candidatos alegam que está havendo disputa desigual, já que a média da nota das redações corrigidas por esta outra equipe seria bem superior.

Para os concorrentes que fizeram a prova presencial, o tema foi “O Direito às artes como direito à condição humana”. Quem fez a prova digital teve de discorrer sobre “filtros em redes sociais: regulamentar o uso ou conscientizar a população sobre os malefícios que eles podem gerar?”

Em nota, a Fapec atribuiu os mais de seis mil zeros “ao não cumprimento, ou cumprimento parcial, dos cinco critérios básicos para a redação, que são: adequação temática; organização e progressão textual; estrutura e desenvolvimento do texto dissertativo-argumentativo; aspectos de coesão e coerência do texto; e emprego da norma padrão da Língua Portuguesa”.

Professores de cursinhos e de escolas do ensino médio defendem uma revisão em massa ou até mesmo anulação total das notas de redação, já que estão prevendo uma enxurrada de recursos e, acreditam, não haverá tempo hábil para análise destes recursos, já que a previsão é de que o resultado final seja divulgado no próximo dia 26.

Conforme o site da UFMS, uma equipe da Fapec está de plantão “e disponibiliza, pelo WhatsApp, um canal para tira-dúvidas pelo número (67) 99925-9405. Os telefones fixos também estão disponíveis, são eles: (67) 3345-5900; (67) 3345-5910; ou (67) 3345-5915. Candidatos também podem entrar em contato pelo e-mail concurso@fapec.org.”

“NÃO SERÃO ADMITIDO RECURSO”

E, não será qualquer tipo de recurso que será aceito. O próprio edital já diz que “o recurso administrativo deverá conter relatório e motivação, sob pena de não conhecimento”. E, “não serão admitido recurso administrativo voltado exclusivamente à simples revisão ou majoração da nota atribuída”.

E aqui está a “ironia” desta polêmica toda. Os mesmos educadores que deram 6 mil zeros cometem erro básico de concordância no edital em que alertam sobre a fundamentação dos recursos. “Não será admitido recurso”, seria o correto. Ou, “não serão admitidos recursos”.

Erros como esses (pelo menos 14) já haviam sido alvo de reclamações logo após a realização das provas. Estudantes e educadores chegaram a lotar o plenário da Câmara de Vereadores no dia 7 de dezembro, quatro dias depois da aplicação das provas do vestibular.

Depois daquela onda de protestos, o comando da Fapec chegou a anunciar que adotaria mais uma etapa de revisão antes da aplicação das provas.

Fonte: Correio do Estado