A Polícia Civil apura se a morte de Rodrigo Crespo, assassinado a tiros no último dia 26 no centro do Rio de Janeiro, está ligada a um plano dele de se envolver com cassinos onlines. Em depoimento, a namorada da vítima afirmou que ele queria abrir negócios no ramo de apostas e procurava por um “operador”. Um suposto envolvido no assassinato foi preso nesta terça-feira (5).

Agentes da Delegacia de Homicídios da Capital prenderam Cezar Daniel Mondego de Souza, suspeito de envolvimento na morte do advogado. O suspeito preso trabalhava na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) como assessor do Departamento de Patrimônio da Casa, com salário de R$ 6 mil. No dia 29 de fevereiro ele foi exonerado do cargo, mas na segunda (4), a exoneração foi suspensa e ele retornaria à Alerj nesta terça.

Crespo foi morto na porta da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). No crime, foram efetuados 18 disparos, segundo a perícia.

Nesta segunda-feira (4), uma operação tentou prender dois suspeitos de envolvimento no crime. O policial militar Leandro Machado da Silva, do 15º BPM (Duque de Caxias), e Eduardo Sobreira Moraes, segurança da escola de samba Portela, estão sendo procurados e já são considerados foragidos.

De acordo com a Polícia Civil, Moraes monitorou a vítima por dias antes do crime, inclusive o vigiou desde que saiu de casa, na Lagoa, zona sul do Rio. Para a vigilância, ele usava um carro Gol branco similar ao utilizado no crime.

Já o policial militar teria sido o responsável por alugar os veículos usados no crime. Ele já foi investigado, de acordo com a polícia, por outro homicídio e por integrar grupo paramilitar com atuação em Duque de Caxias.

Em nota, a Polícia Militar informou que a Corregedoria da corporação apoia a operação. Sobre o policial, disse que “o envolvido já estava afastado do serviço nas ruas, pois responde a um outro inquérito por participação em organização criminosa, tendo sido preso preventivamente em abril de 2021”, disse.

A PM também afirmou que “já havia instaurado um Procedimento Administrativo Disciplinar em relação ao policial, que pode culminar com sua exclusão das fileiras da corporação”.

A reportagem não encontrou a defesa de Moraes. Em depoimento, um familiar afirmou que ele saiu de casa durante um churrasco no final de semana e não retornou.

No depoimento, a namorada de Crespo afirmou que ele “estaria arrecadando fundos para abrir um novo negócio, mas que faltava encontrar o operador; que Rodrigo estava começando a advogar para clientes vinculados com jogos de cassino online”.

Ela também afirmou que o advogado já havia encontrado pessoas para investir financeiramente no novo negócio e que havia viajado para São Paulo algumas vezes para tratar de assuntos relacionados a cassinos.

O advogado, segundo a namorada, enfrentava problemas financeiros e teria vendido seu carro para pagar contas.

A suspeita da motivação é reforçada pelo fato de o policial militar suspeito de envolvimento no crime alugar carros em uma concessionária da zona oeste para Vinícius Drumond, filho do contraventor Luizinho Drumond. O “capo do bicho”, como a polícia o qualifica no inquérito, morreu em 2020.

Um dos carros utilizados pelo policial para o crime foi alugado nessa condição, afirmou o gerente da locadora em depoimento. A reportagem procurou Vinícius, que disse que se manifestaria por intermédio de sua defesa.

Seu advogado, Carlos Lube, afirmou, em nota, que seu cliente “nunca, jamais, em tempo algum manteve vínculo, seja profissional ou pessoal, e sequer conhece o policial militar Leandro Machado da Silva, razão pela qual é falsa a alegação de que essa pessoa seria seu chefe de segurança”.

Na mesma nota, afirma que seu cliente não “consegue vislumbrar qualquer possível ligação com o advogado Rodrigo Crespo” e “rechaça veementemente qualquer suposição de possível ligação com o brutal assassinato”.

Nas notas fiscais dos carros alugados pelo policial há diversas menções ao jogo do bicho, como apontamentos dos aluguéis realizados para “segurança caxias”, “zoológico” e “Vinícius zoológico”.

De acordo com o depoimento do gerente da locadora, foi o próprio Vinícius quem apresentou o policial a ele. Além disso, os carros seriam alugados para o recolhimento dos lucros do jogo do bicho em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

“Foi constatado uma ligação muito próxima entre o Vinícius Drumond e os envolvidos na execução. E também o Vinícius durante as diligências ligava insistentemente para algumas pessoas ligadas à locadora, então havia indícios no entendimento das autoridades que conduziram o inquérito policial de que ele poderia estar de alguma forma envolvido com aquelas pessoas no período da execução”, afirmou o delegado Rômulo Assis, da Delegacia de Homicídios.

Com as novas informações, a polícia afirma ter descartado a ligação da atividade advocatícia da vítima com o motivo para o crime.

A polícia solicitou busca e apreensão em dois imóveis de Vinícius, um localizado em Botafogo, na zona sul, outro na Barra da Tijuca, na zona oeste, mas a Justiça indeferiu o pedido.

Também foram realizadas buscas em endereços ligados ao policial foragido e ao segurança da Portela, que teria vigiado a vítima por, pelo menos, três dias.

Imagens de câmeras de segurança flagraram, de acordo com a polícia, Moraes na rua onde o advogado Rodrigo Crespo morava, na Lagoa, zona sul do Rio. De acordo com a investigação, Moraes, de blusa preta, aparece atravessando a rua e entrando em um Gol branco. A ação ocorre no mesmo momento em que Crespo entra em um carro de aplicativo, para ir ao trabalho, por volta das 9h da manhã do dia do crime.

O ataque ocorreu por volta das 17h, quando Crespo desceu do prédio em que funciona o escritório do qual era sócio para fazer um lanche. Imagens de câmeras de segurança mostram quando um carro branco se aproxima do local, parando em fila dupla.
Na sequência, o autor dos disparos desce do veículo e caminha pela calçada na direção do advogado. Já bem perto de Crespo, o atirador o chama pelo nome e faz os primeiros disparos.

Depois de cair no chão, a vítima foi baleada mais vezes, até que o suspeito volta para o veículo que esperava de porta aberta e foge. Toda a ação durou menos de 15 segundos.

A polícia continua as investigações para identificar mais envolvidos no caso.

 

FONTE: CORREIO DO ESTADO