A Comissão Permanente de Educação da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) recebeu na tarde desta terça-feira (2) professores da rede estadual e de duas universidades, que apresentaram projetos educacionais de tecnologia e antirracista, desenvolvidos com alunos da educação básica. Os educadores foram recebidos pelo deputado Professor Rinaldo Modesto (Podemos) e pela deputada Gleice Jane (PT). A reunião, realizada na Sala Deputado Cabo Almi, na Casa de Leis, contou com a participação do secretário estadual de Educação, Hélio Queiroz Daher.
Durante o encontro, os parlamentares e o secretário receberam informações gerais sobre os projetos e demandas dos educadores para seu fortalecimento e continuidade das ações. Um dos projetos é o Quantum LAB – Laboratório de Educação, Popularização e Desenvolvimento em Ciência, Tecnologia e Inovação “Vitor de Samuel Salomone Bittencourt”, realizado pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems) em parceria com a Escola Estadual Floriano Viegas Machado. O outro projeto, desenvolvido pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), é o Território de Escrivivência, iniciativa antirracista com ações realizadas a partir de obras de Carolina Maria de Jesus, sobretudo o “Quarto de despejo: Diário de uma favelada”.
O presidente da Comissão de Educação, deputado Professor Rinaldo, destacou a importância da ALEMS receber professores para discutir projetos que tratam sobre os temas antirracismo e tecnologia. “Nós vivemos em um mundo em que é preciso atuar na perspectiva da promoção da igualdade, da tolerância. Também não há como dissociar a educação da tecnologia. E o Brasil ainda está muito distante nesse quesito tão importante. Uma cidade, um Estado que não investe em tecnologia, junto com a ciência e a educação, ficam para trás”, comentou o parlamentar.
Para a deputada Gleice Jane, titular da Comissão e propositora da reunião, apoiar projetos como os tratados no encontro desta tarde é necessário e relevante, por estreitar as relações entre educação básica e universidade. “A gente tem acompanhado os projetos que têm relação da educação básica com a universidade. Eu sou professora e acompanho esse trabalho há algum tempo e sei da importância que é a relação entre a universidade e a educação básica”, disse. “São fundamentais essas parcerias entre as universidades, a Secretaria de Educação e nós, da Comissão de Educação”, acrescentou.
Tecnologia na educação básica em parceria com a universidade
Durante a reunião, professores universitários e do Ensino Médio da rede estadual, que participam do projeto Quantum LAB, trouxeram proposta para fortalecimento da iniciativa, visando cooperação técnica e apoio financeiro do Governo do Estado. O objetivo é a regulamentação do projeto para que seja assegurada sua continuidade. Entre outras demandas, os professores reivindicaram auxílio em recursos, como pagamento de substituto, para que possam desenvolver ações relativas ao Quantum LAB.
Coordenadora do projeto, a professora Cecília Maria do Nascimento informou detalhes da iniciativa. “Desde 2018, a Uems atua com a Escola Estadual Floriano Viegas Machado. O projeto é realizado em um espaço de robótica dessa escola. A ideia é que os alunos possam, na educação básica, discutir ciência e tecnologia, compreender quais são esses processos, como a tecnologia nos impacta”, explicou.
A professora também falou sobre a busca de parcerias e apoios para que os envolvidos no projeto Quantum LAB possam participar da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), que será realizada em junho, em Brasília. “Queremos ciência para a educação básica, mas também queremos pensar no que o Brasil vem construindo nos últimos anos, que é justamente o tema da Conferência deste ano [Ciência, Tecnologia e Inovação para um Brasil Justo, Sustentável e Desenvolvido]. E a gente espera levar o que a comunidade escolar e a comunidade acadêmica pensam. Queremos nossa comunidade nos representando lá em Brasília”, acrescentou.
Literatura e arte no enfrentamento ao racismo
Mulher, negra e favelada, Carolina Maria de Jesus (1914-1977) é uma escritora brasileira com obras traduzidas para diversos países, mas pouco conhecida no Brasil. Com o objetivo de tornar essa autora mais conhecida e combater o racismo e a invisibilidade dos negros, a UFGD desenvolve o projeto Território de Escrivivência, conforme informou a professora Claudia Marques Ramos, coordenadora da iniciativa.
“Nosso projeto busca realizar ações antirracistas, trabalhando com Carolina Maria de Jesus nas escolas, através de oficinas de rap, audiovisual, corpo, fotografia, teatro, para colocar o aluno na produção do conhecimento”, disse Claudia Ramos. Ela enfatizou que Carolina Maria de Jesus é pouco conhecida pelos brasileiros, mesmo sendo autora de um livro traduzido para 16 idiomas. “Se eu falo, por exemplo, Clarice Lispector, as pessoas lembram, mas quando eu falo de Carolina Maria de Jesus, quem lembra?”, questionou, enfatizando a invisibilidade dos negros no Brasil.
Segundo detalhou a professora, o projeto desenvolve diversas ações nas escolas, como leituras coletivas do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, produção de música, teatro, oficinas de fotografia, de expressão corporal e debates sobre temas apresentados por Carolina Maria de Jesus em seu livro, como violência, fome, desigualdade social e racismo. O projeto é transdisciplinar, com participação de diversas áreas, como Geografia, Ciências Sociais, Psicologia e Artes Cênicas.
A professora Claudia afirmou ser importante o apoio da Secretaria de Educação para o fortalecimento das ações do projeto.
O secretário ouviu as demandas e as comentou. Ficou acordada a necessidade de outra reunião para que os assuntos sejam retomados e delineadas ações com apoio da Secretaria de Educação e participação da Comissão Permanente de Educação.