O Ministério Público Federal (MPF) apresentou denúncia contra 14 pessoas investigadas por envolvimento em uma organização criminosa especializada em tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro, que movimentou mais de R$ 100 milhões ao longo de quatro anos.

A denúncia é resultado da Operação Prime, que teve início no final de 2020 e se estendeu até maio deste ano, concentrando-se principalmente entre os municípios de Dourados, a 225 quilômetros de Campo Grande, e Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

O esquema era liderado por dois irmãos influentes na região, que utilizavam uma luxuosa loja de acabamentos de construção civil como fachada para a lavagem de dinheiro. De acordo com o MPF, a organização criminosa mantinha contatos com grupos independentes e até com o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo.

A transnacionalidade do esquema também foi evidenciada por transações financeiras feitas por meio de doleiros paraguaios e do tráfico de drogas vindas de países como Peru, Bolívia e Paraguai. Parte dos recursos ilícitos era enviada ao Paraguai, sendo entregue em casas de câmbio em Pedro Juan Caballero.

Os irmãos usavam essas casas de câmbio para injetar dinheiro sujo nas empresas que controlavam, pagar fornecedores de drogas e adquirir bens. Um dos líderes já estava preso por tráfico de drogas, resultado da Operação Enigma, deflagrada em 2017.

O esquema envolvia pelo menos nove empresas, incluindo quatro construtoras e uma transportadora. As investigações indicaram que a organização operava com dois núcleos principais: lavagem de dinheiro e logística. Entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, a polícia apreendeu três cargas de cocaína pertencentes ao grupo, totalizando cerca de meia tonelada.

Entre os denunciados está a proprietária de um escritório de contabilidade em Dourados, responsável por ocultar a origem ilegal dos recursos, além de fraudar dados contábeis e fiscais das empresas dos irmãos. Os investigados viviam um estilo de vida luxuoso, possuindo diversos imóveis, veículos de alto valor, empresas e criação de gado. A operação também resultou na prisão do proprietário de uma loja de armas em Dourados, que já havia sido alvo de outras investigações criminais.

As operações Sordidum e Prime, deflagradas pela Polícia Federal em maio deste ano, desmantelaram três organizações criminosas que atuavam principalmente em Mato Grosso do Sul. Durante a operação, foram cumpridos 64 mandados de busca e apreensão, 25 de prisão preventiva e 11 de prisão temporária em vários estados, além do sequestro de 90 imóveis e o bloqueio de bens e valores de cerca de 80 pessoas e empresas envolvidas no esquema. Ao longo de três anos, os grupos investigados transportaram pelo menos seis toneladas de cocaína para países da América Central.

Durante as ações, a polícia apreendeu celulares, computadores e documentos, incluindo planilhas que, junto aos áudios obtidos em interceptações telefônicas, revelaram o poder financeiro da organização criminosa, seus contatos no Brasil e em países vizinhos, especialmente no Paraguai, e um intrincado esquema de lavagem de dinheiro.

Empresário preso

O empresário Claudinei Tolentino Marques, de 42 anos, foi um dos presos em Dourados durante as operações Sordidum e Prime, conduzidas pela Polícia Federal (PF) em Mato Grosso do Sul e em outros dez estados, acusado de envolvimento com tráfico internacional de drogas e armas. A defesa de Claudinei, porém, nega as acusações, alegando que Claudinei “apenas vendeu carros” para investigados da PF.

Claudinei é proprietário da Referência Construtora e Incorporadora, situada na Avenida Dom Redovino Rizzardo, em uma área de condomínios de luxo na cidade. Tanto sua empresa quanto sua residência foram alvos de mandados de busca e apreensão durante a operação.

A defesa de Claudinei, representada pelo advogado Luiz Gustavo Battaglin Maciel, afirmou em comunicado à imprensa que ele foi incluído nas investigações devido à venda de dois veículos a pessoas suspeitas de integrar uma organização criminosa envolvida no tráfico de pelo menos seis toneladas de cocaína ao longo de três anos.

 

FONTE: MS NOTICIAS