O governo do Estado iniciou ontem nova caminhada para a concessão das rodovias integrantes da Rota da Celulose em Mato Grosso do Sul. Com alguns ajustes no edital, o novo projeto pode enfrentar um cenário “ainda mais desafiador” que o de dezembro, quando o certame terminou deserto.
A licitação vai ser uma entre dezenas apresentadas pelo governo federal, assim como ocorreu no ano passado, porém, segundo a secretária especial do Escritório de Parcerias Estratégicas (EPE) de Mato Grosso do Sul, Eliane Detoni, neste ano, alguns fatores contribuem para que o desafio seja ainda maior que o de 2024. Entretanto, ela se mostra confiante para um resultado positivo dessa vez.
“A gente está em um cenário muito mais desafiador do que a gente estava em 2024, porque a gente tem no primeiro momento uma condição macroeconômica que não é muito favorável, então isso aumenta o risco para o investidor, para o financiador. E também, por outro lado, a gente vai ter novamente uma oferta de muitos projetos de concessão rodoviária no mercado, como aconteceu no ano passado, talvez até mais intensificada do que a gente teve no ano passado”, declarou Eliane ao Correio do Estado.
“Ainda que a gente tenha esse ambiente, esse cenário macroeconômico bastante desafiador, e também acho que a gente vai ter concorrência, mas o projeto está bastante atrativo, está muito equilibrado. Então, eu não tenho dúvidas de que a gente está apresentando agora um projeto que vai atrair o mercado”, completou Eliane.
Conforme o novo projeto apresentado ao mercado, o investimento na rodovia será de R$ 10 bilhões, um pouco maior que o projeto anterior, que previa R$ 8,8 bilhões. Porém, as obras foram postas de forma mais espaçada, dando, assim, uma suavizada nos investimentos que estavam previstos para ocorrer a partir do segundo ano do contrato.
“A gente tinha um volume muito grande, um escopo de projeto para cumprir bastante desafiador, porque as conversas que a gente teve com o mercado, no ano passado e agora no começo deste ano, foi para entender um pouquinho do lado deles, quais eram os principais aspectos que tinham pesado na decisão de não terem participado naquele primeiro momento. Então, a gente revisitou a demanda do projeto. O que a gente fez foi distribuir melhor esses investimentos que estavam muito concentrados nos primeiros anos, e esse foi um ponto trazido por todos os investidores”, explicou.
Um exemplo dessa mudança está na duplicação de um trecho de 31,4 quilômetros prevista para ser realizada em Três Lagoas entre o sexto e o sétimo ano do contrato. Agora, essa melhora na rodovia será realizada, segundo Eliane, a partir do momento que houver necessidade, a partir do aumento do fluxo de veículos na região.
“Nós mantivemos o trecho de duplicação de Arapuá, que é Três Lagoas-Arapuá, só que a gente colocou isso dentro de um mecanismo engatilhado. Ou seja, ele atingindo um volume de tráfego, ele entra para o gatilho e, aí sim, ele vai ser duplicado. Esse mecanismo existe no contrato como um todo, você vai monitorando e, claro, ele precisa cumprir com alguns critérios e detectar esse aumento de demanda nessas rodovias, aí tem uma série de investimentos que precisarão ser feitos, como terceira faixa ou duplicação”, declarou.
No projeto apresentado ontem estão previstos 115 km em duplicações, 457 km de acostamentos, 245 km de terceiras faixas, 12 km de marginais, implantação de 38 km em contornos de municípios, 62 dispositivos em nível, 4 dispositivos em desnível, 25 acessos, 22 passagens de fauna, 20 alargamentos de pontes e implantação de 3.780,00 m² de obras de arte especiais. E todos os 870,3 km da concessão passam a ter 100% de acostamento.
TAXA DE RETORNO
Um dos entraves para o mercado no ano passado, segundo mostrou reportagens do Correio do Estado, foi justamente a taxa de juros alta no País, valor que era maior que a taxa de retorno do investimento.
No ano passado, a Selic – a taxa de juros do Banco Central (BC) – subiu 1% em dezembro, atingindo 12,75% ao ano.
O conjunto de rodovias de MS estava oferecendo às empresas interessadas uma taxa interna de retorno do investimento (TIR) de 10,37% ao ano, a qual foi calculada em abril do ano passado.
À época, o horizonte no médio prazo para os juros da economia brasileira era bem mais otimista, com a possibilidade de a taxa Selic voltar a ser de apenas um dígito (menos de 10%) já em 2026. Contudo, a expectativa de redução na curva dos juros foi prorrogada por, pelo menos, mais um ano, para 2027.
Na quarta-feira, o Conselho Nacional de Política Monetária (Copom) do BC aumentou a Selic em um ponto porcentual, atingindo 13,25% ao ano. No novo projeto da Rota de Celulose, porém, também houve reajuste no TIR, que subiu para 11,41%.
“Alinhada, vamos dizer assim, a esse momento [do mercado], e está muito condizente com outros projetos que estão sendo ofertados, tanto do governo federal quanto de outros estados. Então, isso, com certeza, vai ser um ponto bastante relevante para aumentar a atratividade do projeto”, avalia a secretária.
LEILÃO
De acordo com o governo do Estado, a entrega das propostas para o novo edital de licitação da Rota da Celulose será realizada no dia 5 de maio na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. A abertura das propostas está marcada para o dia 8 do mesmo mês.
Ontem foi publicado o aviso de licitação no Diário Oficial do Estado (DOE), e as mudanças do edital estão publicadas no site do EPE.
FONTE: CORREIO DO ESTADO