Um transporte malsucedido de cocaína de Mato Grosso do Sul para São Paulo, organizado pela organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), demonstra que o Estado se consolidou como centro de logística do tráfico, com operadores da distribuição de drogas residindo em cidades como Campo Grande, Dourados e Ponta Porã.

O desfecho de um carregamento de centenas de quilos de cocaína que deixou a fronteira no ano passado para ser reenviado de Dourados e Campo Grande para São Paulo (SP) foi duplamente trágico, e o episódio violento mais recente ocorreu neste fim de semana: o assassinato de Eliston Aparecido Pereira da Silva, em frente à casa dele, na manhã de sábado, no Bairro Santa Fé, em Dourados.

Eliston, que, de acordo com a Polícia Civil, era operador do tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul, uma espécie de encarregado de transporte responsável pela logística de alguns carregamentos, foi morto por integrantes do PCC por ter falhado em um despacho: 200 quilos de cocaína que estavam sob sua responsabilidade foram apreendidos pela Polícia Civil em julho do ano passado.

Droga maldita

A cocaína, que entrou em Mato Grosso do Sul via Ponta Porã, cidade vizinha da paraguaia Pedro Juan Caballero (onde o PCC mantém um de seus centros logísticos), estava destinada a se voltar contra os agentes locais da facção.

O carregamento foi repartido em dois ao entrar em Mato Grosso do Sul na época. Eliston ficou com os 200 kg que seriam despachados via Dourados, e o restante foi levado para Campo Grande.

No caso do carregamento da Capital, integrantes da facção tentaram aplicar um golpe no PCC e acabaram assassinados por seus “irmãos”.

Em 24 de julho do ano passado, Thiago Brumatti Palermo, de 30 anos, e Marcelo dos Santos Vieira, de 45 anos, tiveram seus cadáveres completamente carbonizados encontrados dentro de um carro, em um terreno aberto, atrás do Aeroporto Internacional de Campo Grande, perto do Bairro São Conrado.

Foi necessário um exame de DNA para identificar as duas vítimas de assassinato. Depois da identificação, a polícia chegou com facilidade aos responsáveis pela execução: integrantes do PCC.

Thiago e Marcelo teriam trocado parte dos tabletes de cocaína que seriam levados para São Paulo por gesso e massa corrida. A intenção deles era vender a droga por conta própria. Eles foram julgados pela facção, pelo chamado “tribunal do crime”.

Por vídeoconferência, Thiago foi enforcado e teve seu corpo jogado no bagageiro do carro incendiado. Marcelo, segundo a investigação, acabou queimado vivo na ocasião. Ele não conseguiu escapar porque estava com mãos e pés atados.

Pistoleiros presos

No crime deste fim de semana, em Dourados, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul agiu rápido para prender dois dos pistoleiros do PCC envolvidos na execução de Eliston Aparecido Pereira da Silva.

Os criminosos também não fizeram muita força para apagar os rastros. Deixaram balaclava e ferramentas utilizadas na execução no Volkswagen Fox comprado exclusivamente para a empreitada.

A vítima foi assassinada quando chegava em casa, depois de ter deixado seu cachorro em um pet shop para tomar banho. Eliston ainda estava dentro de sua Fiat Toro quando foi surpreendido. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital Santa Rita.

A namorada de Eliston, que estava dentro de casa, tentou usar a pistola 9 mm Glock que ele tinha para revidar. Houve tiroteio, mas os pistoleiros fugiram para um local próximo.

Os executores abandonaram o Fox prata perto do hotel onde estavam hospedados. Com imagens das câmeras de vários estabelecimentos, foi fácil para os policiais identificar os envolvidos na execução.

Alguns dos envolvidos, que, segundo a polícia, estavam em um Fiat Bravo, voltaram para Ponta Porã.

Outros dois, Ígor Granco Ortiz, nascido no Brasil, e Fábio Armindo Cabral Irala, de nacionalidade paraguaia, embarcaram em um ônibus da Viação Motta rumo a São Paulo e foram presos ao chegarem no Terminal da Barra Funda, na capital paulista, na manhã de domingo.

Eles foram presos assim que desembarcaram e ontem foram transferidos para Dourados.

A investigação continua, mas a polícia local sabe que o PCC permanece operando na rota do tráfico do Paraguai para a Região Sudeste e os portos, com “soldados” que residem em Mato Grosso do Sul e que levam uma vida sem levantar suspeitas em bairros de classe média, como a que Eliston, executado em Dourados, levava.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO